Saturday, March 26, 2011

UM POETA NO PIOLHO

António Pedro Ribeiro: Um poeta "de café" em homenagem aos cem anos do Piolho
Por Sofia Maciel - lcc07013@icicom.up.pt
Publicado: 16.04.2010 | 14:42 (GMT)
Marcadores: Baixa do Porto , Livros , Poesia , Porto

Foi apresentado, esta quarta-feira, o livro "Um poeta no Piolho", da autoria de António Pedro Ribeiro. A obra retrata mais de vinte anos passados no café dos estudantes.

"Escritos de café" é a forma como António Pedro Ribeiro descreve os poemas que compõem o livro "Um poeta no Piolho", apresentado, esta quarta-feira, no bar Labirintho. A obra, que surge como uma "homenagem aos 100 anos do Piolho", refere o autor, retrata mais dos vinte anos de "vivências" passadas no café dos estudantes, desde que o poeta entrou no curso de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Outros livros de António Pedro Ribeiro:
2009 - Queimai o Dinheiro
2007 - Um Poeta a Mijar / - Saloon
2006 - Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro. Manifestos do Partido Surrealista Situacionista Libertário
2004 - Sexo, Noitadas e Rock n' Roll
2001 - À Mesa do Homem Só. Estórias"É uma história da relação quotidiana que nós temos com o café, com a cerveja, com o empregado de mesa, com o gerente, com as mulheres que estão (sentadas) ao lado", referiu, ao JPN, António Pedro Ribeiro.
O livro surgiu por sugestão de Raul Simões Pinto, autor de "As Tascas do Porto", "Pasteleira City" e "Putas À Moda do Porto". "Eu tinha textos antigos de outros livros e tinha alguns inéditos escritos há quatro, cinco anos. Outros foram escritos de enfiada entre Maio e Outubro." Por isso, o poeta "não demorou muito" tempo a escrever o livro.

A apresentação de "Um poeta no Piolho" contou com a participação do jornalista Sérgio Almeida, para quem a poesia de António Pedro Ribeiro "tem a virtude de ser uma poesia de rua". Para o jornalista, o "envolvente" livro tem a capacidade de "interessar e de envolver mesmo aqueles que a partida não gostam muito de poesia ou dizem não gostar".

A poetisa Susana Guimarães também marcou presença na apresentação. "É um livro circunstancial, muito bem contextualizado no centenário do Piolho", considera. "Admiro o poeta que assume a sua vivência de uma forma simples e humilde, completamente entregue à caneta", referiu, depois de ter declamadodeclamado vários poemas do livro de António Pedro Ribeiro, que diz ser "um poeta filósofo inteiro".

JORNALISMO PORTO NET

DECLARAÇÃO DE AMOR AO PRIMEIRO-MINISTRO


LIVRO APRESENTADO EM BRAGA
Poeta Pedro Ribeiro faz "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro"


[14/06/2006 14:00] O politicamente incorrecto poeta portuense António Pedro Ribeiro veio a Braga, quinta-feira, apresentar a sua "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro e Outras Pérolas - Manifestos do Partido Surrealista Situacionista Libertário", obra surrealista e directa que não poupa nas palavras fortes para fazer uso da liberdade de expressão.



"Ele tem um modo de estar arrogante, intolerante e mecânico, um modo de falar robótico, tecnológico", diz Pedro Ribeiro sobre José Sócrates, actual chefe do Governo português, a quem dedica o poema que dá nome ao seu mais recente livro.

Mas além do primeiro-ministro, que o autor, rebelde assumido, pretende ver "num filme porno", há outros visados. "Este livro não é apenas uma dedicatória a José Sócrates, é um livro assumidamente anarquista, guevarista. Todos os poderes estão em causa, não é só o primeiro-ministro", explicou o próprio ao Jornal Digital aquando do lançamento na Livraria Centésima Página, em Braga, cidade onde viveu muitos anos.

"Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro", título cuja escolha "não foi inocente", reconhece o autor, é também um manifesto contra o que se passa actualmente nos partidos políticos em Portugal. Os três primeiros textos são dedicados à Póvoa de Varzim, Porto e Vila do Conde "e respectivos presidentes de Câmara", refere o poeta. Com a primeira autarquia diz ter "uma especial relação de amor. Mais até do que com Sócrates". E nem a Igreja nem os jornalistas escapam à visceral "paixão" de Pedro Ribeiro.

A obra, editada no início do ano pela objecto cardíaco, do escritor valter hugo mãe, que esteve presente na apresentação, é "muito influenciada" por leituras que o autor fez no Verão passado.

Admirador dos situacionistas e dos surrealistas, o poeta utiliza algumas técnicas que estes usaram, nomeadamente a colagem. Em muitos dos seus textos mistura, por exemplo, excertos de notícias de jornais com frases suas ou de outros autores.

Fundador da revista "aguasfurtadas", A. Pedro Ribeiro, que nasceu no Porto no famoso ano de 1968, publicou já outros livros e manifestos. "Eu também escrevo poemas de amor melancólicos", lembra o escritor que é também autor do blog "trip na arcada" e membro da banda Las Tequillas. Alguém que acredita "que a criatividade é o último reduto da rebelião".

