Wednesday, February 16, 2011

POETA E VADIO


POETA E VADIO

António Pedro Ribeiro

Parece que recuperei o talento para a poesia. Escrevi poemas madrugada fora e dediquei um à menina simpática do café das piscinas. Sorri para mim. Tem muita alma a menina loira. Não dizes que queres filhos? Faz-te à moça, faz-te à moça, que isto está a voltar aos templos bíblicos. Permanece aqui em Braga mais umas temporadas. Bebe. Saboreia. A vida sorri para ti. Nada tens a perder. Escreves bons poemas. Poucos são capazes de o fazer. Tens esse dom. Queres filhos? Procura a mulher. Será esta? Voltaste a ser o poeta. Compras cadernos nas papelarias. Bebes finos à saúde da menina. Olhas para as outras. Queres as fêmeas jovens. Queres compreendê-las. Entrar no mundo das telenovelas, do facebook, da moda, no mundo delas. Afinal de contas, não tens obrigações, nem compromissos. As leis pouco te dizem. És o homem da liberdade, já o tens dito. Gostas de Jesus mas não de tudo. Continuas a ser infame, insolente. Não tens profissão remunerada. Mas vais-te fazendo às gajas. Às que te agradam. Também Jesus amou Madalena e a samaritana. Parece mesmo que voltamos aos tempos bíblicos ou aos tempos da cavalaria, Quixote, Dulcineia. Nada deves aos poderes do mundo nem escreves pior que os colunistas dos jornais. ÉS até uma espécie de santo, como diziam de Nietzsche. Fazes declarações de amor às empregadas de mesa, em vez de as fazeres ao primeiro-ministro. Achas-lhe piada. Deve te namorado ,mas como disse há dias uma amiga do facebook, os namorados não servem para escrever poemas. Para isso estão aí os poetas. Alguns deles, como este, têm a sua loucura. Não abdicam dela. Fazem até questão de a exibir em certas ocasiões. De qualquer modo, há cerca de 24, 25 anos que venho a esta zona das piscinas. Noutros tempos ia mais ao "Farol". Agora ando a marcar o território, a redescobrir a cidade. As mulheres jovens interessam-me. Não é somente uma questão sexual. Procuro chegar a elas. Falar com elas. Compreendê-las. Tentá-las fazer compreender o poeta sem emprego, o cronista não remunerado, aquele que nem sequer se peocupa em aranjar emprego, o vadio de Agostinho da Silva. Sou vadio, isso mesmo. Poeta e vadsio. Com todo o gosto. Muitos invejam a minha vida. Deixei de ter grandes preocupações. Mesmo que tenha só uns trocos no bolso. No bolso e não na bolsa. Sou inimigo de classe desse mundo. Sónia, é o nome dela. Distribui cafés e sorrisos. E eu aqui a pensar que sou magnífico, que estou a escrever um tratado sobre a vida quotidiana. Voltei a ser apenas o poeta que escreve versos às meninas. Que telefona a umas, que fala a outras pelo facebook, que toma café com elas, que as encontra nas noites de poesia. Nada disto tem a ver com a guerra Porto-Benfica. Nada disto tem a ver com os fanáticos da bola que se insultam nos estádios e nos cafés. Estou um pouco acima. Faço-me às gajas dos jovens. Meto-me no mundo deles. Não envelheci espiritualmente, apesar da asma, da apneia e da barriga inchada. Para que hei-de perder tempo a falar de economia e de futebol? Nunca fui muito equilibrado, já o dizia o meu pai. Se tivesse mais dinheiro, pediria mais finos. Gastei-o no caderno. Até pareço um cidadão exemplar, cumpridor. Mas a verdade é que não o sou. Ando a torcer pela revolução mundial com epicentro no Egipto. A ver se o Faraó cai. A menina também tem a sua dose de loucura. No outro dia chamou-me "mauzinho" por eu não ter trocos. Hoje falta-me a nota mas tenho os trocos. Não dormi quase nada esta noite. Levantei-me às 4,30 para escrever, saí de casa às 8 da matina. Agora sinto algum cansaço. Mas não me arrependerei jamais de ser aquele que sou.

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