Saturday, November 29, 2008

NIETZSCHE

A existência é divina mas só o louco, com a sua sagrada loucura, pode provar a divindade da vida.

VIVE E DEIXA VIVER

Vive e deixa viver. Eis a máxima que Nietzsche também preconizava. Não mandar nem ser mandado. Permanecer livre, espírito livre. Subir às montanhas e ao palco. Rugir "eu quero!" como o leão, alcançar o cume da sabedoria como o menino.

FODA A TODA A HORA


No "piolho" as estudantes cantam que querem foder a toda a hora. No meio de cânticos estudantis banais as gajas gritam a coisa e incomodam os futeboleiros presos às pernas do Lisandro e à glória do FCP no ecrã. Gosto desse novo hedonismo regado em cerveja que despreza a ditadura do pontapé na bola. É pena que as estudantes se fechem nesses rituais e não abram as pernas aos poetas de café.

Thursday, November 27, 2008

SEREIA NA AREIA (CANÇÃO)


Sereia na areia
quero-te comer
as ancas
o cu
o sexo
as mamas

sereia na areia
contorce-te
voa no trapézio
faz strip para mim

sereia na areia
come o gelado
deixa o namorado
o biquini rosa
mata-me
acende-me
dá cabo de mim

sereia na areia
no meio das gaivotas
e das risotas
vem até mim

à trip do poeta
ao limbo do asceta
à távola de Artur
à alquimia de Merlin.

Vila do Conde, 6.8.2006

AS PERNAS DA GAJA

Está uma gaja à minha frente
e apetece-me tocar-lhe as pernas
a gaja nem é grande espingarda
mas apetece-me tocar-lhe as pernas
o problema é que ando enjoado
e ontem estive a ler a Bíblia.

VERMELHÃO

VERMELHÃO

Está um gajo com a cara vermelha no metro
Está o metro todo vermelho a partir caras
Está a cara vermelha a fazer caretas
Estão os gajos vermelhos no “Piolho”
a beber cerveja a metro
Está o metro atrás do piolho
dentro da cerveja vermelha
Estão as gajas a entrar no metro
de cachecol vermelho
Está o caracol vermelho a correr para o metro
Está o gajo do casaco vermelho
a olhar para o poeta dentro do metro
Estão os controleiros a controlar toda a gente
por causa do bilhete vermelho
Está um gajo com a cara vermelha no metro

Tuesday, November 25, 2008

OS FUTEBOLISTAS NO ECRÃ


Há gajos que me cumprimentam sem eu saber de onde os conheço. Começo a ficar famoso. Gosto de gajos que me estimulem intelectualmente. E de gajas que me estimulem sexualmente. Os futebolistas que se esfarrapem todos lá no ecrã.

POESIA E COMIDA

Hoje não me sai grande coisa. Não há gajas boas. Só tédio. Ontem fui a Ribeirão dizer poesia e empanturrei-me de comida. Oxalá fosse sempre assim. Dizes poesia e dão-te de comer. É o banquete permanente que tanto apregoas.

ZARATUSTRA

Zaratustra também foi rejeitado pela multidão quando desceu à cidade para anunciar o super-homem. É preciso ter cuidado com o modo através do qual nos dirigimos à multidão. Não pode ser de qualquer maneira. Não é só chegar aos bares e descarregar.

O BANQUETE PERMANENTE


E é a Nietzsche e a Morrison que volto sempre. É o rugido do leão: "Eu quero!" que me empurra para a vida. "Queremos o mundo e exigimo-lo, agora!". É este mundo que nós queremos, não o mundo do além das religiões. Queremos o céu na Terra, como dizia Henry Miller. Aqui e agora! Não podemos esperar pelo amanhã. É a pulsão vital que nos chama aqui e agora, não vamos esperar mais mil anos, não vamos esperar pelo amanhã que canta. Queremos a revolução, aqui e agora! Que se foda o futuro! Não somos seguidores dos economistas nem do ministro das Finanças que nos prometem dias melhores. Estamos fartos de promessas. Não podemos cair nas suas patranhas de profetas da morte. É o aqui e agora, é a vida aqui e agora que queremos. "Estamos fartos de esperar, cansados de tantos rodeios", cantou o Jim Morrison. Não seguimos ninguém mas também não queremos conduzir nem governar ninguém. Não precisamos de governos nem de Estados. Seguimos o caminho que conduz a nós mesmos, gostamos de vadiar, de andar sem direcção definida, de criar sem disciplina. Detestamos o rebanho, os que seguem um chefe, um Estado, uma lei, um mercado. Procuramos o super-homem, o menino, o bailarino, o deus que dança. Nada temos a ver com o quotidiano mesquinho e castrador do deus-dinheiro. Somos poetas, criadores, "caminheiros dos céus". Celebramos a vida, queremos que a vida seja um banquete permanente. Celebramos a mulher, a sensualidade, a volúpia, desconfiamos dos castradores, dos moralistas. Não somos moderados como os filósofos de Platão, não fomos feitos para governar nem para dirigir. Pregamos o amor mas também a raiva. Subimos ao palco como subimos à montanha. Comunicamos com os deuses e com os espíritos mas é este mundo que nós queremos.

Tuesday, November 18, 2008

DO MERCADO


O mercado é a negação da vida. O mercado é insensível a tudo: à dor, à pobreza, à miséria. É o próprio mercado que produz a dor, a pobreza, a miséria. O mercado torna o homem dócil e submisso. O mercado e os seus profetas trazem a morte. O mercado e os economistas reduzem tudo a um conjunto de números sem sentido, a gráficos, a estatísticas assexuadas. O mercado e os economistas matam a vontade, a pulsão vital, a alegria, vão dando cabo do homem. O mercado, o dinheiro e os economistas constituem a nova trindade que reduz o homem à escravidão. O mercado, o dinheiro e os economistas são a própria morte! Só o renascimento do espírito dionisíaco pode derrubar a trindade. O mercado traz a intriga, a desconfiança, a trapaça, a avareza, a usura. O mercado é castração, faz de nós camelos.

Monday, November 17, 2008

O XAMÃ


O Xamã



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O xamã é um ser sem regras, não sabe o que vai encontrar em seu caminho. Cada dia, cada momento vive para descobrir o maravilhoso e o horripilante. De uma ou de outra forma sabe que ambas são faces de sua própria visão. Não se apega porque sabe que tudo muda, que tudo é impermanente e se deleita com o desconhecido. O tédio não é parte de sua vida... Seu corpo é frágil porque lida com forças terríveis e magnificentes.

