EUA tinham planos para invadir os Açores em 1975
22.11.2010 - 16:27 Por Nuno Simas
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A suspeita existia há anos entre os historiadores e era um dos aspectos obscuros do papel dos Estados Unidos durante a Revolução portuguesa (1974-76). Teriam os Estados Unidos pensado invadir os Açores, onde tinham e têm uma base nas Lajes? Finalmente, há uma resposta. E é sim: o Departamento de Defesa tinha planos para “ocupar” as ilhas se o país caísse sob controlo dos comunistas ou da esquerda radical.
Kissinger foi um dos intervenientes que mais pressão fez sobre a diplomacia portuguesa para que o país não caísse numa democracia directa após a revolução (Kieran Doherty/Reuters)
A existência dos planos é revelada num memorando de conversação entre o secretário de Estado, Henry Kissinger, e o secretário da Defesa, James Schlesinger, em Janeiro de 1975.
Esse documento histórico foi desclassificado, publicado pelo National Security Archive e resulta de uma investigação do historiador William Burr, autor de um livro The Kissinger Transcripts, sobre as negociações do chefe da diplomacia norte-america com a URSS e China, nos anos 70.
A 22 de Janeiro de 1975, num pequeno-almoço na Casa Branca entre Kissinger e Schlesinger, Portugal era o primeiro tema de conversa, escassos dez meses passados sobre a Revolução dos Cravos que derrubou a ditadura de Salazar e Caetano.
Kissinger comentou que era necessário ter “um programa” para Portugal. Razão: “Há 50 por cento de hipóteses de perder” o país. Perder Portugal para os comunistas, entenda-se.
É então que o secretário da Defesa afirma que os Estados Unidos “têm um plano de contingência para ocupar os Açores”. Apesar de isso “estimular a independência dos Açores” – por essa altura a posição formal de Washington era de “neutralidade” quanto aos independentistas dos Açores.
A transcrição, breve, da conversa é feita por William Burr no blogue do National Security Archive, com sede em Washington, associada à George Washington University, e que se dedica à desclassificação e divulgação de investigação histórica da História dos Estados Unidos.
Segundo Burr, os planos de contingência não são conhecidos e estarão arquivados no Pentágono.
O historiador norte-americano conclui que os receios de Henry Kissinger, que comparou Mário Soares, fundador e líder histórico do PS, a Kerensky, provaram ser exagerados. Depois de meses de revolução nas ruas, de golpes e contragolpes, Portugal tornou-se uma democracia representativa. Em 1976, o PS ganhou as eleições legislativas.
Monday, November 22, 2010
ATRAVESSO VIDAS
Atravesso vidas. A mente abre-se. Tudo parece perfeito. Nítido. Nasço outra vez. Estou aqui porque nasci. E isso é tudo. É o suficiente. Que quereis mais? Sou eu. Nasci. É isto a vida. Simplesmente a vida. Não o que trabalhais todos os dias. Mas o instante que é. O instante que agarro agora. Porra! Nada mais. Nasço. Sou a criança. O eterno retorno. Os galos cantam o Nirvana.
O Jim Morrison era alguém que estava para lá. Levou uma vida excessiva mas quase ninguém fala de que como ele era na intimidade ou que conversas tinha com os amigos do bar. Por vezes, sinto-me muito próximo dele. Acho que agora o compreendo claramente. As minhas alucinações são nietzscheanas, morrisonianas. Não tenho que seguir um partido ou uma ideologia como no passado. Tenho de ser o homem total. O homem que regressa a si mesmo e à mulher.
Ainda há pouca luz. Tenho de ocupar o cérebro. Mais uma noite em que fico sem dormir. Sem a merda do medicamento não consigo dormir. O cérebro alimenta-se continuamente. Bebe-me. Tenho de fazer um esforço para não passar para o lado de lá.
Escrevo. Sou aquele que regressa. Passei as provações, os demónios. Agora vejo a luz. Estou próximo dos santos. A mulher deu-me a mão e o amor. E agora estou mais homem, mais senhor. Acredito nos meus mestres. Nietzsche, Morrison, Miller e outros. Estou pronto a dar-me ao mundo.
