Thursday, February 17, 2011

AGIOTAS DE MERDA


Triangulação de fundos a partir do Luxemburgo fazia subir despesas
Ex-quadros do Santander põem a nu esquema para reduzir factura fiscal
17.02.2011 - 07:26 Por Cristina Ferreira

1 de 21 notícias em Economia
seguinte »Fundos de pelo menos 350 milhões de dólares (258 milhões de euros), domiciliados na sucursal do Santander Totta no Luxemburgo, circularam nos últimos anos pelas praças financeiras do grão-ducado, de Londres e das ilhas Caimão, permitindo à casa-mãe aumentar os custos e assim reduzir a matéria colectável.
Movimentação de fundos permitiria reduzir a matéria colectável

(Ricardo Brito/arquivo)

A revelação sobre a existência no universo Santander Totta de veículos (sociedades) usados, alegadamente, para fazer planeamento fiscal foi feita em Maio, em tribunal, por Isabel Ramos de Almeida, ex-directora do Santander, no quadro de um diferendo laboral movido por Jorge Dias, chefe da sucursal do banco no grão-ducado, contra a equipa liderada por Nuno Amado, e no qual prestou declarações na qualidade de testemunha do banco. Jorge Dias explica em declarações ao PÚBLICO que aqueles fundos eram investidos em condições anormais, e que nunca passou as declarações fiscais dos rendimentos dessas aplicações, porque a administração do banco, que geria os activos, apesar dos múltiplos pedidos, nunca o informou sobre quem eram os beneficiários económicos últimos.

O actual gestor do BCP, António Ramalho (ex-administrador do Santander Totta), que foi o mentor dos veículos, designados Ptif e Taf, onde estão domiciliados os 350 milhões de dólares, declarou que os fundos foram colocados junto de investidores norte-americanos, o que obrigaria o banco a comunicar ao fisco os rendimentos auferidos pelos titulares. Já o Santander Totta afirma que o Ptif e Taf não eram propriedade exclusiva do banco e pertenciam também a investidores que podiam ser norte-americanos ou outros quaisquer. E, assegura o banco, cabe ao emissores dos dois instrumentos financeiros, que actuaram como paying agent (a entidade que pagaria os dividendos), o JPMorgan e o Deutsche Bank, enviar as declarações tributárias à Reserva Federal norte-americana, já que seria da sua responsabilidade pagar dividendos aos investidores. Mas Jorge Dias assegura que essa era uma tarefa da sucursal luxemburguesa, por ser aí que os fundos estavam domiciliados. E garante que nunca emitiu qualquer declaração de natureza fiscal.

A documentação existente indica que os 350 milhões de dólares, Ptif (150 milhões de dólares) e Taf (200 milhões), foram colocados no início da década passada pela administração de Horta Osório numa conta da sucursal do Luxemburgo, onde a taxa de IRC é reduzida, e que a sua movimentação foi feita como se pertencesse a um cliente normal. Nos anos seguintes, a verba seria triangulada entre praças financeiras, respeitando as datas de vencimento dos pagamentos acordados com os titulares das duas sociedades. A casa-mãe emprestava os 350 milhões de dólares à sucursal luxemburguesa, a uma determinada taxa de juro, e, esta, por sua vez, aplicava-os junto da sede (tipo depósito a prazo), através da sala de mercados de Lisboa, à mesma taxa, acrescida de um spread (que dava à sucursal a margem de lucro e à sede um custo adicional). Depois, a sucursal do grão-ducado transferiria os juros vencidos para a de Londres, que por sua vez os encaminhava para a conta as Caimão [onde não há tributação de lucros].

Numa altura em que as taxas de juros em dólares, em termos de mercado, rondavam entra um e dois por cento, a tomada de fundos decorria a taxas muito superiores, entre sete e oito por cento: mais 500 ou 600 por cento do que as taxas normais de mercado.

