Monday, May 7, 2007

MALDOROR E OS MÃO MORTA



Entrevista com os Mão Morta: Novos cantos


Davide Pinheiro

O novo espectáculo dos Mão Morta estreia já na próxima sexta-feira. Maldoror é adaptado da obra «Cantos de Maldoror» de Lautreamont e dá sequência a uma ideia já antiga mas que só agora se concretizou. Adolfo Luxúria Canibal desvendou alguns segredos sobre o que se vai passar no palco do Theatro Circo.
«Maldoror» resulta de uma ideia antiga nunca colocada em prática. Por outro lado, Adolfo Luxúria Canibal nunca deixou de se referir a «Cantos de Maldoror» como o seu livro preferido. O útil juntou-se ao agradável.«Era uma ideia antiga do Miguel Pedro. Já para a Expo 98 tínhamos feito uma proposta de apresentar um espectáculo não sobre o livro mas sobre uma estrofe do livro. Na altura, não foi aceite. Eu opunha-me porque achava que era um trabalho para lá da nossa envergadura. Entretanto, acabei por me deixar levar por esta loucura. É uma obra de uma dimensão extraordinária. Da nossa parte, primeiro passámos a obra para a música. Depois foi um trabalho de composição e finalmente montámos o espectáculo.»
Em 1997, os Mão Morta trabalharam textos do dramaturgo alemão Heiner Muller a convite de Jorge Silva Melo. O espectáculo foi apresentado no Centro Cultural de Belém e, mais tarde, em variados teatros do país. Que semelhanças esperar?« Os dois espectáculos têm alguma coisa em comum porque têm uma envolvência cénica muito forte. Na altura, não trabalhámos com um encenador. Trabalhámos os textos do Muller. Aqui, a música dá leitura aos textos e o contrário também. Há uma interferência maior das duas linguagens. No Muller havia pequenas peças que depois narrámos. Aqui pegámos num todo formado por pedaços, esboços de histórias que não chegam ao fim e desse todo retiramos partes ainda mais pequenas mas dando no resultado final a impressão desse livro. O espectáculo não procurou a narração mas sim a fragmentação. A encenação do Muller era nossa. Aqui achámos que não tinhamos capacidade para fazer esse trabalho porque ultrapassava as nossas competências.»
A estreia de Maldoror dá-se em casa, isto é, em Braga (cidade natal dos Mão Morta), no reactivado Theatro Circo. Todavia, há planos para levar o espectáculo a outros teatros do país.« O Muller estreou em Lisboa porque foi co-produzido pelo CCB; este foi o mesmo com o Theatro Circo que reabriu recentemente. Eles convidaram-nos mas chegámos à conclusão que não o conseguiríamos ter pronto em Outubro, depois no fim do ano, e em Fevereiro. Só o conseguimos ter pronto agora em Maio. A estreia em Braga tem a ver com o facto de quem nos produz ser o Theatro Circo. A ideia é haver uma itinerância. Na altura em que fizemos Muller havia poucos espaços, pelo país. Agora há mais e é mais fácil mas, neste momento, apenas Portalegre (dia 19 de Maio) está confirmado. As outras datas estão apenas previstas para 2008, nomeadamente Lisboa, Porto e Coimbra.»
Com a facilidade que a tecnologia oferece em termos de gravação, Maldoror será, inevitavelmente registado para a posteridade tal como «Muller no Hotel Hessischer Hof» foi. A edição não está, no entanto, garantida.A ideia é filmar os espectáculos tal como fizemos com o Muller. Aqui vamos filmar o ensaio geral e os dois primeiros concertos. Consoante o resultado depos veremos. Não é igual a nada do que fizemos mas é imediatamente reconhecivel. Há uma ou outra canção. Há repetições, melodias e desenvolvimentos diferentes. A electrónica tem algum peso como tem sempre mas em grande parte dos temas há uma presença que serve de base. Eu apresento-me com um registo spoken word com gritos esporádicos.


in DIÁRIO DIGITAL

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