Sunday, August 30, 2009

DO HOMEM QUE ESCREVE À MESA


Voltei aos dias
em que escrevo vários poemas
agora estou no jardim
e a "Vita" corre para mim
os pássaros cantam
os gatos andam por aí
a vida hoje não me parece intolerável,
caro Aragon,
apesar de ser tímido
e de não conseguir dirigir uma palavra
às beldades da "Cristina"
a não ser as indispensáveis
a pedir o café e a pagá-lo
também Nietzsche levava uma vida assim
raramente se dirigia ao cidadão comum
não me considero um génio
como Nietzsche
mas tenho a ambição
de chegar ao mundo
quero escrever aforismos,
tratados filosóficos,
quero ser um filósofo
mesmo não possuindo a erudição de Nietzsche
e de outros
as palavras saem-me assim
em verso
meio-poesia, meio-prosa
não sei o nome das árvores
nem das flores
não percebo nada de astronomia ou de física,
contrariamente ao meu pai,
mas sei que busco o conhecimento
quando escrevo estou à procura
de alguma coisa
de uma verdade
isto é muito mais
do que o homem sentado à mesa
é a vida
a própria vida
o instante que agarramos
o céu
o sol
as estrelas
o universo
tudo isso está aqui
no papel, na tinta, na caneta
no homem que escreve à mesa.

Vilar do Pinheiro, 18.8.2009

1 comment:

renato gomes pereira said...

O Universo numa folha de papel...estático e dinãmico...entre o passado e o futuro....