Wednesday, July 27, 2011
ELA E OS IMBECIS
Os imbecis continuam a espetar-me
a merda nos cornos
e ela move-se
entra no escritório
masturba-se na casa de banho
os imbecis atiram-me vírus
e ela dança
balança as ancas
põe-me doido
os imbecis querem-me fraco
e ela ri
enche o café
conta os trocos
os imbecis apertam o cerco
e ela fala
tira o sumo
dá de mamar às crianças
os imbecis espalham o tédio
e ela vai ao pão
sai
dá-me um beijo na boca.
Tuesday, July 19, 2011
O POETA E JESUS
O POETA E JESUS
É, de novo, madrugada. O poeta arde. Não sabe se é Jesus ou se está em Jesus. Não sabe se o que está a viver é o princípio de uma alucinação ou se é algo mais, capaz de unir os povos da Terra. Tal como Jesus, o poeta quer derrubar os banqueiros e os mercados mas hesita quanto ao uso da violência. Vê as montras partidas e os carros incendiados em Paris, Roma, Atenas e acredita que a revolução passa por aí. Também Jesus apelou ao fogo e à espada. Também Jesus era provocador e insolente. "No mundo tereis aflições, mas tende confiança! Eu venci o mundo", disse. Venceremos o mundo, derrubaremos o poder. Companheiros, companheiras. Aproxima-se a hora. Contudo, o poeta ainda tem dúvidas. Teme a barbárie pura. Deseja o amor entre os homens mas odeia os governantes, os mercadores, os banqueiros. Quer um mundo novo e um homem novo despidos da moeda e da mercearia.
É, de novo, madrugada. O poeta arde. Não sabe se é Jesus ou filho de Jesus. A mente e o coração expandem-se. O poeta sente que está a iniciar uma nova vida. Uma vida de entrega ao próximo e ao longínquo, sem caridadezinhas. O poeta sabe que, sendo naturalmente irresponsável, tem responsabilidades. Como Nietzsche, cria, dança em redor da sabedoria. As suas palavras vão chegar mais longe. Sabe-o. Os próximos dias poderão ser decisivos. O poeta chegou onde queria. Não haverá mais escritos menores, gratuitos. O poeta é de graça e é da graça. Canta, ri. O mundo está a seus pés, tal como as mais belas das mulheres. Se bem que seja necessária alguma prudência com as mulheres. Mas o poeta começa a conhecer as mulheres. Já não é o rapaz ingénuo dos 18 anos. As ideias vêm. O cérebro quase rebenta. O poeta quer construir um mundo novo. Acredita. É isso que o distingue dos outros. Hesita entre a paz e a espada. Sabe que a morte espreita. Mas vai continuar. É para isso que veio ao mundo. Acredita. É do mundo. Vai ao fundo do ser. Vive. É. Está a chegar a hora, companheiros, companheiras. Chegou o tempo de cerrar fileiras. O poeta sabe que a manhã virá. E com ela a luz. Mas também a vida da rotina. Talvez ainda não amanhã, domingo. Mas segunda-feira. O poeta escreve e os homens dormem. Já não é Natal. O poeta nasceu outra vez. Vai pregar na praça. Vai sujeitar-se ao desprezo dos homens e das mulheres. Mas vai chegar a muita gente. Dentro e fora dos livros. O poeta é aquele que quer ser. Pensa na amada. Pensa que o amor também pode vir através da espada. Os galos cantam. Pedro não o nega. Está a escrever verdadeiramente como os mestres. É aqui que queria chegar. Ou melhor, está é uma das etapas do processo. O poeta já quase não sente medo. Prossegue. Escreve madrugada fora. Está na casa da mãe e dos irmãos. Consulta o Evangelho de João. Vive. Chama o pai. Ele ouve-o. A voz do pai ecoa na sua mente. Está em paz. Há outra vida na mente. Uma vida sem economistas nem conta-corrente.
Tuesday, July 12, 2011
MÍTICOS
Sunday, July 10, 2011
ANA
Dizem que estou deprimido mas eu acho que não estou. A Ana vai embora. É Pena. Ela faz a "Padeirinha". E eu escrevo. Vou escrevendo. Eis a minha vida. Algum dinheiro debaixo do colchão, para variar. O operário balança. A Ana tem alma. A gaja na televisão. O Tavares que não vem. A cerveja. A próxima fuga. ~Já não és a estrela. A Ana é boa. Tantas noites, tantos dias. E agora aqui preso. A cerveja sobe dentro. Eu torno-me outro. Tenho de ser mais sociável. Não me armar tanto em vedeta distante. Esta merda volta a fazer-me rir. Tantas noites, tantos dias.
Wednesday, July 6, 2011
A DOER
Sentas-te
e dás-me tesão
sentas-te
acendes-me
tentas-me
quero-te
à mimha mesa
sentas-te
ris
é pena seres
do sossego
do lar
da segurança
sentas-te
e não és
a Gotucha.
Ainda assim
quero-te
estou em fogo
os gregos
incendeiam
as ruas
o país
estás prestes
a arder
vai ser a doer
vai ser a doer
é melhor que comeces
a agarrar-te a mim, querida
é melhor que largues
o telemóvel
isto vai ser a doer
não tarda nada.
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