Wednesday, November 17, 2010
A BRASILEIRA
NICANOR PARRA
1
o poeta atira pedras à lagoa
círculos concêntricos propagam-se
2
o poeta senta-se numa cadeira
dando corda a um relógio de bolso
3
o poeta lírico ajoelha-se
diante de uma cerejeira em flor
e começa a rezar um pai-nosso
4
o poeta disfarça-se de homem rã
e esconde-se no lago do parque
5
o poeta lança-se no vazio
pendurado num guarda-chuva
desde o último andar da Torre Diego Portales
6
o poeta resguarda-se no Túmulo do Soldado Desconhecido
e daí dispara flechas envenenadas contra os transeuntes
7
o poeta maldito
entretém-se atirando pássaros às pedras
ACTO SEDICIOSO
o poeta corta as veias
em homenagem ao seu país natal
Nicanor Parra, in Hojas de Parra (1985)
Versão de HMBF
o poeta atira pedras à lagoa
círculos concêntricos propagam-se
2
o poeta senta-se numa cadeira
dando corda a um relógio de bolso
3
o poeta lírico ajoelha-se
diante de uma cerejeira em flor
e começa a rezar um pai-nosso
4
o poeta disfarça-se de homem rã
e esconde-se no lago do parque
5
o poeta lança-se no vazio
pendurado num guarda-chuva
desde o último andar da Torre Diego Portales
6
o poeta resguarda-se no Túmulo do Soldado Desconhecido
e daí dispara flechas envenenadas contra os transeuntes
7
o poeta maldito
entretém-se atirando pássaros às pedras
ACTO SEDICIOSO
o poeta corta as veias
em homenagem ao seu país natal
Nicanor Parra, in Hojas de Parra (1985)
Versão de HMBF
LIVRARIA LELLO: TERCEIRA MELHOR DO MUNDO
Guia australiano considera-a "uma pérola de arte nova", no seu "top ten" para 2011
Lonely Planet classifica a Lello como a terceira melhor livraria do mundo
17.11.2010 - 12:50 Por Sérgio C. Andrade
A livraria centenária portuense Lello foi classificada pela Lonely Planet como a terceira melhor do mundo, no guia que esta editora fundada na Austrália acaba de lançar para o próximo ano. Numa listagem em que faz o “top ten” dos países, regiões e cidades a visitar em 2011, a Lonely Planet coloca a livraria situada na Rua das Carmelitas, no Porto, na terceira posição, depois da City Lights Books, em São Francisco, nos Estados Unidos, e da El Ateneo Grand Splendid, em Buenos Aires.
A Lello, fundada em 1906, é classificada como “uma pérola de arte nova” (Nelson Garrido/arquivo)
No guia "Lonely Planet's Best in Travel 2011", a editora classifica a Lello, fundada em 1906, como “uma pérola de arte nova”, que se mantém como uma das livrarias – e talvez mesmo uma das lojas – “mais espantosas do mundo”.
Na descrição que faz do seu interior, destaca “as prateleiras neogóticas” que fazem mesmo concorrência aos livros na atenção dos visitantes, mas também a decoração nas paredes com os bustos esculpidos de escritores portugueses, além, claro, da “escadaria vermelha em espiral” que leva os clientes até ao primeiro andar e que parece “uma flor exótica”. O trilho e o carrinho para o transporte dos livros e a pequena cafetaria no primeiro andar, de onde se vê a luz do dia filtrada por coloridos vitrais, são outras notas deixadas aos leitores deste que se tornou já num dos mais populares guias de viagem em todo o mundo.
Esta classificação da Lello repete aquela que a loja portuense já tinha conquistado em Janeiro de 2008, quando o diário britânico “The Guardian” também a considerou como a terceira mais bela livraria do mundo, igualmente a seguir à Ateneu da capital argentina, que ocupa o lugar de um antigo teatro – dessa vez, em primeiro lugar, surgia a livraria holandesa em Maastricht, Boekhandel Selexyz Dominicanen, instalada numa antiga igreja.
O actual edifício da Livraria Lello, que foi desenhado de raiz para ser uma livraria pelo engenheiro Francisco Xavier Esteves, já tinha também sido considerado pelo escritor catalão Enrique Vila-Matas como “a mais bonita livraria do mundo”.
No “top ten” agora divulgado pela Lonely Planet, logo após a Lello surge a Shakespeare & Company, em Paris, seguindo-se a Daunt Books, em Londres, a Another Country, em Berlim, a The Bookworm, em Beijing, a já citada Selexyz Dominicanen, em Maastricht, a Bookàbar, em Roma, e, na décima posição, a Atlantis Books, em Santorini, na Grécia.