Madalena Sampaio
Jornal Digital

O REGRESSO DOS ANARQUISTAS


O REGRESSO DOS ANARQUISTAS
O REGRESSO DOS ANARQUISTAS



António Pedro Ribeiro



Ser anarquista em Portugal, e não só, é ser terrorista e malfeitor. É esta a imagem que o Diário de Notícias de 25 de Abril de 2009 quis passar ao dizer que o SIS e a PSP têm os grupos e os movimentos anarquistas e de "esquerda radical" sob apertada vigilância. O jornal até se dignou publicar os nomes de activistas libertários acompanhados de supostos actos criminosos por eles cometidos. É o regresso da PIDE. Todo aquele que professar ideias anarquistas e radicais e todo aquele que se manifestar contra o capitalismo deve ser perseguido. Este é um sintoma de que o sistema teme os anarquistas e o seu crescimento. Os anarquistas e essa "esquerda radical" estão em crescendo por toda a Europa, de Atenas a Berlim, de Paris a Lisboa e ao Porto. A sua luta, os seus protestos estão fora dos parlamentos, não se enquadram na politiquice e nos jogos eleitorais das esquerdas bem comportadas e convertidas, estão fora da democracia burguesa. E os jovens aderem a esses movimentos porque sabem que esta é a luta da vida contra a morte. É a luta da vida autêntica, plena contra a sub-vida capitalista do desemprego, do trabalho precário, das hierarquias, da repressão, do tédio, do medo. Não podemos aceitar um mundo dos bancos, da bolsa, do capital, da crise e das falinhas mansas do Obama. Aqueles que criaram a crise que a paguem.

Tuesday, March 8, 2011

O HOMEM NO MUNDO


O HOMEM NO MUNDO



João voltou à confeitaria. Observa a empregada. Há dias ofereceu-lhe um poema. Ela agradeceu humildemente mas não voltou a falar nele. João tem-se entusiasmado com o "Livro da Sabedoria" do Padre Mário de Oliveira e com as revoluções que vão do Egipto à Grécia. Permanece estático na confeitaria mas julga-se um profeta dos novos tempos. Os jovens ouvem-no e vêm ter com ele no Pinguim. Sente-se o sucessor do Joaquim Castro Caldas. Anda entre o Porto e Braga. Bebe. Celebra. É o cowboy solitário que entra no "Saloon". ri dos mercados e do ridículo do mundo. É um agitador, dizem. Mas também tem esta face recolhida de leitor, de escritor, de poeta. Reflecte, analisa. Observa as mulheres e as crianças. Em tempos, teve grandes depressões. Esteve no inferno, não conseguia comunicar, queria adormecer e não voltar a acordar. Era bipolar. Também teve alucinações, julgava-se Deus, Jesus, um revolucionário que vinha salvar o mundo. Partiu vidros dos carros, das lojas, dos bancos. Mas agora parece lúcido. Observa as pessoas e vê escravos. Dominados pelo trabalho, pelo sacrifício, pela mercearia. E sobretudo pelo medo. João sabe que pode ser o Homem Integral do padre Mário. Vê gestos de amor nas pessoas mas é um amor contaminado, subjugado. Contudo, está confiante, eufórico, com os sinais do Egipto, da Líbia, da Grécia. Crê que está a chegar a sua hora. Quer a empregada da confeitaria. Sente-se, de novo, um deus, como Zeus, como Posseidon, um deus, no sentido em que se tornou o homem livre, integral. Está no mundo do Grande Dinheiro, do Grande Mercado, mas combate-o, não é escravo dele. Sente-se elevado mas não deixa de ser o homem à mesa. O homem que escreve à mesa. Dono do papel e da caneta. Nada mais. Deseja a empregada. Mas, tal como Ulisses, não pode revelar-se nas vestes do grande rei que regressa. Adopta a postura do intelectual distante. De qualquer modo, duvida que ela seja Penélope. Arruma as mesas. A Sónia de Braga tem mais alma. Com as revoluções no cérebro, João permanece à mesa. É o primeiro e o último dos homens. Recomeça. É Zaratustra que desce da montanha. Um santo por estas terras. Não fala. Lê, estuda. Vai ao fundo do mundo. Vai ao Hades e regressa. É, ele próprio, a vida. Toca-a. Dança com ela. Não tem obrigações nem compromissos. É livre como os animais. Publica nos jornais mas não se deixa levar por eles. Esta noite levantou-se às seis da manhã. Escreveu. O mundo é seu.

www.jornalfraternizar.pt.vu

Monday, March 7, 2011

A MISSÃO


Voltaste aos blocos
mas já não és
jornalista
escreves
umas crónicas
alguns publicam-tas
outras ficam
nos blogues
e no facebook

se chegassem
a mais gente
poderia ser perigoso
os poderes abalariam
acabaria a vida normal
ou talvez, ao invés,
te rejeitassem
e fosses insultado
na praça pública
mas esse é o risco
que tens a correr,
a missão a cumprir.


Braga, "A Brasileira", 3.2.2011

SEM ÓCULOS


Elas vêem-te
mas tu não as vês
estás sem óculos
és belo

a tua mãe dizia
que eras o bebé
mais lindo
agora estás
na "Brasileira"
a beber cerveja

desalinhaste
fizeste um desvio
percorreste as ruas
da cidade
foste ao antigo liceu
ao cemitério
mas eram horas
do fecho

estás na tua cidade
és livre
não tens compromissos
olhas as mulheres jovens
mas não as vês
claramente

a cerveja dá-te ânimo
depois da longa
caminhada
a revolução
está no Egipto
e o Faraó
está de abalada.


Braga, "A Brasileira", 3.2.2011