Observa o universo como seu Pai e a Terra como sua Mãe...

Vive em completo desapego, até o ponto de ser odiado... Odiado por não dar importância ao que os demais dão importância. O xamã sabe e só sorri, só olha, só observa.

O xamã é produto do amadurecimento de um coração. Do amadurecimento do espírito. Somente um coração maduro entra no caminho do xamã e, uma vez que se entra, se dá conta de que o mesmo caminho, cedo ou tarde, fará com que seu coração desapareça na imensidão do coração desse maravilhoso universo.

Nota: (Autor desconhecido.)

Saturday, November 15, 2008

MORRISON

Bem cedo, antes mesmo de ser conhecido do público, Jim já sabia o que queria, embora ele tenha feito uma outra coisa a mais além daquilo que havia imaginado para si mesmo, Jim sempre quis ser escritor: "inicialmente eu não tinha a intenção de fazer parte de uma banda. Queria fazer filmes, escrever peças, livros. Quando me vi numa banda, quis trazer algumas dessas idéias dentro disso".

Os Doors surgiram como uma proposta de Jim Morrison de levar a sua arte e seus pensamentos a um público mais acessível, pois ele se serviria do Rock para veicular suas próprias idéias. Mas Jim não queria só fazer letras falando “de amor” tipicamente do verão flower power. Não, Jim queria ir além; queria levar uma arte dramática aos palcos, queria colocar o público em suspenso, fazer ele entrar em uma sintonia uníssono com a pulsão dos instintos da natureza humana, para fazer uma purgação. Unir os contrários num ritual de purificação. Juntar o que foi separado, curar a alma dos enfermos. Dar-lhes o alimento da alma: sede de vida.

Era um momento oportuno, levando-se em conta as transformações que se operavam naqueles famigerados anos 60: protestos, passeatas, luta pela igualdade entre raças, pela paz... enfim, um aluvião de movimentos que se levantavam contra um tipo de sociedade baseada em valores machistas, classista, homófoba, sexista e beligerante.

A arte como redentora das dicotomias e da moral opressiva. O The Doors seria a metáfora sob a qual o público mergulharia para ascender a um patamar mais elevando da sua própria condição existencial. Não haveria “regras” e nem ordem a seguir, tudo far-se-á sob o próprio espelho da arte. E como “a arte se alimento de um sentido bruto que escapa a todos os modelos de pensamento pré-estabelecido, por isso, ela é uma espécie de ciência secreta que manifesta o enigma do mundo”. Fica-se à vontade para expressar-se livremente por entre as infindas possibilidades de transcender o ser-ai, o que é meramente dado. Como não existe nenhum “valor eterno”, porque todos os valores foram criados pelo homem, a arte deve mostrar horizontes mais plásticos e dilatados, além da mera arena com que circunscreve todos os movimentos desse circo de asilo, onde todos permanecem cativos de “Lords” que, impotentes para viver o próprio desafio que a existência lhes propõe, tramam e arquitetam valores decadentes para sujeitar a massa.

Dentro dessa perspectiva, porém, Jim terá que enfrentar um sistema paquidérmico e impotente, pois os valores apregoados pelo sistema não permitirá que se viva ou que de proponha mudanças no seu quadro comodamente administrado. Não tarda muito e os problemas aparecem. Jim é tido como louco, desviante, perturbador da ordem, rebelde, tudo que a sociedade ordeira usa para inibir quaisquer comportamentos que não sejam os já estrategicamente instalados.

Após anos dessas experiências, os anos 60 são lembrados com os anos em que são propostos outros modelos de sociedade e de formas de se viver nela. Ray Manzarek, amigo e tecladista da mítica banda The Doors, nos trás outra leitura a respeito da trajetória da banda e de seu líder. Quer que essas versões diminutas sobre Jim sejam revistas à luz da poesia e de uma outra visão da pessoa que era Jim Morrison, porém os equívocos criados em torno dele não são fáceis de serem diluídos. Há interesses por trás dessa farsa. A primeira foi montada pelo direto Oliver Stone, que continua defendendo o seu filme “The Doors” como o retrato legitimo de Jim Morrison, a despeito de toda a critica ter afirmado que seu filme é uma criação da própria cabeça dele. Se não bastasse a critica do meio especializado, surge uma analise mais profunda do caso na pessoa do Phd. Wallace Fowlie, professor emérito de literatura Francesa da cátedra James B. Duke, da Duke University e autor de mais 35 livros. Segundo Dr. Wallace, o filme é uma ficção da cabeça do próprio diretor.

Em entrevista recente, por ocasião do inicio do documentário dos três remanescentes dos Doors sobre a trajetória do grupo, Oliver afirmou que não mudaria nada no filme dele sobre Jim, que o documentário perpetrado por Ray não trará novidade alguma.

Mas o Oliver Stone não anda lendo, ou finge que existe uma critica pesada sobre seu filme. Contudo, o Ray tem andado o mundo todo falando de Jim, de um Jim que não aparece no filme do Oliver Stone, mostrando que Jim está além daquilo, que Jim ainda está por ser descoberto. Mas para isso é necessário documentar o que realmente acontecia na vida dos 4 Doors.

Ray prometeu o documentário até final do ano. Aguardemos confiantes.




Texto do Prof. Helder Colavite Modesto


FONTE: www.heldercolavitemodesto.blogspot.com
http://jimmorrisonfilosofopoeta.blogspot.com

JIM MORRISON


Jim escreveu um *ensaio bastante hermérico, publicado na revista Eye. Na Época da sua publicação, o artigo de Jim chamou muito a atenção pelo hermetismo e pela profundidade abordada no artigo, ou seja, o "Olho".

Jim, para quem já esqueceu ou não sabe, escreveu um conto em que o personagem "Billy" anda a pedir boleia pelas estradas. Billy se mete em muitas encrencas, até que é preso e condenado, pois comete assassinato. O conto evoca a idéia das viagens, andar a boleia...vagabundear, são termos que fazem parte do contexto dos anos 60/70, mas vai além, muito além; remete-nos aos arquétipos das grandes viages, dos grandes livros de lietartura, desde a Odisséia, A Divina Comédia, Cervantes, etc, etc.

O conto de Jim traz um personagem que vagueia, vagueia, mas não sabe como imprimir um sentido à sua liberdade, pois acaba por cometer assassinatos e vai para a cadeia, lugar privado daquilo que ele (o personagem) não queria. Isso nos faz lembrar de Alberto Camus, no seu "O Estrangeiro".

