Saturday, February 28, 2009

A MARTA DO ASTÓRIA

Coisas da Arcada e do Astória-II

A Marta do "Astória". Voltei a vê-la hoje na estação da CP de Braga. Não me viu. E eu passei ao lado. Timidez. Estava acompanhada. E tudo isto no dia em que o Amaral me publicou a apologia de Braga e do "Astória" no blogue. A Marta. Tão querida, a voz doce, as pernas, as coxas, a minissaia. E eu, sentado à mesa vidrado, a escrever poemas. "Chegar e Beber", "Filme", "Trip na Arcada". Ofereci-lhe e dediquei-lhe alguns.
Também tivemos as nossas trips. Uma vez expulsou-me do "Astória". Estava alcoólico. Agora não bebo por causa dos intestinos. A Marta do "Astória".

MOTINA


Regresso à "Motina"
para estudar alemão
as empregadas são simpáticas
passo muito tempo na cama
o livro já está pronto
vai ser apresentado desta quarta a oito
no "Púcaros"
ontem tive sintomas de depressão
mais tarde ou mais cedo
ela viria
desde Agosto que estava em cima
é a doença que não perdoa
talvez com esta coisa do livro
consiga disfarçar alguma coisa
lembro-me dos velhos amigos
aqueles com quem estou só de vez em quando
a falta que sinto deles
como te compreendo, Gotucha,
este mundo é uma merda.

Thursday, February 26, 2009

A D. Rosa elogiou o meu corte de cabelo e barbas
a D. Maria traz-me o café
o barbeiro continua a simpatizar comigo
e conta-me a vida
a música passa suave na rádio
aparentemente levo uma vida de príncipe
sem quebras nem depressões
nas "Dunas".

O CU DA EMPREGADA DO QUIOSQUE


O cu da empregada do quiosque
ai, o cu da empregada do quiosque
faz-me sonhar
e já não penso no Rocha
nem na análise exaustiva
do último jogo do FCP
e deixei de estar triste
e deixei de estar abatido
com o cu da empregada do quiosque.

Tuesday, February 24, 2009


COmeça a falhar a tendência para a escrita que vem de há meses. Perdi a facilidade de deslizar com a caneta. Já não é qualquer coisa que me faz escrever. A Gotucha está longe e triste. Voltou a telefonar-me assiduamente. Gosto tanto daquela menina. É um amor que vai durar para sempre. Prossegue a crise e eu, por um lado, divirto-me com isso. É claro que não me dá gozo nenhum ver tanta gente despedida. Mas ainda acredito que do desespero nascerá a revolta. Como na Grécia. TEnho que ser nietzscheano, dionisíaco, hedonista. ACreditar na superação do homem. Na criança sábia que está para lá de Deus e das rotinas, do homem calculável.

Monday, February 23, 2009

DA CARLA BENTO

Em viagem por uma realidade sensível. Tudo às estrelinhas em tonalidades de azul. Fazer progredir a amizade criativa. Elevação da mente. E os amigos riem porque sabem que há um eterno éter que faz de alguns homens deuses. E queremos experimentar a experiência divina, seguir por ruelas, sentarmo-nos em calçadas e fazer do dia uma utopia, acreditar que a vida é um fluxo fantástico e acontecem coisas incríveis aos amigos do mundo, e riem porque a existência é doce e suave; delicada a liberdade humana. É o regresso ao mundo das impressões. Ser, não ser, estar, não estar. É um road movie existencialista europeu. Partimos e não pensamos no regresso. Desbravar florestas, subir montanhas, mergulhar no mar. Pequenos prazeres que nos enchem a mente e revolucionamos o mundo. Viva a liberdade.

LONGE DE TI


Venho ao café dos jovens. Tenho 40 anos. Já não estou na mesma fase. Não são só os cabelos brancos. É a experiência da vida. Muitos dias. Muitas noites. Atrás da mesma luz. Atrás da mesma estrela. Sempre fui um pouco diferente dos outros. Desde puto. Sempre procurei uma outra via. Depois vim a descobrir que essa via estava associada à loucura. E amei a loucura. Procurei-a desesperadamente. Sou quem sou. Nada a fazer. As palavras correm. E eu longe de ti. Sempre longe de ti.