Lucros e prejuízos

No final da triangulação onde eram registados os lucros e os prejuízos? A sucursal luxemburguesa obtinha um ganho que era o resultado do diferencial entre a taxa de juro que pagava à casa-mãe e a que recebia da sede. O impacto na sucursal de Londres era neutro, pois limitava-se a contabilizar os juros enviados pelo grão-ducado e a transferi-los para a conta das Caimão. Esta surgia como a grande beneficiária, pois recebia os juros livres de impostos (rendimento líquido). Pelo contrário, o Santander Totta, em Lisboa, assumia o custo resultante dos juros pagos à sucursal do Luxemburgo, acrescidos do spread, o que penalizava os seus proveitos anuais, e reduzia a matéria colectável a entregar ao fisco português.

Em síntese: o Santander Totta aumentava os custos em Portugal, pois as taxas de juro estavam desajustadas face ao mercado, e obtinha proveitos mais elevados nas ilhas Caimão, livres de taxas.

Ao PÚBLICO o ex-director-geral do balcão do Santander Totta no grão-ducado reconheceu que os 350 milhões de dólares têm sido triangulados entre praças financeiras em condições comerciais "desajustadas da realidade do mercado" interbancário. As operações Ptif e Taf destacavam-se da actividade da sucursal, que se dedicava "no essencial à concessão de crédito à habitação".

Quando deixou no ar a existência deste mecanismo no seu depoimento no tribunal, Ramos de Almeida confirmou que os fundos Ptif e Taf "eram coisas que eram canalizadas cá para Portugal e que eram postas lá fora por razões fiscais pela casa- mãe" (ver caixa). Ao PÚBLICO a ex-directora garantiu que apenas mencionou "as razões fiscais" por não existir no Luxemburgo "lugar a pagamento de imposto de selo", mas que não se trata de planeamento fiscal. O PÚBLICO voltou a tentar falar com Ramos de Almeida, que remeteu para o assessor de imprensa da Unicre, de que é agora administradora.

As explicações do banco (ver texto ao lado) contrariam as de António Ramalho, o mentor das sociedades Ptif e Taf. Em concreto, a nacionalidade dos investidores. Ramalho diz que "o mercado para as várias operações deste tipo realizadas pelos bancos portugueses no final dos anos 90 era sempre o mercado institucional americano". Por correio electrónico, evocou uma época "em que os investidores dos EUA investiam" em produtos "híbridos" de bancos nacionais e confessou que "em pormenor" conhece melhor o Ptif que teve como "líder" da emissão nos EUA "o Morgan Stanley". O gestor do BCP mostrou-se indeciso quanto à natureza das operações por não se lembrar se "configuravam um empréstimo subordinado" ou "acções preferenciais remíveis".

Surpreendido com a explicação do seu ex-empregador, Jorge Dias observou que era a sucursal do grão-ducado que devia "fazer a comunicação ao fisco luxemburguês". Isto, adiantou, porque de acordo com a legislação, sempre que estão em causa rendimentos auferidos por residentes nos EUA (particulares ou não), os bancos receptores dos fundos, onde são contabilizados os proveitos, devem entregar a respectiva declaração tributária às autoridades fiscais locais que, por sua vez, as enviam para a FED. Como os 350 milhões de euros estavam domiciliados no Luxemburgo, onde eram gerados os rendimentos, era ao fisco do principado que as declarações teriam de ser entregues.

Jorge Dias assegurou: "O Santander Totta nunca me solicitou que passasse as declarações fiscais referentes aos rendimentos das aplicações Ptif e Taf." "[E, na qualidade de primeiro responsável pela sucursal], teria de ser eu a fazê-lo e nunca fiz, [até porque] desconhecia quem eram os beneficiários económicos últimos das aplicações [dos fundos]." "Nunca soube nem a origem, nem a titularidade dos activos, apesar de ter perguntado diversas vezes à administração, que os geria, e por escrito." O Santander deu instruções à sucursal para emitir declarações fiscais? O banco respondeu: "Desconhecemos a que declarações fiscais se referem."

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Jorge Dias disposto a esclarecer Banco de Portugal
As explicações do Santander TottaURL desta Notíciahttp://publico.pt/1480733
Comentário + votadoCrime
Espero que estejam já procuradores a ler esta notícia para prepararem queixa-crime contra ...

miguel_ssousa
17.02.2011 08:48

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António Ribeiro . 17.02.2011 12:47
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agiotas
o mundo dos agiotas vai cair.