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Lonely Planet classifica a Lello como a terceira melhor livraria do mundo
17.11.2010 - 12:50 Por Sérgio C. Andrade
A livraria centenária portuense Lello foi classificada pela Lonely Planet como a terceira melhor do mundo, no guia que esta editora fundada na Austrália acaba de lançar para o próximo ano. Numa listagem em que faz o “top ten” dos países, regiões e cidades a visitar em 2011, a Lonely Planet coloca a livraria situada na Rua das Carmelitas, no Porto, na terceira posição, depois da City Lights Books, em São Francisco, nos Estados Unidos, e da El Ateneo Grand Splendid, em Buenos Aires.
A Lello, fundada em 1906, é classificada como “uma pérola de arte nova” (Nelson Garrido/arquivo)
No guia "Lonely Planet's Best in Travel 2011", a editora classifica a Lello, fundada em 1906, como “uma pérola de arte nova”, que se mantém como uma das livrarias – e talvez mesmo uma das lojas – “mais espantosas do mundo”.
Na descrição que faz do seu interior, destaca “as prateleiras neogóticas” que fazem mesmo concorrência aos livros na atenção dos visitantes, mas também a decoração nas paredes com os bustos esculpidos de escritores portugueses, além, claro, da “escadaria vermelha em espiral” que leva os clientes até ao primeiro andar e que parece “uma flor exótica”. O trilho e o carrinho para o transporte dos livros e a pequena cafetaria no primeiro andar, de onde se vê a luz do dia filtrada por coloridos vitrais, são outras notas deixadas aos leitores deste que se tornou já num dos mais populares guias de viagem em todo o mundo.
Esta classificação da Lello repete aquela que a loja portuense já tinha conquistado em Janeiro de 2008, quando o diário britânico “The Guardian” também a considerou como a terceira mais bela livraria do mundo, igualmente a seguir à Ateneu da capital argentina, que ocupa o lugar de um antigo teatro – dessa vez, em primeiro lugar, surgia a livraria holandesa em Maastricht, Boekhandel Selexyz Dominicanen, instalada numa antiga igreja.
O actual edifício da Livraria Lello, que foi desenhado de raiz para ser uma livraria pelo engenheiro Francisco Xavier Esteves, já tinha também sido considerado pelo escritor catalão Enrique Vila-Matas como “a mais bonita livraria do mundo”.
No “top ten” agora divulgado pela Lonely Planet, logo após a Lello surge a Shakespeare & Company, em Paris, seguindo-se a Daunt Books, em Londres, a Another Country, em Berlim, a The Bookworm, em Beijing, a já citada Selexyz Dominicanen, em Maastricht, a Bookàbar, em Roma, e, na décima posição, a Atlantis Books, em Santorini, na Grécia.
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Tuesday, November 16, 2010
OS VIKINGS ESTIVERAM PIMEIRO NA AMÉRICA
quando Colombo voltou da América trouxe consigo ameríndios para mostrar aos europeus os humanos que existiam na suposta Índia. Mas há provas que os vikings podem ter feito o mesmo 500 anos antes. Uma equipa de cientistas encontrou em quatro famílias islandesas genes provenientes de uma mulher índia que terá sido levada para a Islândia no ano 1000 d.C..
O local arqueológico dos vikings no Canadá fica na Terra Nova (DR)
A descoberta foi publicada na revista Journal of Physical Anthropology.
Uma análise genética a mais de 80 islandeses destas quatro famílias mostrou que o ADN das mitocôndrias pertence a um grupo genético que existe hoje na Ásia e entre os indígenas americanos.
As mitocôndrias são estruturas que temos nas células para produzirmos energia, com material genético próprio, que recebemos pela via materna. Antes, pensava-se que a origem deste material seria asiático, mas os quatro antepassados comuns destas famílias situam-se entre 1710 e 1740 no Sul da Islândia.
“Como a ilha ficou praticamente isolada desde o século X, a hipótese mais coerente é que os genes correspondam a uma mulher ameríndia que foi trazida da América pelos vikings cerca do ano 1000”, explicou Cales Lalueza-Fox citado pelo El País, investigador do Instituto de Biologia Evolutiva da Universidade de Pompeu Fabra, Barcelona. O projecto contou com o trabalho de investigadores da Universidade da Islândia e da empresa farmacêutica Decode Genetics, de Reiquejavique.