Sunday, February 22, 2009

AI, MESQUITA MACHADO

34 contas: Dois milhões e meio em dez anos


Grande reportagem do Correio da Manhã

Depositos milionarios nas contas do autarca



Mesquita Machado, presidente da Câmara de Braga há 32 anos, tem uma considerável fortuna pessoal e o seu ‘olho’ para o negócio parece ter passado para a família. Cláudia, Francisco e Ana Catarina, agora com 38, 35 e 31 anos, apresentam níveis de vida faustosos, bastante superiores ao rendimento que declaravam.
A análise exaustiva às suas contas foi feita pela Polícia Judiciária do Porto, após denúncia do vereador do PP em finais de 1999, que levou a que fossem passadas a pente-fino 10 anos da vida bancária do autarca. Nas 34 contas que o presidente da câmara, a mulher e os filhos titulavam foram depositados mais de dois milhões e meio de euros. De onde veio parte desse dinheiro é uma incógnita já que, todos somados, os rendimentos declarados pouco ultrapassaram o milhão e meio.
No entanto, até 1996, ano em que os filhos ainda não apresentavam declarações de rendimentos autonomamente, a família Mesquita Machado parecia viver de uma forma mais comedida. Mesquita auferiu rendimentos brutos, nesse ano, de 60 mil euros e a mulher apenas 7500.
Pedro e Cláudia, casados em 1997 (o genro é administrador-delegado de uma empresa multimunicipal) vieram dar um novo desafogo à família. Em 1998, declararam mais do que o pai e a mãe de Cláudia.
É, no entanto, Francisco – após a compra do café Astória e do negócio da loja comprada à Bragaparques e posteriormente arrendada à câmara – que catapulta a família Machado para outros voos. Logo no primeiro ano de rendimento, Francisco declara lucros de 300 mil euros.
As contas da família Machado mostram ainda vários depósitos em cheques, alguns de empreiteiros que trabalhavam no concelho. Inquiridos, todos os elementos da família deram explicações. Por exemplo, os dois cheques pré-datados de 10 mil euros entrados na conta de Cláudia e titulados por um dos donos da Bragaparques, Domingos Névoa, foram uma prenda de casamento; um cheque de cinco mil euros de Salvador, presidente do Braga, foi igualmente uma prenda de casamento; outros cheques serviam também para pagar dívidas que terceiros tinham contraído mas que aqueles não guardavam documentos porque avançaram com o dinheiro em momentos difíceis da vida dos amigos.
As explicações para as transferências são as mais variadas. Pedro Machado diz, por exemplo, que transferia dinheiro para a conta do pai porque aquele lhe ficara a dever. E quando o fluxo é inverso devia-se ao facto de os pais precisarem, eles próprios, de ajuda económica.
Outra particularidade: embora não apresentasse rendimentos muito elevados, Mesquita Machado e a família sempre revelaram grandes cuidados com as poupanças. Antes de os filhos serem autónomos, o presidente da câmara chegava mesmo a depositar 1/5 do que auferia em contas-poupança.
Mesmo assim um gosto especial é comum à família. São proprietários de boas viaturas (apenas Mesquita Machado não tem um único carro em seu nome) e donos de várias casas, em Braga e no Algarve. A PJ não conseguiu fazer o levantamento das embarcações, por falta de resposta das capitanias.



INVESTIGAÇÃO DUROU 8 ANOS



Há anos que a fortuna de Mesquita Machado é alvo das mais diversas especulações. No entanto, a investigação nasce de uma entrevista de Miguel Brito, então vereador do CDS/PP na autarquia bracarense.
Em Setembro de 2000, um jornal regional publicou as declarações do vereador demissionário, que assumia a pasta das Actividades Económicas. Directamente, disse que muitos funcionários camarários apresentavam sinais de riqueza incompatíveis com os salários que auferiam. As insinuações estendiam--se a Mesquita Machado e deram origem a uma investigação da Polícia Judiciária do Porto. Oito anos depois, em Novembro de 2008, após centenas de diligências e milhares de documentos reunidos, o procurador do Ministério Público de Braga arquivou o processo, por entender que 'não se consegue afirmar que foi este ou aquele quem corrompeu e determinar quem foi corrompido, ou sequer se terá havido corrupção'.
No documento a que o CM teve acesso, redigido um mês após Domingos Névoa e Mesquita Machado terem prestado declarações na PJ de Braga, o magistrado José Lemos entende que não se retira 'dos autos qualquer base probatória suficientemente consistente, susceptível de sustentar a dedução de acusação contra quem quer que seja'. Mais: o despacho sublinha que 'do confronto das declarações dos vários intervenientes inquiridos não resultam contradições relativamente à matéria analisada'.
Contactado pelo CM, Mesquita Machado não quis prestar quaisquer declarações.