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Bigdog_ . 17.02.2011 12:34
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Nada que surpreenda
Quando os políticos permitem que estas coisas aconteçam, estão à espera de quê??? HAHAHAHAHA Devem pensar que esse pessoal enriqueceu à custa do seu suor... O que leva à reflexão: Os políticos ou são iguais ou são ingénuos... ou são incompetentes...

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Anónimo . 17.02.2011 12:22
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Santander
Uma pergunta ingénua: será que o Governo, o Bdp e a CMVM vão mandar para o Santander uma equipa da CGD, como fizeram ao BCP, para colocar ordem na contenda? Ou já não há mais Varas para destacar, estacar e espiar? Ou não têm categoria e força para afrontar o Botin espanhol? O melhor é chamar o Dr. Vitor Constâncio para ver o que é possível fazer-se

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Jose Carvalho . 17.02.2011 11:59
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007 - Lincença para roubar
Isto é tudo menos uma surpresa. Tais principios são afinal.., uma acção recorrente, e que se aplica não só ao Santander, como aos demais bancos. Embora possa variar a forma, o principio é o mesmo, e nada que seja do desconhecimento de quem regula e controla. E andam estes nossos politicos a pedir sacrificios, aumentando impostos. Ponham mas é a banca a pagar!!!

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jrosado . 17.02.2011 11:53
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POLITIQUICES II
Como já disse noutro comentário. O raciocínio deste senhor(?) hmgomes é o seguinte: Você matou o seu pai mas o que é isso ? nada já que o seu vizinho matou o pai e a mãe , meu amigo só muda a dimensão. parece-me justo ou não?

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hmgomes . 17.02.2011 11:36
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"POLITIQUIÇES"
Este não é mais do que um caso obscuro como tantos outros que se passam no plano financeiro, em todo o caso também a prevaricação e o contorno á lei muitas das vezes parte do cidadão comum, ou seja quem é que ainda não roubou ao estado por menor que seja o valor ? Que atire a primeira pedra ? Meus amigos uns roubou por 20€ outros roubou 20 milhoes de euros, só muda a dimensão. Mas o roubo ele existe e irá sempre existir. Se calhar não é justo, mas quem disse que nós humanos somos justos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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Motuproprio . 17.02.2011 11:13
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No país das bananas
Infelizmente para eles, para fazer a trafulhice necessitam dos funcionários que descartam quando já não lhes interessa. Não fosse isso e nunca descobria-mos estas andanças da banca. Claro que isto acontece porque a fiscalização não existe, praticamente, e porque os amigos se defendem muito bem. Mas os empregados representam também o reverso da medalha e por isso estamos a saber. O resultado vai ser, como de costume, nada. Em todo o caso gostava de saber o que vai o Banco de Portugal e o Ministério das Finanças, fazer.

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Sem Papas na Língua . 17.02.2011 11:02
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Esquemas criminais de elevada complexidade
para que não possam ser entendíveis pelo comum cidadão ignorante nesta e em muitas outras matérias, afinal o mesmo cidadão que se acobarda comendo e calando e persiste validar este maldito capitalismo desumano e destrutivo do futuro das gerações que ora criamos.

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jrosado . 17.02.2011 10:27
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Capitalismo normal
mas tudo isto é normal neste sistema económico, o sistema do xico esperto. Para ser sincero só não fujo ao fisco porque não tenho nada para fugir senão........... Estes fogem ao fisco os outros (BPN) fugiram com a massa toda, assim sim e paga zé.A propósito o Sócrates ganhou algum? Se calhar foi o Mourinho, desculpem o Mourinho está noutro filme mas a teoria do banco deve ser a mesma, afinal o zé também paga anúncios . (Entenda-se por zé aquele que já nada ou pouco mais que nada tem). Assim vai o mundo.