Jim fora muito preocupado com a liberdade, e isso se reflete profundamente em toda a sua obra. Por meio dessa personagem e por muitas outras que Jim criara, todas estão sempre enlaçadas na condição humana, sempre atreladas aos conflitos inevitáveis, mas sempre presas à condição de ter que dar um sentido a própria liberdade.

DEPOIMENTOS SOBRE JIM MORRISON



"Ele era um intelectual clássico. Ele tentou, à sua maneira, ser um Renascentista (...). Ele aprovava o pensamento de Da Vinci. Eu nunca o vi sem um livro, fosse lendo ou escrevendo um. Ele era um literato".

Paul Rotchild

"A experiência de tocarmos juntos era tão intensa, tão forte...que não precisávamos fugir da realidade do dia a dia e ficar doidões".

Ray Manzarek

"Jim sempre gostou de testar as pessoas, de testá-las como ele testava suas fronteiras pessoais. Gostava de descobrir as fronteiras das pessoas que o cercavam. Apertava todos os botões internos, os da motivação para descobrir onde estavam seus muros".

Paul Rotchild

"Ele viveu 50 anos de vida em 4,5 de palco. Ele se deu por inteiro e não pediau nada em troca, a não ser: 'leiam minhas letras'. Eu o estou elogiando por chegar ao limite porque alguém tinha que fazer isso para nós, os covardes".

Jerry Hopkins

http://jimmorrisonpoetapensador.blogspot.com

O RELÓGIO

Contra as Leis

A partir de hoje penduro ao pescoço
Com uma corda de crina o relógio que marca as horas;
A partir de hoje cessam o curso das estrelas
E do sol, e o canto do galo e a sombra;
E tudo aquilo que a hora nunca anunciou
Está agora mudo, surdo e cego:
Toda a natureza se cala para mim
Diante do tiquetaque da lei e da hora.

Friedrich Nietzsche, in "A Gaia Ciência"

NIETZSCHE


A Problematicidade de Deus em Nietzsche

“Já ouviu falar daquele louco que acendeu uma lanterna numa manhã clara, correu para a praça do mercado e pôs-se a gritar incessantemente: “Eu procuro Deus! Eu procuro Deus!". Como muito dos que não acreditam em Deus estivessem justamente por ali naquele instante, ele provocou muita risadas... “Onde está Deus!”, ele gritava. “Eu devo dizer-lhes: nós o matamos – você e eu. Todos somos assassinos... Deus está morto. Deus continua morto. E nós o matamos...”

- (Friedrich Nietzsche, Gaia Ciência (1882), parte 125.)


Nietzsche, em seu filosofar, não pode ser identificado como um filósofo portador de um discurso periculoso e trágico. Pelo contrário, essa suposta carga negativista e pessimista que se verifica nos seus escritos, ressoam, em quase todas as suas abordagens, como um manifesto de reivindicação e de superação da condição existencial humana. Em Assim falou Zaratustra, Nietzsche destaca a necessidade do anúncio do super-homem. Nele, Zaratustra, seu personagem principal, proclama a falência da civilização e a aurora de uma nova era. É o anúncio de que o homem deve superar a si mesmo, à sua potencialidade negada. Procurando sacudir o velho homem, que vivia enclausurado no seu pessimismo e ilusão, o novo pretende ser substituto daquele. O superar típico do super-homem, entendido como ato de abertura para o nada ou para o sagrado, nada mais é do que a própria vontade de poder. O super-homem como superação implica a dimensão do divino, que, segundo Nietzsche, seria um “ponto” na vontade de poder. Sendo assim, o divino não é uma coisa separada do homem, tampouco uma realidade para fora de si e que tem poder de manipulação, mas o divino e o humano se encontram no ato contínuo e ininterrupto de superação do objeto conhecido e, por conseguinte, na consciência do não-poder em relação ao não-objeto, isto é, ao nada (Penzo, 1999).

Desta forma, é revertida a concepção metafísica do conhecer como esperança e a de Deus como causa última de segurança. Para Nietzsche, a segurança na raiz metafísica leva o homem a experiênciar a convicção e a segurança, levando-o a ver Deus como objeto último de sua esperança, donde provêm a sua fé e a sua verdade absolutizada. Nessa linha, seria catastrófico para o homem, sedimentado em terreno metafísico, ouvir a proclamação da morte de Deus, pois ela acentua a natureza do medo e da dramaticidade existencial, visto que pensar na sua ausência assinalaria o declínio da esperança e o estabelecimento da incerteza. O anúncio da morte de Deus, portanto, não se trata de propagar idéias anti-teístas. Não pretende ser a disseminação do ateísmo. Mas em erigir um novo conceito sobre o homem e sobre Deus. A morte de Deus, para Nietzsche, representa o fim e o declínio da formulação do Deus que a metafísica clássica ocidental construiu: o de ser absoluto e supremo. Quer dizer que a idéia do Deus do cristianismo deveria morrer na consciência do ser humano enquanto mantenedor do sistema tradicional de valores. Como resultado disso, alguém deveria ocupar o seu lugar – o próprio homem.

No passado, o ser humano obedecia irrestritamente ao “farás” e “não farás”, da parte de Deus ou dos códigos doutrinais rigidamente patrocinados e construídos pela religião burocratizada. Para Nietzsche, esse ditos e sentenças estavam com os dias contados. Uma nova ordem de valores estava para ser estabelecida. O homem não mais podia se inclinar aos mandamentos divinos. Mas deveria ele mesmo conduzir os seus próprios desígnios. Somente ele é que poderá fazer as suas escolhas. E, acima de tudo, optar por uma delas, sejam elas boas ou más. É o que Nietzsche emblematicamente denomina de: “a transvalorização de todos os valores”. Os valores antigos e tradicionais caducaram. Esse arcaicos valores devem ceder espaço para o surgimento de novos valores. Não mais centrados em afirmações religiosas ou metafísicas. Mas redigidas e assinadas pelo próprio homem. Porém não é qualquer homem. Tem de ser um homem superior. Não o que prometa felicidade e gozo na transcendentalidade, mas concretamente, existencialmente. Este homem superior, portanto, é o Ubermensch, literalmente homem superior, passando a ser denominado também de super-homem. Entretanto, esse super-homem não tem qualquer conexão com o herói em quadrinhos.