PRÉDIO EMBLEMÁTICO COM PREÇO DE SALDO



José Veloso é um empreiteiro bracarense que, a ver pelo exemplo do café Astória, não terá grande aptidão para o negócio. Proprietário, em 2000, do edifício onde se encontra instalado o histórico estabelecimento de Braga, Veloso decide vender o prédio a Francisco Miguel Machado, por 400 mil euros, quando o filho do presidente tinha apenas 27 anos.
Apesar de em 1999 ter declarado ao Fisco o rendimento líquido anual de 14 500 euros, o filho do edil Mesquita Machado compromete-se a pagar em 10 anos a posse do café Astória, composto por cave, rés-do-chão e dois andares, reservados a comércio e habitação.
Para melhorar o cenário, José Veloso não especificava qualquer prazo para o pagamento mensal. Segundo o depoimento de Francisco à PJ, 'pagava quando tinha disponibilidade financeira'.
Foi o primeiro negócio da China para o filho de Mesquita Machado. Que em 1999 declarava 14 500 euros ao Fisco e depois da compra do prédio do café Astória – situado na Praça da Arcada, no centro da cidade de Braga – passou a receber a quantia anual de 300 mil euros líquidos. O que significava que em apenas um ano quase conseguira amortizar a dívida.



CÂMARA PAGA RENDA A FRANCISCO



A 20 de Outubro de 2000, Francisco Machado compra à Bragaparques uma loja de 75 m², situada na praça Conde de Agrolongo, terreno que inicialmente pertencia à Câmara de Braga. Em poucos meses, o estabelecimento de Francisco acaba arrendado à autarquia liderada pelo pai, Mesquita Machado.
No negócio, a Bragaparques pediu ao filho do edil bracarense cerca de 110 mil euros pelo espaço. Valor que fica aquém dos preços exigidos pela empresa a outros interessados, que tiveram de desembolsar algo como 150 mil euros por lojas com as mesmas características.
Justificando a decisão com a falta de lucro do bar que havia instalado, Francisco Machado parte, em Julho de 2001, para o arrendamento do estabelecimento, contando à PJ que, à altura, foram vários os interessados. Acabou por ceder os direitos à Câmara de Braga.
A autarquia entendeu instalar na loja o Espaço Internet, que ainda hoje funciona, pagando a Francisco Machado prestações mensais de 1200 euros.



PORMENORES



'MAU NEGÓCIO'



Ouvido pela Polícia Judiciária do Porto, José Veloso acabou por admitir ter-se tratado de 'um mau negócio' por ter vendido o prédio pelo mesmo preço que o havia adquirido quatro anos antes, então numa transacção judicial.



EXCLUSIVO COM NABEIRO



Assim que comprou o Astória, Machado rubricou um contrato de exclusividade com a Delta Cafés, de Rui Nabeiro. A Delta pagou 40 mil euros, e depois 25 mil, para melhoria de serviço, a serem devolvidos em prestações mensais de mil euros por Machado.



'AMO-TE BRAGA'



Em finais de 2004, Miguel Machado cede o Astória à exploração. Pedro Miguel Ramos ficou com o espaço e abriu o ‘Amo-te Braga’. Contudo, o negócio viria a fechar, por falta de lucro, e a histórica casa voltou à denominação original.