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Motuproprio . 17.02.2011 10:06
Via PÚBLICO
O lamaçal
Então digam lá, é ou não é isto um grande lamaçal? É ou não é este um país de bananas? Porque fazem eles isto por cá? Porque a fiscalização é nula, porque os amigos estão protegidos. Só se descobrem estas coisas quando há litígio com os funcionários. Sim, porque estas maroscas têm de ler levadas a efeito através dos seus funcionário, e quando as comadres se zangam... De Resto os crimes só se descobrem quando uma das partes entra em desavença. E agora que vai fazer o Banco de Portugal e o Ministério das Finanças?

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O Google não escreveria este livroO que faria o Google? não é sobre o Google. O livro, escrito pelo jornalista, blogger, professor universitário e consultor de media Jeff Jarvis (ainda seria possível acrescentar mais um ou dois títulos à apresentação do autor) é, essencialmente, uma deambulação pelo vasto mundo dos novos media e pela forma como a Internet está a afectar uma série de indústrias.
Documentos
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Proposta de Lei do Orçamento do Estado para 2011 (PDF)

Relatório da proposta de Orçamento do Estado para 2011 (PDF)

Estatística do emprego, 1º trimestre do ano, INE

Índice de Risco de 2009, Portugal, Intrum Justitia (pdf)

Indicadores avançados da OCDE, Maio (doc)

Previsões económicas da Primavera da Comissão Europeia, Portugal (inglês, pdf)

Previsões económicas da Primavera da Comissão Europeia, UE (inglês, pdf)

Indicador Ifo do clima empresarial da Alemanha, em inglês (pdf)

FMI, Capítulo 4, Transmissão da crise financeira dos países riscos para os emergentes (em inglês, pdf)

FMI, Capítulo 3, Crise e Recuperação (em inglês, pdf)

Wednesday, February 16, 2011

POETA E VADIO


POETA E VADIO

António Pedro Ribeiro

Parece que recuperei o talento para a poesia. Escrevi poemas madrugada fora e dediquei um à menina simpática do café das piscinas. Sorri para mim. Tem muita alma a menina loira. Não dizes que queres filhos? Faz-te à moça, faz-te à moça, que isto está a voltar aos templos bíblicos. Permanece aqui em Braga mais umas temporadas. Bebe. Saboreia. A vida sorri para ti. Nada tens a perder. Escreves bons poemas. Poucos são capazes de o fazer. Tens esse dom. Queres filhos? Procura a mulher. Será esta? Voltaste a ser o poeta. Compras cadernos nas papelarias. Bebes finos à saúde da menina. Olhas para as outras. Queres as fêmeas jovens. Queres compreendê-las. Entrar no mundo das telenovelas, do facebook, da moda, no mundo delas. Afinal de contas, não tens obrigações, nem compromissos. As leis pouco te dizem. És o homem da liberdade, já o tens dito. Gostas de Jesus mas não de tudo. Continuas a ser infame, insolente. Não tens profissão remunerada. Mas vais-te fazendo às gajas. Às que te agradam. Também Jesus amou Madalena e a samaritana. Parece mesmo que voltamos aos tempos bíblicos ou aos tempos da cavalaria, Quixote, Dulcineia. Nada deves aos poderes do mundo nem escreves pior que os colunistas dos jornais. ÉS até uma espécie de santo, como diziam de Nietzsche. Fazes declarações de amor às empregadas de mesa, em vez de as fazeres ao primeiro-ministro. Achas-lhe piada. Deve te namorado ,mas como disse há dias uma amiga do facebook, os namorados não servem para escrever poemas. Para isso estão aí os poetas. Alguns deles, como este, têm a sua loucura. Não abdicam dela. Fazem até questão de a exibir em certas ocasiões. De qualquer modo, há cerca de 24, 25 anos que venho a esta zona das piscinas. Noutros tempos ia mais ao "Farol". Agora ando a marcar o território, a redescobrir a cidade. As mulheres jovens interessam-me. Não é somente uma questão sexual. Procuro chegar a elas. Falar com elas. Compreendê-las. Tentá-las fazer compreender o poeta sem emprego, o cronista não remunerado, aquele que nem sequer se peocupa em aranjar emprego, o vadio de Agostinho da Silva. Sou vadio, isso mesmo. Poeta e vadsio. Com todo o gosto. Muitos invejam a minha vida. Deixei de ter grandes preocupações. Mesmo que tenha só uns trocos no bolso. No bolso e não na bolsa. Sou inimigo de classe desse mundo. Sónia, é o nome dela. Distribui cafés e sorrisos. E eu aqui a pensar que sou magnífico, que estou a escrever um tratado sobre a vida quotidiana. Voltei a ser apenas o poeta que escreve versos às meninas. Que telefona a umas, que fala a outras pelo facebook, que toma café com elas, que as encontra nas noites de poesia. Nada disto tem a ver com a guerra Porto-Benfica. Nada disto tem a ver com os fanáticos da bola que se insultam nos estádios e nos cafés. Estou um pouco acima. Faço-me às gajas dos jovens. Meto-me no mundo deles. Não envelheci espiritualmente, apesar da asma, da apneia e da barriga inchada. Para que hei-de perder tempo a falar de economia e de futebol? Nunca fui muito equilibrado, já o dizia o meu pai. Se tivesse mais dinheiro, pediria mais finos. Gastei-o no caderno. Até pareço um cidadão exemplar, cumpridor. Mas a verdade é que não o sou. Ando a torcer pela revolução mundial com epicentro no Egipto. A ver se o Faraó cai. A menina também tem a sua dose de loucura. No outro dia chamou-me "mauzinho" por eu não ter trocos. Hoje falta-me a nota mas tenho os trocos. Não dormi quase nada esta noite. Levantei-me às 4,30 para escrever, saí de casa às 8 da matina. Agora sinto algum cansaço. Mas não me arrependerei jamais de ser aquele que sou.

