Thursday, June 30, 2011

TORNA-TE NAQUELE QUE ÉS



Sofrimento, trabalho, obediência, castração, humilhação.


Eis o que o capitalismo, mesclado com algum cristianismo que Nietzsche denuncia, nos dá.


E o capitalismo, o mercado, ao contrário do cristianismo, nem sequer promete o Céu ou a Vida Eterna.


Mas há em ambos, como diz Nietzsche, o desprezo pela Terra, o desprezo pelo Homem, o desprezo pela vida.


A linguagem do mercado, das contas, da economia despreza o homem enquanto criador, enquanto ser que descobre, enquanto ser que imagina.


O homem assim nunca será o menino e o bailarino de Nietzsche: nunca se passeará pela corda-bamba do devir, nunca fará da vida um contínuo experimento de si mesmo.


A linguagem da economia e do capitalismo é a linguagem das taxas de juro, das cotações da bolsa, das percentagens assexuadas que entediam e castram o Homem.


Urge falar outra linguagem: a linguagem do homem em construção. A linguagem de Nietzsche e de Henry Miller, que diz que "o único objectivo na vida é chegar perto de Deus - isto é, chegar mais perto de mim próprio".


"Torna-te naquele que és!", acrescenta Nietzsche. Sendo plenamente nós próprios seremos livres, meninos, bailarinos, afirmadores da vida e estaremos em condição de deitar abaixo o mundo do tédio e da economia.

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