PJ PASSA CONTAS E BENS A PENTE-FINO



PAI - Francisco Mesquita Machado Tem 62 anos e há 32 que lidera a Câmara de Braga. Foi dirigente do Sp. de Braga.
MÃE - Ana Maria Mesquita Machado Tem 61 anos e é sócia com o marido de uma Sociedade Agrícola em Vila Verde.
FILHA - Cláudia Susana Mesquita Machado Tem 38 anos e é proprietária de duas casas: em Braga e Quarteira.
FILHA - Ana Catarina Mesquita Machado Tem 31 anos e comprou a Farmácia Coelho – um negócio investigado.
GENRO - Pedro Machado É administrador delegado de uma empresa multi-municipal.
FILHO - Francisco Miguel Mesquita Machado Tem 35 anos, foi dono do café Astória e arrendou uma loja à CMB.
RENDIMENTOS DECLARADOS E MOVIMENTADOS PELO CASAL E FAMÍLIA (EUROS)
MESQUITA MACHADO E A MULHER
1993
Rendimento declarado: 42 500 (bruto)
Movimentos bancários: 75 750
1994
Rendimento declarado: 44 000 (bruto)
Movimentos bancários: 73 000
1995
Rendimento declarado: 46 000 (bruto)
Movimentos bancários: 64 500
1996
Rendimento declarado: 50 000 (bruto)
Movimentos bancários: 60 000
CLÁUDIA
Rendimento declarado: 6500 (bruto)
1997
Rendimento declarado: 51 000 (bruto)
PEDRO MACHADO E CLÁUDIA
Rendimento declarado: 58 500
Movimentos bancários: 165 000
1998
Rendimento declarado: 53 500 (bruto)
PEDRO MACHADO E CLÁUDIA
Rendimento declarado: 60 000
Movimentos bancários: 230 000
1999
Rendimento declarado: 40 000 (líquido)
PEDRO MACHADO E CLÁUDIA
Rendimento declarado: 42 500 (líquido)
FRANCISCO
Rendimento declarado: 14 500 (líquido)
Movimentos bancários: 200 000
2000
Rendimento declarado: 46 000 (líquido)
PEDRO MACHADO E CLÁUDIA
Rendimento declarado: 59 000 (líquido)
FRANCISCO
Rendimento declarado: 300 000 (líquido)
Movimentos bancários: 782 500
2001
Rendimento declarado: 53.000 (líquido)
PEDRO MACHADO E CLÁUDIA
Rendimento declarado: 55 409 (líquido)
FRANCISCO
Rendimento declarado: 219 000 (líquido)
ANA CATARINA
Rendimento declarado: 2600 (líquido)
Movimentos bancários: 695 480
2002
Rendimento declarado: 51 400 (líquido)
PEDRO MACHADO E CLÁUDIA
Rendimento declarado: 99 300 (líquido)
FRANCISCO
Rendimento declarado: 262 000 (líquido)
ANA CATARINA
Rendimento declarado: 2600 (líquido)
Movimentos bancários: 603 000
LEVANTAMENTO DO PATRIMÓNIO FEITO PELA JUDICIÁRIA
CARROS: LEVANTAMENTO DO PATRIMÓNIO AUTOMÓVEL FEITO EM 2001.
CLÁUDIA
BMW 3-25 I Cabriolet – 1995
Mercedes Benz ML 270 CDI – 2000
FRANCISCO MIGUEL
BMW 346 L – 2000
Opel Corsa C Van – 2001
Mercedes Benz S320 – 1999
Carros em nome da Sociedade Agrícola da Quinta de Salgueiro de ANA MAARIA
Renault Clio – 1999
Mercedes Benz C250 – 1998
Fiat Tractor 50 66 – 1989
BMW 318 TDS – 1995
PROPRIEDADES
ANA MARIA– Mora na rua de Bernardino Machado, 7. Outro prédio urbano em Braga.
CLÁUDIA (nascida em 1970) – Uma casa em Braga e uma em Quarteira.
FRANCISCO MIGUEL (nascido em 1973) – Duas casas em Braga e uma em Quarteira. Faz a primeira declaração de impostos em 1999 e declara 14 500 euros. No início do ano seguinte, compra o café Astória por 400 mil euros, para serem pagos em dez anos.
ANA CATARINA (nascida em 1977) – Compra por 450 mil euros a farmácia Coelho, na praça do Município, mais dois andares com lojas e águas-furtadas na mesma rua, entradas 65/66/67. Tem ainda em seu nome um escritório na rua Conselheiro Lobato, em Braga. Na compra da farmácia, Ana Catarina paga 150 mil euros a pronto.



Liliana Rodrigues / Sérgio Pereira Cardoso / Tânia Laranjo

Thursday, February 19, 2009

A CARLINHA


Amanhã vou a Amarante ver a Carlinha. Já estava cheio de saudades dela. A Carlinha tem um jeito absolutamente freak de ser. Até me fez uma entrevista para o "Jornal de Amarante". Perguntou-me pelas minhas maluquices. Amanhã vou a Amarante ver a Carlinha e estou todo contente, a transbordar de alegria. Vou-lhe dar muitos beijos e abraços. A Carlinha é uma personagem "sui generis". Atravessa a ponte a fumar charros. A Carlinha. A Carlinha.

