Monday, December 24, 2007

MANIFESTO ANTI-DANTAS


O meu feliz Natal existiria se meia dúzia de inconformistas se juntassem, saudando o nascer de novo, nem que fosse para a emissão de uma sonora gargalhada ao ritmo do tal manifesto anti-Dantas:

Uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi. É um coio d’indigentes, d’indignos e de cegos!


É uma resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero!


Abaixo a geração!Morra o Dantas, morra! PIM!


Uma geração com um Dantas a cavalo é um burro impotente!


Uma geração com um Dantas ao leme é uma canoa em seco!


O Dantas é um cigano!

O Dantas é meio cigano!



O Dantas saberá gramática, saberá sintaxe, saberá medicina, saberá fazer ceias para cardeais, saberá tudo menos escrever que é a única coisa que ele faz!


O Dantas pesca tanto de poesia que até faz sonetos com ligas de duquesas!


O Dantas é um habilidoso!


O Dantas veste-se mal!


O Dantas usa ceroulas de malha!


Não é preciso ir pró Rossio para se ser pantomineiro, basta ser-se pantomineiro!


Não é preciso disfarçar-se para se ser salteador, basta escrever como o Dantas!


Basta não ter escrúpulos nem morais, nem artísticos, nem humanos!


Basta andar com as modas, com as políticas e com as opiniões!


Basta usar o tal sorrisinho, basta ser muito delicado, e usar coco e olhos meigos!



O Dantas nasceu para provar que nem todos os que escrevem sabem escrever!




ODantas é um autómato que deita para fora o que a gente já sabe o que vai sair… Mas é preciso deitar dinheiro!


O Dantas é um soneto dele próprio!


O Dantas em génio nem chega a pólvora seca e em talento é pim-pam-pum.


Se o Dantas é português eu quero ser espanhol!


O Dantas é a vergonha da intelectualidade portuguesa!


O Dantas é a meta da decadência mental!


E ainda há quem não core quando diz admirar o Dantas!


E ainda há quem lhe estenda a mão!


E quem lhe lave a roupa!


E quem tenha dó do Dantas!


E ainda há quem duvide que o Dantas não vale nada, e que não sabe nada, e que nem é inteligente, nem decente, nem zero!



E fique sabendo o Dantas que se um dia houver justiça em Portugal todo o mundo saberá que o autor de Os Lusíadas é o Dantas que num rasgo memorável de modéstia só consentiu a glória do seu pseudónimo Camões.


E fique sabendo o Dantas que se todos fossem como eu, haveria tais munições de manguitos que levariam dois séculos a gastar.


Mas julgais que nisto se resume literatura portuguesa?


Não Mil vezes não!


Portugal que com todos estes senhores conseguiu a classificação do país mais atrasado da Europa e de todo o Mundo!


O país mais selvagem de todas as Áfricas!

O exílio dos degradados e dos indiferentes!

A África reclusa dos europeus!

O entulho das desvantagens e dos sobejos!


Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia - se é que a sua cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado!


Morra o Dantas, morra! PIM!


José de Almada Negreiros


Poeta d’Orpheu


Futurista


E Tudo

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