www.jornalfraternizar.pt.vu

Tuesday, February 8, 2011

REI




Cair no meio da arena
morrer como um touro
em sangue
cair, solene,
como um rei
para cá da escumalha
dos risinhos idiotas
da ignorância.

A. Pedro Ribeiro.

PADRE MÁRIO DE OLIVEIRA

Há “fúria” nas hostes, depois da minha prestação na TVI

A convite da TVI, concretamente, do Programa, Você na TV, conduzido por Manuel Luís Goucha, pude testemunhar o meu actual viver de Presbítero da Igreja do Porto, longe dos templos e dos altares. Com maior incidência, nas largas avenidas da Internet e do Youtube. Nos Livros que continuam a ser editados e no Jornal Fraternizar, agora, apenas online.

Dois repórteres de fina qualidade profissional, vieram previamente viver comigo algumas horas de um dia normal de actividade. Perguntaram e gravaram o que entenderam. E, depois de tudo, elaboraram um curto Documentário. Com que abriu a Conversa em directo, no estúdio.

O Documentário e a Conversa que se lhe seguiu desencadearam “fúria” nas hostes dos Súbditos do Poder Religioso e Eclesiástico. Bom sinal. O Sal, quando é sal com força de salgar, faz saltar de fúria e de ódio, a Corrupção e a Mentira Institucional. Os agentes da Corrupção e da Mentira Institucional não perdoam. E incitam as respectivas hostes contra a Mensagem e, sobretudo, contra o mensageiro. O costume. Já foi assim com os profetas bíblicos, quase todos assassinados. E todos denegridos. João Baptista ficou sem cabeça, por ordem do chefe de estado, Herodes. E Jesus que se Levanta, depois de João ter sido preso, é assassinado na Cruz do Império Romano, em Abril do ano 30.

A “fúria” das hostes resulta, sobretudo, de uma afirmação que eu fiz: – Não sei como as Mulheres conseguem continuar a frequentar a igreja-templo, quando, lá dentro, encontram sistematicamente a presidir às missas, um macho que, para cúmulo, está proibido de casar pelo Código de Direito Canónico, aprovado e imposto pelo papa-chefe-de-estado do Vaticano. Sem que, alguma vez, elas, as Mulheres, tenham voz e vez.