BEBO E ESTOU SÓ


Bebo e estou só
até poderia não estar
se quisesse
mas o hábito empurra-me
para os finos do "piolho"
para as conversas das gajas do lado
para o Braga que ganha por 2-0
não tem mal nenhum
torcer pelo clube da terra
em vez de ficar entre livros no "Gato Vadio"
e a cerveja sobe
uma vez mais
ontem havia muito ruído de fundo
na poesia de Famalicão
o Luís passou-se
mandou tudo para o caralho
eu deixei-me ficar
ando a ficar muito pacífico
como os gajos do "orfeuzinho"
hoje tenho de rebentar com esta merda
dizer claramente o que penso
ousar a palavra
brincar com o fogo
estoirar
hoje a palavra é minha
sobe no palco
arde na garganta
sei onde vou
sei o que quero
vou-te morder
vou ser sincero...

EXISTÊNCIA SOLITÁRIA

Vou levando uma existência solitária com uns picos aqui e ali. Não sou de reacção imediata como certos amigos que cá sei. Tenho as minhas convicções e, de vez em quando, solto-as, como hoje vou fazer no "Púcaros". A coisa vai ser "hard". Há quem se enerve sobremaneira a dizer poesia. Nao tenho de ser necessariamente assim. E esta prosa já cansa.

Sunday, February 15, 2009

A caneta está a dar as últimas. O poeta também. As pessoas acham graça aos meus versos. Sou uma espécie de bobo da corte. Faço os outros rir. E só consigo dizer poesia se antes beber uns bons banecos.

Saturday, February 14, 2009


As mulheres não vieram ter comigo
depois da sessão de poesia no Clube Literário
e eu a pensar que já era uma estrela
e eu a pensar que era a hora
mas nada
regressei a casa de mãos a abanar
elas bem se riem do poeta
bem se riem das coisas que vou dizendo
mas nada, mais nada...

O POETA QUE ESTÁ NO SHOPPING E ESCREVE


O poeta está no shopping
e escreve
nada mais há a dizer
de que o poeta que está no shopping
e escreve
as pessoas circulam
bebem sumos
comem tartes
e eu nada mais sou
do que o poeta que está no shopping
e escreve
a gaja senta-se
fala ao telemóvel
come
e eu nada mais sou
do que o poeta que está no shopping
e escreve
o mundo é triste
as gajas vêm de branco
a noite cai lá fora
e eu nada mais sou
do que o poeta que está no shopping
e escreve
o poeta aprecia as gajas
gosta de vê-las passar
gostava de as tocar no cabelo
gostava de as namorar
e eu nada mais sou
do que o poeta que está no shopping
e escreve
a gorda come a bola
os funcionários de farpela
e eu nada mais sou
do que o poeta que está no shopping
e escreve.

PINGUIM


Já não vou ao Pinguim esta noite
já não vou ao Pinguim exibir-me esta noite
esta vida está a tornar-se muito triste
esta vida está a tornar-se muito entediante
a Gotucha é que tem razão
isto raramente vale a pena
e o Henrique guitarrista não ajuda nada
e o emoregado namora
com a gaja do quiosque
que não é nada de se deitar fora
e conversa com toda a gente
estou a ficar deprimido
que merda!
Estou a ficar deprimido
e não ´há gaja que me venha salvar
nem sessão de poesia
nem poeta
a gaja do quiosque é mesmo boa
e o gordo imbecil do concurso volta sempre.

Thursday, February 12, 2009

Não fui a Famalicão ter com a Cláudia
fiquei na cama a xonar
a vontade de viver esta vidinha não é muita
e as alternativas não abundam
o que vale é que há um livro pronto a sair
e sessões de poesia importantes
mas já nem a poesia dita me entusiasma
por aí além
bebo mais um café
mas a realidade, de facto, não me satisfaz
também não me faria bem ficar na cama
a xonar o dia inteiro

o facto de haver futebol
e de determinado resultado me satisfazer
também não me faz feliz.

CONFEITARIA

Na confeitaria
discute-se a vidinha
critica-se a vizinhança
as crianças maltratadas
e abandonadas
a roupa que se lava e seca.

LEIO PLATÃO

Leio Platão
e a sabedoria invade-me
leio Platão
e a ideia de bem
apodera-se de mim
leio Platão
e sinto-me mais próximo
dos deuses
leio Platão
e o cérebro explode
leio Platão
e sinto-me abençoado.