Nas reflexões de Nietzsche, este homem superior era proveniente do desenvolvimento da humanidade num sentido darwinista. Ele aceitava as idéias de Darwin no que tange ao processo seletivo e natural da vida, no qual as espécies mais fracas são aniquiladas e as mais fortes sobrevivem para produzir espécies mais fortes ainda.

A teoria evolucionária de Darwin fundamenta e alimenta os pressupostos nietzschianos, sobretudo em relação ao homem superior. Porém, ele não pensou apenas numa nova raça desenvolvida nos níveis educacional ou espiritual que partisse do inferior para o superior. Ele tomou a idéia de Darwin literalmente. Pensava que o homem superior haveria de ser fisicamente mais forte. Deveria ter poder no soma [corpo] e na psique [alma]. Metaforicamente, deveria ser uma espécie de “besta-fera”, um centauro [metade gente, metade animal], bastante desenvolvido intelectualmente, não irracional, mas poderoso, representando, assim, uma nova formatação existencial completamente acima e superior do homem europeu massificado. O homem massificado evita a qualquer custo a controvérsia. É conformista, indiferentista e não têm preocupações supremas, acha a vida aborrecida e é cínico e vazio. É o que chama de niilismo (ex nihilo), para o qual a nossa cultura se dirige (Tillich). A bem da verdade, ao anunciar o super-homem como superação de si mesmo, Nietzsche sublinha e apresenta, em Assim falou Zaratustra, uma nova transcendência filosófica, pautada no nível existencial, na qual se abre o horizonte “nadificado” entendido positivamente, que se resolve como o horizonte do sagrado.

Assim, em seu pensamento sobre o sagrado, Nietzsche observa que a morte de Deus é um acontecimento cultural, existencial e extremamente necessário para purificar a face de Deus e, por conseqüência, a própria fé em Deus. Deste modo, Nietzsche não mata Deus. Mas limita-se a constatar a ausência do divino na cultura do seu tempo, acusando, pelo contrário, por essa ausência e morte, a teologia metafísica. Com base na rejeição da tese da fé-segurança, que a priori funda-se numa certeza típica da ciência, Nietzsche também crítica o espírito que levará a secularização inautêntica ou ao secularismo do cristianismo.

Logo, matar a Deus significa, noutras palavras, matar o “dogma”, o “conformismo”, a “superstição” e o “medo”, é não aceitar mais a imposição de regras cristalizadas, que impossibilitam a superação e a transcendência, além da auto-afirmação do ser humano, que luta incansavelmente para libertar-se elevar-se em sua saga existencializada.

Referências Bibliográficas

COPLESTON, Frederick S. J. Nietzsche: filósofo da cultura. Coleção Filosofia e Religião, Porto, Portugal, Livraria Tavares e Martins, 1953.

MARTON, Scarlett. Nietzsche. 4ª ed., In: Coleção Encanto Radical, São Paulo, Brasiliense, 1986.

PENZO, Giorgio. O divino como problematicidade. In: Deus na filosofia do século XX, São Paulo, Loyola, 1999.

TILLICH, Paul. Perspectivas da teologia protestante nos séculos XIX e XX. Trad. Jaci Maraschin, 2ª ed., São Paulo, ASTE, 1999.


[http://www.geocities.com/Athens/4539/deusestamorto.htm]
Postado por JOSÉ VANIR DANIEL às 18:51 0 comentários
NIETZSCHE (1844 - 1900)

“Todo trabalho importante – deves ter sentido em ti mesmo – exerce uma influência moral. O esforço para concentrar uma determinada matéria e dar-lhe uma forma harmoniosa, eu o comparo a uma pedra atirada em nossa vida interior: o primeiro círculo é estreito, mas amplos se destacam”. (Carta de Nietzsche a Deussen.)

VIDA e OBRA

O século XX inaugura-se com morte de F. Nietzsche, que se revela como o seu pensador mais significativo. Sua vida é breve e solitária, embora mantenha sempre vivo um laço de afeto com a mãe e a irmã Elisabeth. Mesmo em sua solidão, ele se mantém em constante contato epistolar com alguns fiéis amigos e amigas.

1844 - Friedrich Wilhel Nietzsche, nasce em Rócken, na Prússia, no dia 15 de outubro. Seu pai e seus avós eram pastores protestante. Nietzsche pensou em seguir a mesma carreira.

1849 - Morre seu pai e seu irmão, em decorrência disso, sua mãe mudou-se com a família para Namburg.

1858 - Obtém uma bolsa de estudos, ingressando no Colégio Real de Pforta, local onde havia estudado o poeta Novales e o filósofo Fichte. Influenciado por alguns filósofos e professores, Nietzsche progressivamente começa a afastar-se do cristianismo. Exímio aluno em grego e nos estudos bíblicos além do alemão e latim, inclinou-se à leitura dos clássicos de Platão e Ésquilo.

1864 - Inicia a carreira acadêmica na Universidade de Bonn, on’de se dedicou aos estudos de filosofia e teologia, mas tarde acaba por abandonar a teologia.

1865 - Transfere-se para a Universidade de Leipziz onde sob a influência de seu professor Ritschl, eminente helenista, passa então a dedicar-se exaustivamente ao estudo da filologia clássica. Seguindo as pegadas de seu mestre, se debruçou na investigação de obras clássicas tais como: Homero, Diógenes Laércio (séc. II), Hesíodo (séc. VIII aC.). Nesta época entra em contato com as obras de Arthur Schopenhauer.

1867 - Incorporado ao serviço militar sofre um acidente de montaria e é dispensado, voltando a se dedicar aos estudos em Leipziz, onde consegue o cargo precoce de professor de Filologia Clássica na Universidade de Leipziz. Ainda em Leipziz, conhece Richard Wagner onde a notável influência deste homen o faz a dedicar-se a música e poesia. Nesta mesma época apaixona-se por Cosima, filha de Liszt que vem a ser a musa inspiradora de sua obra posterior a "Sonhada Ariane".

1869 - É nomeado professor de Filologia Clássica na Universidade de Basiléia, na Suíça. Todas as manhãs, de segunda a sábado, a partir das sete horas, dava cursos sobre Ésquilo e sobre a poesia lírica grega. Para um público numeroso faz palestras “Sobre a Personalidade de Homero”, “Sócrates e a Tragédia” e “O Drama Musical Grego”. Redige “A Visão Dionisíaca do Mundo”, primeiro capítulo de um ensaio que pretendia escrever sobre a “Origem e Finalidade da Tragédia”

1870 - Devido a guerra entre Alemanha e França é convocado ao serviço militar como enfermeiro, permanecendo por pouco tempo, pois adoece ao contrair difteria e dessinteria. Retorna a Basiléia a fim de prosseguir em seus cursos.