A minha referência ao “macho” que preside refere-se tanto ao Sacerdote celibatário por imposição da Lei Eclesiástica, como ao Poder Eclesiástico em si que o pároco é, por delegação do Bispo da Diocese. Quando, pelo Sacramento da Ordem, quem o recebe é simplesmente Presbítero da Igreja, para anunciar o Evangelho de Deus aos Pobres e aos Povos. Não é Sacerdote, nem Poder Eclesiástico. Pelo que, quando desiste de ser Presbítero e veste de Sacerdote e de Poder, é macho-Poder. E as Mulheres, como suportam semelhante desaforo? E continuam a frequentar tais lugares e tais cultos?

Da “fúria” das hostes, destaco uma em concreto, pelo que tem de significante. Numa das noites depois da minha prestação na TVI, tocou o telemóvel que uso. Atendi. Era um grupo de Mulheres, residentes em Amarante, a 10 kms de Macieira da Lixa, onde resido há 7 anos. Não vieram ao meu encontro, como seria desejável. Optaram pelo telefone, para não darem a cara. Uma delas, em nome das demais, disse do Escândalo de todas. Escutei e esclareci. Diz-me a porta-voz do grupo: Nós vamos à missa, para ouvir a Palavra de Deus, não para ver o Padre! Reagi: E acham que há Palavra de Deus, lá, onde preside um macho que está proibido de casar e é o rosto do Poder Eclesiástico, naquela função? De que Deus é então essa palavra proferida por um macho assim?! Não sabe – sublinhei – que Deus Criador não precisa de intermediários para se fazer Escutar pelas suas filhas, pelos seus filhos? A porta-voz ficou embaraçada e sem resposta. Porventura, ainda mais Escandalizada, já não comigo, mas com o macho-que-preside-às-missas, ao constatar que, afinal, há um Deus que, para se comunicar com as Mulheres, recorre sistematicamente a machos que estão impedidos por Lei Eclesiástica de casar.

Se calhar, este grupo de Mulheres de Amarante vai reflectir sobre as minhas palavras. E, quem sabe, se as Mulheres que o constituem, nunca mais põem os pés na igreja-templo, onde todas elas estão proibidas de ter voz e vez. Apenas podem ser zeladoras de altar e fazer a limpeza da igreja-templo. Afinal, a inicial raiva contra o mensageiro ainda vai acabar por se virar contra o macho que se faz passar por representante de Deus. Porque semelhante Deus só pode ser um Ídolo que Submete e Humilha quem lhe presta culto! Pensemos todas, todos nisto. Mudar, é preciso. Imperioso. Urgente!

www.jornalfratenizar.pt.vu

Monday, February 7, 2011

A REVOLUÇÃO CONTINUA NO EGIPTO


Reportagem: a praça Tahrir não negoceia e continua em revolução
07.02.2011 - 13:03 Por Paulo Moura, Cairo

www.publico.clix.pt

Os membros do comité de representantes da oposição que ontem se encontrou com o vice-presidente, Omar Suleiman, foram à praça Tahrir relatar o acordo que obtiveram. Junto ao palco improvisado, as pessoas aplaudiram. Mas a seguir não se foram embora, o que significa que na verdade não aplaudiram.
A praça Tahrir voltou a encher-se (Foto: Dylan Martinez/Reuters)

"Só uma exigência é comum a toda a gente", diz Ahmed Nagla, 29 anos, médico. "Mubarak tem de partir." As cedências que foram feitas até agora "não significam nada. Nem queremos saber. Equivalem a zero". Mas então a demissão da direcção do partido, a promessa de alterar a Constituição... "Zero. Não acreditamos. Enquanto Mubarak estiver no poder, tudo isso são medidas de fachada, para fazer propaganda na televisão." Mas a eventual demissão do Presidente não poderá também ser uma medida de fachada, para manter o regime intacto? Já a que a única reivindicação dos revolucionários é essa, os líderes militares e do partido do poder poderiam ser tentados a sacrificar Mubarak, para manter o statu quo. Ou instaurar um regime ainda pior.