Achados arqueológicos mostram que durante o século X os vikings colonizaram a região de Terra Nova, no Canadá. Durante o século XIII textos medievais islandeses descrevem esta conquista. A descoberta genética é mais uma prova desta colonização, e mostra que houve miscigenação entre os índios e os vikings.
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O local arqueológico dos vikings no Canadá fica na Terra Nova (DR)
A descoberta foi publicada na revista Journal of Physical Anthropology.
Uma análise genética a mais de 80 islandeses destas quatro famílias mostrou que o ADN das mitocôndrias pertence a um grupo genético que existe hoje na Ásia e entre os indígenas americanos.
As mitocôndrias são estruturas que temos nas células para produzirmos energia, com material genético próprio, que recebemos pela via materna. Antes, pensava-se que a origem deste material seria asiático, mas os quatro antepassados comuns destas famílias situam-se entre 1710 e 1740 no Sul da Islândia.
“Como a ilha ficou praticamente isolada desde o século X, a hipótese mais coerente é que os genes correspondam a uma mulher ameríndia que foi trazida da América pelos vikings cerca do ano 1000”, explicou Cales Lalueza-Fox citado pelo El País, investigador do Instituto de Biologia Evolutiva da Universidade de Pompeu Fabra, Barcelona. O projecto contou com o trabalho de investigadores da Universidade da Islândia e da empresa farmacêutica Decode Genetics, de Reiquejavique.
Achados arqueológicos mostram que durante o século X os vikings colonizaram a região de Terra Nova, no Canadá. Durante o século XIII textos medievais islandeses descrevem esta conquista. A descoberta genética é mais uma prova desta colonização, e mostra que houve miscigenação entre os índios e os vikings.
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Thursday, November 11, 2010
COMBATE
Mercado do casamento? Mercado do amor? Odeio essa linguagem. Não tenho que ceder a essa linguagem. Há mulheres que me excitam. Mas não maçãs nem melões. Não as coloco no mercado. Odeio os mercados. Os mercados, os especuladores, os agiotas são o alvo a abater e, naturalmente, os políticos ao serviço deles. Sou daqui. Sou da Terra. Sou o filho do homem. Não me converteis. Não me mudais. Não entrais em mim. Não me fareis enlouquecer. Mesmo que as boazonas anunciem os bancos. Mesmo que os bancos te entrem pelos cornos acima. Não cederás. Este é o combate. Esta é a tua vida.
Monday, November 8, 2010
MANIFESTO ANTI-NORMALIDADE
Eu, António Pedro Ribeiro, 40 anos,
declaro que não sou um número
que não sou uma percentagem
que não sou uma folha do IRS
que não vou com a Maria
que vai com as outras
que rejeito o pensamento único
o homem calculável e colectável
a ideologia dominante
que amo as alturas, os cumes
onde se respira a liberdade
que rejeito o rebanho
a vida normal das pessoas normais
que sigo a via que conduz a mim mesmo
que não quero governar
nem ser governado
que não sou um detergente
nem uma folha de papel higiénico
que não estou na bolsa
nem à venda no mercado
que sou um livre pensador
um indivíduo soberano
que não sou espectador da sociedade-espectáculo
nem mercadoria
que quero as ruas cheias de poesia
que me entedio no dia-a-dia
no quotidiano da rotina
mas que ainda sou capaz de dançar
de cantar
e de me rir
nas vossas caras.
declaro que não sou um número
que não sou uma percentagem
que não sou uma folha do IRS
que não vou com a Maria
que vai com as outras
que rejeito o pensamento único
o homem calculável e colectável
a ideologia dominante
que amo as alturas, os cumes
onde se respira a liberdade
que rejeito o rebanho
a vida normal das pessoas normais
que sigo a via que conduz a mim mesmo
que não quero governar
nem ser governado
que não sou um detergente
nem uma folha de papel higiénico
que não estou na bolsa
nem à venda no mercado
que sou um livre pensador
um indivíduo soberano
que não sou espectador da sociedade-espectáculo
nem mercadoria
que quero as ruas cheias de poesia
que me entedio no dia-a-dia
no quotidiano da rotina
mas que ainda sou capaz de dançar
de cantar
e de me rir
nas vossas caras.
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