1871 - Acaba de redigir, O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música, publicado em janeiro de 1872.

1872 - Passa todo o ano imerso em ocupações: prepara os cursos para a Universidade, escreve e, de quando em quando, compõe. Redige, nessa época, um pequeno ensaio sobre “A Kusta de Homero” e dedica-se ao estudo dos filósofos pré-socráticos.

1873 - Redige "A Filosofia na Época Trágica dos Gregos" e "Introdução Teorética sobre Verdade e Mentira no Sendito Extra-Moral". David Strauss, o devoto e o escritor. Primeiras crises de saúde.

1874 - São editadas a Segunda Consideração Extemporânea: Da utilidade e Desvantagens da História para a Vida, e a Terceira: Schopenhauer educador.

1876 - Aparece a Quarta Consideração Extemporânea: Richard Wagner em Bayreuth.

1878 - Publica Humano, demasiado Humano.

1879 - Apresenta carta de demissão junto à Universidade de Basiléia, doente abraça uma vida errante, volta à cátedra e escreve mais 2 apêndices a Humano, demasiado Humano: Miscelânea de Opiniões e Sentenças e O andarilho e sua Sombra.

1880 - Nietzsche publica O Andarilho e sua sombra.

1881 - Publica Aurora - pensamentos sobre os preconceitos morais. Em Sils Maria, é atravessado pela visão do eterno retorno. Durante o verão reside em Hante, é nessa pequena aldeia de Silvaplana que durante um passeio, teve a intuição de O Eterno Retorno, redigido logo após. Em outubro de 1881 vai a Gênova, depois a Roma.

1882 - Aparece Gaia Ciência. Em abril, conheceu em Roma uma jovem russa chamada Lou Salomé. Sua presença de espírito e capacidade de escuta atraíram-no; seu ardor intelectual e desejo de vida seduziram-no. Aos trinta e sete anos, apaixonou-se. Embora o pedido de casamento tivesse sido recusado, uma afetuosa amizade nasceu entre eles. A família de Nietzsche interpôs-se: temia que uma ligação escandalosa viesse a macular sua reputação. Arrastado por sentimentos contraditórios, ele não sabia mais em quem confiar, rompendo com todos. Idéias de suicídio perseguiram-no; por três vezes, chegou a tomar uma quantidade abusiva de narcóticos. Retorna à Itália.

1883/5 - De volta à Alemanha escreve: Assim falou Zaratustra: Um Livro Para Todos e Para Ninguém.

1886 - Surge Para Além de Bem e Mal - prelúdio a uma filosofia do porvir. Escreve os prefácios ao primeiro e segundo volumes de Humano, demasiado Humano, O Nascimento da Tragédia, Aurora e A Gaia Ciência, assim como a quinta parte deste livro.

1887 - Redige "O Niilismo Europeu" e publica Para a Genealogia da Moral - um escrito polêmico em adendo a Para Além de Bem e Mal como complemento e ilustração. Instala-se em casa de sua mãe, em Naumburgo. Após a morte dela a irmã leva-o para sua residência em Weimar e ali ficaram a viver os dois.

1888 - Escreve O Caso Wagner, Crepúsculo dos Ídolos, O Anticristo, Ecce Homo e elabora Nietzsche contra Wagner e Ditirambos de Dioniso. Alguns de seus livros só foram editados depois de sua morte. Em vida financiou todas as suas obras. Neste período passa a escrever cartas estranhas aos amigos. Até então não havia sinal decisivo de loucura, tratava-se de uma doença orgânica do cérebro com caráter de paralisia, onde constatou-se a loucura psicológica.

1889 - Em Turim, no auge da sua enfermidade, passa a assinar as suas cartas ora como Dionísio, ora como o crucificado. Sendo internado nesta época, numa clínica psiquiátrica em Basiléia, com o diagnóstico de paralisia progressiva, provavelmente de origem sifilítica. É transferido para Jena.

1890 - Deixa a clínica de Jena sob a tutela da família.

1900 - Morre a 25 de agosto em Weimar, vitimado por uma pneumonia. A irmã refere à hora do seu passamento, precedido duma grande trovoada, o que a fez supor que ele patiria deste mundo entre relâmpagos e trovões. “Assim partiu Zaratrusta”Nietzsche foi sepultado em Röchen, e Peter Gast seu dedicado amigo, pronunciou um curto elogio fúnebre ‘a beira assim como para o seu Autor, a quem ele havia negado.


[http://existencialismo.sites.uol.com.br/nietzsche.htm]
http://entendanietzsche.blogspot.com

Thursday, November 13, 2008

A SOCIEDADE-ESPECTÁCULO


A sociedade-espectáculo faz de nós espectadores passivos, mercadorias que transacionam outras mercadorias. A sociedade-espectáculo é a sociedade da morte, do trabalho rotineiro e acrítico, do cinzentismo, da mercadoria que entra e sai da confeitaria, das facturas que a Joana assina. A sociedade-espectáculo é a sociedade dos imbecis que nos governam, dos governos, das multinacionais até às Juntas de Freguesia, é a sociedade dos cegos que se deixam governar, como diz Shakespeare. Esta sociedade não serve. Faz de nós autómatos, números, caixas registadoras, contas bancárias, cartões multibanco. A única coisa que ainda agita esta merda é o sexo. Compreendeis agora porque falo tanto em sexo, porque coloco as gajas boas no blog? Se não fosse o sexo ou o desejo sexual e aí é que esta merda morria por completo. Se aparecessem agora umas gajas boas logo a minha escrita se modificava. Mas nada. Só aparecem distribuidores de mercadoria. Olha! Caíram do céu umas gajas mas não são suficientemente boas. Deixa-me lá avaliar melhor a mercadoria. O cabelo de uma tapa as mamas da outra. Estou fodido! Pois, mas estava a falar da sociedade-espectáculo, deixa-me lá teorizar sem ligar a coisas de somenos importância como as gajas. As gajas que venham ter comigo no fim do espectáculo. Eh, pá! Mas quando as gajas começam a tirar os casacos um gajo avalia melhor a mercadoria. Não está mal. Estas parecem do género convencional, bem comportadinho, nunca se sabe. Mas dizia eu, Guy Debord...eh, pá! O Debord também apanhava umas bebedeiras. Debord e Vaneigem falavam da poesia. É evidente, não a poesia dos livros mas a poesia enquanto criação, enquanto transgressão. E depois prefiro a conversa das gajas. A conversa da maior parte dos gajos é tão chata. Só falam de futebol. De futebol e de trabalho. Duplamente chata. Ninguém fala de psicanálise como o Freud ou como o Rocha. Platão, porque não voltas à Terra? Escutar-te-ia atentamente. A verdade é que a sociedade-espectáculo é uma grande seca.