"Estamos tranquilos quanto a isso, porque o regime não poderá ser pior", responde Ahmed. "O regime nunca esteve tão frágil. Se Mubarak cair, tudo o resto vai a seguir, como um dominó. Veja o que aconteceu na Tunísia. Ben Ali fugiu e o processo de democratização começou imediatamente, com bons progressos". Portanto, mesmo que o comité da oposição venha dizer que chegou a um acordo que implique uma mudança de regime, mas não a demissão de Mubarak, a resposta da praça será: não. "Nós não aceitaremos isso", diz Ahmed. Mas quem é o "nós"?

"Não nos vemos representados nesses elementos dos partidos oposicionistas. Para nós, esses partidos fazem parte do sistema. Não são mais do que uma rosa vermelha na lapela do regime. Podem ter o seu papel, que achamos louvável. Todos temos de dar o nosso contributo. Até a Irmandade Muçulmana, que está aqui a manifestar-se connosco. Têm neste momento os mesmos objectivos que nós. Mas nós não nos identificamos com nenhum". Mas quem é o nós?

Tudo mais organizado

A praça Tahrir voltou a encher-se, respondendo ao apelo de fazer "marchas de um milhão de pessoas" aos domingos, terças e sextas. Mais do que nunca, tudo estava bem organizado. Era mais fácil chegar lá, porque a cidade quase voltou à normalidade. O trânsito voltou a circular, muitas lojas e alguns bancos abriram, acabaram os checkpoints em todos os bairros.

Podia entrar-se na praça por vários pontos, de forma segura e ordeira. Os militares continuavam a colaborar com os voluntários civis nos piquetes que identificavam e revistavam quem queria entrar. Mas uma vez na praça, a organização foi significativamente melhorada. Há "recepcionistas" a dar as boas vindas a todos os que chegam, que são conduzidos através de um corredor formado por cordões humanos, onde se cantam canções de acolhimento. "Queremos que todos os que entram aqui se sintam heróis", explicou um dos organizadores desta recepção, Ayman, que trabalha num hotel.

Em vários pontos da praça, há distribuição de comida, água, chá e café. Alguns vendem bolos e refrigerantes. Numa área do centro da praça, onde há o estaleiro de uma obra que estava em curso, organizou-se um depósito para o lixo. Em vários locais, estão montados os acampamentos. Tendas, plásticos e mantas, que estão a ser doadas por particulares e empresas. Cada vez há mais pessoas a dormir na praça, muitas porque não residem no Cairo.

Nas zonas periféricas há ainda elementos sentados à frente de um monte de pedras, prontos a responder a eventuais ataques dos grupos pró-Mubarak. Em frente dos tanques, formaram-se cordões humanos, para os impedir de avançar sobre a praça, caso passe pela cabeça de Mubarak emitir uma ordem desesperada.

ANTÓNIO JOSÉ FORTE

Poema

Alguma coisa onde tu parada
fosses depois das lágrimas uma ilha,
e eu chegasse para dizer-te adeus
de repente na curva duma estrada

alguma coisa onde a tua mão
escrevesse cartas para chover
e eu partisse a fumar
e o fumo fosse para se ler

alguma coisa onde tu ao norte
beijasses nos olhos os navios
e eu rasgasse o teu retrato
para vê-Io passar na direcção dos rios

alguma coisa onde tu corresses
numa rua com portas para o mar
e eu morresse
para ouvir-te sonhar

António José Forte

ANTÓNIO MARIA LISBOA

Politicamente a Metaciência ao pronunciar-se dirá que a verdadeira democracia só será possível quando todos os homens forem poetas. Mas isso não chama ela democracia - mas ANARQUIA!
- António Maria Lisboa, "A Intervenção Surrealista"

Sunday, February 6, 2011

NO PIOLHO


Vens ao Piolho
e não conheces ninguém
as espanholas pedem
que lhes tires fotos
mas não te ligam
por aí além
o que te vale
é essa veia que tens
foste à manif
foste ao Gogol
viste os golos do Messi
na televisão
até pegaste n' "O Jogo"
na tasca do sr. Carlos
olhas para as gajas
não páras de olhar
os outros dão
pontapés na bola
e tu escreves
não há diferença nenhuma
a não ser
que eles ganham milhões
e tu nada
em contrapartida,
não és escravo
de ninguém
e eles são.


Piolho, 5.2.2011