Tuesday, February 10, 2009


No café da aldeia
os homens bebem e conversam ao balcão
o que dizem não é brilhante
do ponto de vista intelectual
nem me interessa
preferia estar junto duma boazona qualquer
e cantá-la
mas aqui as mulheres escondem-se
envelhecem rapidamente
não há motivo de reportagem
o café é dos homens desdentados
e o velho leva uma eternidade
a ler o jornal
é daqueles que acreditam
em tudo o que vem no jornal
a TV só transmite jogos ingleses
e eu deveria estar com a Carlinha
em Amarante.

LUIZ PACHECO

A punheta de manhã, a fome durante o dia, a solidão sempre, o vinho, a lucidez e a tristeza, a velhice, a decadência.

CHUVA


A chuva impede-me de ir ver a Carlinha a Amarante. A chuva estraga-me a vida. QUeria tanto ir ver a Carlinha. Assim vou a Ermesinde dizer poemas. Menos mal. Sempre não passo o fim-de-semana em branco. Já começava a ficar mole. Tenho de ligar à Carlinha. Maldita chuva. Nunca mais pára. Vou ligar também ao Henrique guitarrista por causa de dia 13. Os XUtos fazem 30 anos e eu pouco tenho ligado.
Missa rocambolesca
dama que se engana nas leituras
facas, taças, anéis
caem dos púlpitos
dos altares

Tuesday, February 3, 2009

LUIZ PACHECO

Aliás, não estou a fazer a necessária preparação para o superpai, o tirano. Como propriedade sua, os guiam com tanta decisão e pulso como ao seu automóvel. Inscrevem-nos sócios do Benfica. Premeditam e determinam a sua vocação, curso, carreira na vida. Casam-nos. São aut~enticos vampiros das vidas dos filhos.

Monday, February 2, 2009

NASCI PARA AS ALTURAS


Isto do emprego
está fodido
já se sabe
e eu não nasci
para a vida prática
não nasci para equilíbrios
nem para cálculos mesquinhos
nasci para ser grande
para estar ao sol

isto das lojas a fechar
já se sabe
mas eu não nasci
para a vida prática
nem para andar atrás de empregos
nasci para anunciar a boa nova
para celebrar Dionisos
para curtir noite fora
para as alturas.

HÁ UM MÊS

Há um mês estava eu em estado de euforia. Ouvia vozes, sentia-me perseguido, matava pessoas. Há um mês ainda estava com a Gotucha. Apanhei o alfa para o Porto. A menina andava preocupada. Há um mês sentia-me um deus, dominava o mundo, queria fazer a revolução. Há um mês subi ao Sameiro, falei com Deus, acalmei a alma. Há um mês era outro.

Sunday, February 1, 2009

Escrevo e leio. Nos outros dias bebo, faço asneiras. A mulher veio buscar o bolo. O homem conta os trocos. AS outras mulheres falam da vidinha. A rapariga varre o chão. Esta gente passa o tempo a varrer, a varrer a vida passada. O casalinho entra e pega, de pronto, no jornal. Eu escrevo na mesa do canto. Os carros deslizam à chuva. Será muito difícil arranjar emprego. Cada vez mais.

LUIZ PACHECO


Ah, são as mulheres que nos prendem à terra, à velha terra-mãe, eu sei, eu sei! São elas que nos salvam do silêncio implacável, do esquecimento definitivo, elas que nos transportam ao futuro, à imortalidade n espécie pelo fruto bendito do seu ventre (eu sei, eu sei).

PERFORMANCE


Após a performance
andar pelos bares
há muito que não o fazias
a Gotucha preocupa-se
e pede para não beberes
estoiras o cacau
a dançar
a tomar carioca no "Big Ben"
o travesti alerta-te
para o cordão desapertado
apanhar o metro de madrugada
olhar para a empregada
a ver se ela se despe

após a performance
andar pelos bares
beber aqui e ali
voltar aos velhos tempos
sair só
a amaldiçoar o mundo
o Amaral a elogiar a tua escrita
no palco és dinamite
pões tudo ao avesso
dizes o último verso
vestes a pele do "frontman"
e a miúda aplaude
ouve a tua conversa
dá-te importância
declaraste guerra aos economistas
ás décimas, às percentagens
agora és o poeta
aquele que canta
e sobe na palavra.