ATRÁS DA LOUCURA


"'We want the world and we want it...Now!', gritou o Jim Morrison e todos os sinos, todas as missas, todas as convenções, todas as ilusões, todas as falsas convicções, todas as aparências, todas as conveniências, todas as normas, todas as infâncias acabaram ali, naquele momento(...). E, a partir daí, tive de ir sempre atrás da loucura, até hoje."António Pedro Ribeiro------

COM UM ABRAÇO AO LUÍS

Portugal
Eu tenho vinte e dois anos
e tu às vezes fazes-me sentir
como se tivesse oitocentos
Que culpa tive eu que D. Sebastião
fosse combater os infiéis ao norte de África
só porque não podia combater a doença
que lhe atacava os órgãos genitais,
e nunca mais voltasse
Quase chego a pensar que é tudo mentira,
que o Infante D. Henrique
foi uma invenção do Walt Disney
e o Nuno Álvares Pereira
uma reles imitação do Príncipe Valente


Portugal
Não imaginas o tesão que sinto
quando ouço o hino nacional
(que os meus egrégios avós me perdoem)
Ontem estive a jogar póker com o velho do Restelo
Anda na consulta externa do Júlio de Matos
Deram-lhe uns electro-choques e está a recuperar
àparte o facto de agora me tentar convencer
que nos espera um futuro de rosas...


Portugal

Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos
a ver se contraía a febre do Império
mas a única coisa que consegui apanhar foi um resfriado
Virei a Torre do Tombo do avesso
sem lograr encontrar uma pétala que fosse
das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador


Portugal

Se tivesse dinheiro comprava um Império e dava-to
Juro que era capaz de fazer isso só para te ver sorrir

Portugal
Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém
Sabes
Estou loucamente apaixonado por ti
Pergunto a mim mesmo
Como me pude apaixonar por um velho decrépito
e idiota como tu
mas que tem o coração doce
ainda mais doce que os pastéis de Tentúgal
e o corpo cheio de pontos negros
para poder espremer à minha vontade


(....)


Portugal
Sabes de que cor são os meus olhos?
São castanhos como os da minha mãe

Portugal
gostava de te beijar muito
apaixonadamente
na boca...


Jorge de Sousa Braga (extracto)
mais poemas em www.pedacosdalma.blogspot.com

Tuesday, November 11, 2008

OS POETAS


POETAS



Descemos à cave

para celebrar o poema

trazemos o fogo

que roubámos aos deuses

brindamos à vossa mesa



Somos da raça dos malditos

dos renegados de todas as eras

connosco as damas não estão seguras

connosco o sangue ferve de raiva



Os negócios dos homens nada nos dizem

entre faunos e sátiros

erigimos a nossa morada

o homem vulgar não nos atinge



Os nossos festins não conhecem limites

estamos irmanados com a loucura



O nosso grito é inumano

Vem do centro da Terra

O riso é satânico dionisíaco



Não usamos relógios

a nossa hora é o Grande Meio-Dia

as regras dos homens nada nos dizem

só as seguimos, quando as seguimos,

por conveniência



Entramos no espírito dos homens

convertemos as mulheres em bacantes

semeamos o caos e a anarquia



O sossego e o tédio amolecem-nos

tornam-nos tímidos

mas o vinho robustece-nos

torna-nos xamãs

irmãos dos deuses

Poetas.

D. JUAN


Vir ao café
sentar-me a teu lado
e esperar que te refiras
ao livro
que tem a minha cara
ouvir-te falar
ficar sem palavras
e sem álcool
ficar a saber quem és,
minha cara

Chegar ao dia seguinte
arrependido
certo de que agora tenho
as deixas certas
e canalizar as energias
para a gaja
que está de costas
no café
onde tudo começa
e ela olha
talvez me pergunte
pelo livro
que tem
a minha cara.


Vilar do Pinheiro, Motina, 11.11.2008

ORFEU

Voltei ao "Orfeu". Agora só se vêem por aqui velhos e futeboleiros. Em tempos vinham para aqui jovens estudar. Isto ficava cheio. Agora na parte de cima há uns gatos-pingados a ler jornais desportivos. Falta cá o Rocha para fazer uma análise racional e sociológica.

Sunday, November 9, 2008

ESBOÇO DE MANIFESTO


Continuo a acreditar na revolução, numa revolução sem dirigentes, sem partidos, sem disciplina. Uma revolução espontânea, dionisíaca, que nasce do caos. Continuo a descrer nos movimentos colectivos organizados porque toda a organização tende a ter chefes, poderes organizados. Acredito que, como dizia André Breton, as ideias de revolução e de amor, juntas, oferecem possibilidades ilimitadas. Acredito numa força divina- que vem das ideias de amor, revolução e liberdade-, dionisíaca que está dentro do espírito do homem, que está no xamã. Acredito numa revolução que se faz à margem da racionalidade.

ARLINDOS


Que vida leva o Arlindo? Trabalho. Trabalho. Trabalho. E depois ir para casa olhar para a televisão. Dormir-trabalho-televisão. Que puta de vida a do Arlindo. Que puta de vida a dos Arlindos deste país. Incapazes de uma conversa com elevação. Incapazes de se deleitarem com um livro. tenho pena dessa gente. Sempre a fazer contas, sempre agarradinhos ao dinheiro, aos preconceitos e a Cristo Nosso Senhor. Se ele voltasse seriam os Arlindos os primeiros a interná-lo num hospício. Não! Não vos invejo. Não troco a minha vida pela vossa. Já disse: tenho pena de vós. Não nasci para isso. Aprendi a ser livre com Zaratustra.

Saturday, November 8, 2008

DIONISO CONTRA O MERCADO


BPI:4,6% BES:1,9% BCP:0,4% EDP Renováveis: 9,07% EDP-2,2% Galp Energia: 2,02% PT: -1,54% Sonae Indústria:-2,58%
O que é que isso me interessa? Em que é que isso contribui para a minha felicidade? Estou dependente de percentagens, de números que nada me dizem? Serei eu próprio um número, uma percentagem? Sou apenas um item nas contas do OGE ou nem isso? Ao que nós chegamos! Até quando esta ditadura das estatísticas, dos economistas? Por que raio me hei-de submeter a coisas assexuadas? Não, recuso-me a ser reduzido à condição de investimento! Não estou à venda no mercado! Tenho asco à palavra "mercado"! Tudo o que vem da lógica do mercado é podre, mete nojo! Não me venham falar em mercado! Enquanto o mercado prevalecer o homem não será homem! Não sou um sabonete! Não me vou deixar vencer pelo império dos sabonetes! Merda! Olho para o Arlindo e tenho pena. Sempre agarrado à caixa registadora! Sempre agarrado à merda dos trocos! Sempre escravo do mercado! Foi para isto que nascemos? Foi para isto que tivemos a benção da vida? Que porra de vida é esta? Percentagens e mais percentagens! Sócrates era uma percentagem? Nietzsche era uma percentagem? Henry Miller era uma percentagem? Por que raio se há-de um gajo entregar à mera sobrevivência e dar umas risadas, de vez em quando, para disfarçar? Por que raio não se há-de gozar esta merda na sua plenitude, sem estar sempre a fazer contas? Passamos a vida a fazer contas, dos benefícios e custos disto e daquilo sempre com a calculadora na mão e na cabeça. Que porra de vida é esta? É isto a vida? Porque raio não vem Dioniso? A única coisa que nos excita são as mulheres mas elas, na maior parte das vezes, são inacessíveis. Que prazer, que bem nos traz esta merda? Foi para isto que nascemos? Vá lá que ainda há pessoas que nos admiram, que gostam de nós mas, de resto,...mais valia andar sempre bêbado, sempre anestesiado para a realidade mas nem tenho a merda do dinheiro para isso! Ou, por outro lado, antes enlouquecer de vez. Sei lá, fariam pouco de mim. Foi para isto que vim ao mundo? Leio e escrevo, vou-me aguentando. Mas vim ao mundo para aguentar, para sobreviver? Esta merda não vem nos panfletos, nos programas dos partidos políticos. Os partidos que se preocupavam com estas merdas deixaram de se preocupar. Os partidos têm uma linguagem rasteira, superficial, eleitoralista, não vão ao fundo das questões, não vão ao essencial. O essencial é o combate entre a Vida e a sobrevivência, entre Dioniso e o mercado. Talvez o amor, o amor autêntico possa salvar esta merda.

O AMOR- 27


Vinde, deuses,
quero estar possesso
como Nietzsche
dai-me o amor!
O amor por uma mulher
o amor entre os homens

Vem, cerveja,
quero ficar divino
quero escrever O Poema
que permanece
que entontece

Vinde, deuses,
fazei-me dançar
berrar ao infinito
trazei-me o amor
que não está
nos anúncios televisivos
que não está na bolsa
que não está no mercado
que não é contabilizado
que não está
no Orçamento Geral do Estado

Vinde, companheiros,
brindemos ao amor
o amor tem andado esfarrapado
o amor tem andado amordaçado
o amor tem andado a mendigar
mas o amor continua
dentro de nós

Vinde, camaradas,
afinal não precisamos do partido
nem de comités centrais
nem tão pouco de disciplina
ou militância
o que importa é derrotar o ódio
o amor está dentro de nós

O amor!
Sim, o amor com que me tocas
o amor que me põe em cima
que me faz acreditar
o amor...

EIS O POEMA


Eis o poema
que fala de ti
toda a ternura
nasce aí

de mãos dadas
trocámos palavras
amor nosso
santa loucura

é o poeta e a fada
que interpreta
que ampara
assim a vida
vale a pena.

BACANAL


Bacanal


A vizinha de cima ameaça chamar a polícia
Se o vizinho de baixo continuar a dar
Quecas ruidosas com a brasileira
O vizinho de baixo justifica-se
Dizendo que é da natureza

Resultado:

De agora em diante, o vizinho de baixo
Pede licença cada vez que dá uma foda
À vizinha de cima
A vizinha de baixo está em cima
Do vizinho de cima
O policia em cima da brasileira
E o prédio é um bacanal.

Bacanal no Prédio - Um Poeta a Mijar - A. Pedro Ribeiro

Thursday, November 6, 2008

VIVO


Tenho de escrever. Para criar, para me manter vivo. Antes que a noite venha. Antes que a morte venha. Platão dizia que só nos deveríamos embriagar depois dos 40, só aí dedicaríamos as festas a Dioniso. Pois, cá estou eu nos 40. Já meio fodido do fígado. Esta noite tive um ataque de falta de ar. Quantos anos mais irei durar? Que se foda! O essencial é manter-me vivo. Que se fodam as preocupações! O que interessa é que a coisa flua, que as ideias nasçam. E entra a D. Rosa. A confeitaria não é a mesma sem a D. Rosa. A noite vai caindo lá fora. A Joana não mostra o cu. Entra um engravatado. Nunca atinei com gravatas. Que se lixe, os homens não se medem pelas gravatas. O Rocha, de vez em quando, usa gravata e é meu amigo. O Rocha é, à falta de melhor, a minha musa. Deixei de me entusiasmar pelas bandas. Há para aí tantas bandas que um gajo não se consegue destacar. (Ai, aquele cu ao balcão faz-me sonhar!) Só se fizer aquelas performances inesquecíveis como a de Paredes de Coura. Só se voltar ao palco.
Estou a atravessar uma fase muito púdica e romântica. Contento-me em dar a mão ás gajas.

QUERO O AGORA!

Merda, não estou bêbado.
Não consigo ficar bêbado.
Já estou com saudades de uma boa bebedeira.
Carlos, traz-me mais uma!
Merda, já nem escrevo
sobre a merda do àlcool.
O álcool que me põe em cima.
A àgua e os sumos aos doentinhos.
O álcool para o Poeta.
Já estou farto de queixinhas.
Àlcool para o poeta!
A vida são dois dias.
Que importa o amanhã,
se amanhã posso estar morto
ou amarrado a uma cama.
Quero o agora!
Quero o agora!
Quero aqui, agora,
a felicidade e a glória!
Porque raio se há-de deixar
tudo para amanhã?
Que se foda o futuro!
Que se foda o amanhã!
Quero o agora!

A. Pedro Ribeiro, Vilar do Pinheiro, 6.11.2008

GLÓRIA


A loira ginga na estrada. O farmacêutico saúda-me. Cá estou eu na "Motina" a escrever. Eis a minha sina. Não me dá sequer para escrever poemas. Só estas merdas. Há qualquer coisa que me atormenta. A escrita não flui desbragada. Começo a repetir-me. Que maçada! Preciso de ler para escrever. Tenho, de novo, Platão à minha frente. Divino Platão, traz-me a chama dos deuses. Divino Platão, faz de mim um Poeta a valer. Não me faças apenas escrever coisas com alguma piada que fazem o pessoal rir. Mas é importante que o pessoal ria. É importante pôr o pessoal a divertir-se. Não quero contribuir para a pasmaceira. Eu, que tanto critico o tédio, não posso contribuir para o tédio. Eh, pá, agora vou ser narcisista. Gostais de mim, gostais mesmo de mim? Ou estais apenas a aturar-me? Quem sou eu nesta confeitaria, neste bar? Tenho o mundo a meus pés ou não passo de um pobre desgraçado? Ou não serei uma coisa nem outra, qualquer coisa de intermédio? Porque raio estar sempre entre a merda e o sublime? Era bom estar sempre em glória, receber palmas a todo o momento. Mas não. As palmas tornar-se-iam rotina. Cansar-me-ia das palmas e da glória. Por falar em Glória, há aqui alguma gaja que se chame Glória? Bem sei que o texto se está a tornar comprido para ser lido em público. Anda cá, Glória!

Tuesday, November 4, 2008

COMBOIO-2


Acabo de estar em Famalicão com a Cláudia. A Claudinha tenta perceber-me e percebe-me. Se não der para mais nada, dá para andar de mão dada ou de mão dádá. A gaja do lado dormita e mostra o rego das mamas. O revisor controla. Qualquer dia algum controleiro confisca os meus escritos. Ou alguma dama ofendida mete-me em Tribunal. O poeta infame passeia-se de mão dada com a Claudinha em Famalicão. As gajas boas entram na Trofa. O fim de semana está a acabar. O revisor percorre o comboio a controlar. Simpatizo mais com os revisores da CP do que com os "picas" do metro. Há outra postura. O mormon lê a Bíblia. Eu acabei a "Odisseia". Estou tão próximo dos outros passageiros que eles podem ler o que estou a escrever. Mal sabem que escrevo sobre eles. O mormon pousa a Bíblia. Outras agarram-se ás revistas. O que vale é que a gaja do lado está a dormir. Ñão deixava de ter piada uma discussão acerca do escritor que escreve. Uma revolta no comboio contra o escritor que escreve sobre as incidências de uma viagem de comboio Famalicão-Porto. Que querem? Dá-me para escrever. Não nasci assim mas tornei-me assim. Longe vão os tempos do Colégio da Trofa e dos liceus Sá de Miranda e Alberto Sampaio de Braga. No ano do Alberto Sampaio, 12º, comecei a ter com mais gente as conversas que só tinha com os meus melhores amigos do liceu: o Jorge e o Rui. Já falava então, sei lá, de coisas poéticas e filosóficas. Teria uma conversa interessante para as meninas. Comecei a pôr em causa o maniqueísmo do Rambo e de outras coisas. Comecei a ler livros. Depois, no 1º ano da Faculdade de Economia já lia muito. Enfim, o homem vai-se construindo. Era eu, então, um jovem promissor. Mas já lá estava a coisa do Morrison, a semente. Comecei a escrever algumas coisas de jeito. A querer mostrá-las. O que é feito desse rapaz? Do rapaz em quem os pais depositavam esperanças? Revoltou-se contra o número, revoltou-se contra a norma, revoltou-se. E nunca mais voltou a ser o mesmo.

COMBOIO


Estou no comboio. Uma gaja boa senta-se à minha frente caída do céu. Coloca os óculos escuros. O que lhe irá na cabeça? Nunca sei o que vai na cabeça das gajas. Agora apalpa o telemóvel em vez de me apalpar a mim. Estamos a chegar à Trofa- terra da minha infância. Raramente falo da Trofa. Não sei porquê. A minha vida também era casa-Colégio. Mas podia falar mais da Trofa. Talvez um dia me façam uma estátua. A gaja cruza as pernas. Eu também. Raramente falo da minha infância. Brincava muito com os meus irmãos, com o Filipe, com o Picas. No colégio era muito introvertido, salvo na 4ª classe em que saí um bocado da casca. Mas depois voltei a entrar. Pensava muito. Inventava mundos. Desenhava bem. As mulheres ficam loucas perante a maternidade. A gaja desabotoa a camisa para me dar de mamar.

Sunday, November 2, 2008

A DITADURA DO ECONÓMICO


Vivemos sob a ditadura do económico, do mercantil. Tudo se reduz à linguagem do compra e vende, do orçamento, das contas. (Interrompo a tese para olhar para o cu da vizinha). É tão pobre, tão mesquinha a linguagem do económico. Não sou um número! Não sou uma conta! Não sou um orçamento! Não sou uma mercadoria! Merda! Sou um homem! Sou um homem que sente e que pensa. Sou um homem que olha para as mulheres e que as deseja. Não me venham quantificar esta merda! Não estou cotado na bolsa. Não estou no mercado. Afastai-vos de mim, ó economistas! Tirai de mim as vossas manápulas! De mim não levais nada! Sou um homem! Não sou uma nota nem um cartão multibanco! Não sou uma conta bancária! Não sou aquilo que quereis que eu seja. Sou livre! Sou absolutamente livre.

Saturday, November 1, 2008

ERNESTO CHE GUEVARA


Admiro Ernesto Che Guevara. Gostava de ser como ele. Mas não sou. O Che era um guerrilheiro. Eu, quando muito, sou um guerrilheiro da palavra. Não sou organizado nem atino com organizações. Já o disse. Quando muito acredito em pequenos grupos, em movimentos espontâneos. E tenho uma concepção dionisíaca, algo messiânica das coisas. Acredito que se for passando a palavra a coisa pode ir. Acredito no xamã, acredito no papel revolucionário do poeta. Acredito que incomodo, que posso abalar as consciências. É esse o meu papel. Em vez de ir combater para a floresta, vou combater para os bares.

JORNAIS


O gajo do lado lê os jornais todos. De ontem, de anteontem e de hoje. Isso é que é estar bem informado. Para combater o tédio agarramo-nos aos jornais. Mas os jornais também são tédio. As notícias não me excitam como as gajas boas. O gajo agora come e bebe, largou os jornais. Sim, comidinha e bebida acima de tudo, depois voltaremos a comer os jornais.
A morte é a tua mãe.