Thursday, August 14, 2008

DIÁRIO

O caderno de trabalho molhado pela chuva. Sim, de trabalho. Este é o meu trabalho. Bem sei que ele não é produtivo para o país. Bem sei que não acrescenta uns décimos ao PIB. Bem sei que ele não agrada ao primeiro-ministro. Bem sei que ele não produz lucros para os capitalistas. Mas que me importa? Não. estou ao serviço do governo nem dos capitalistas. Aliás, queria dar cabo deles se fosse possível. E a gaja das mamas saiu. Merda para as gajas e para as mamas! O café vai-se esvaziando. Para escrever é preciso ler. E eu tenho lido muito. Isso coloca-me numa posição privilegiada. Não estou aqui a desperdiçar munições. É o que vem à cabeça e ao coração. Não digo baboseiras como os futebolistas. Não digo coisas que toda a gente sabe. E mantenho o controle perante o gerente do café. Não vou sair daqui bêbado. Não vou sair daqui a cambalear. Tenho algo de sublime. Algo de sublime. Percebes, Gotucha? Sou o rocker e o poeta. Sou o gajo que elas querem. Posso não ter dinheiro mas tenho o espírito. Sou Dyonisos. Gozo com esta merda toda. Com todos os imbecis que estão cá dentro. Faço deles o que quero. Reduzo-os a caricaturas. "O homem superior é aquele que não tem preconceitos", escreveu Nietzsche. Rio-me das vossas fraquezas. "Sou o Rei Lagarto, sou todo-poderoso"- Jim Morrison. Eu venho do Jim, eu venho de Nietzsche.Não sei se isto algum dia será publicado. Mas se for talvez mude o mundo. A revolução está na minha cabeça. Não tenho que ser modesto, não tenho de ser ponderado. Em visões senti o poder. Senti o poder dos céus, o poder de marchar sobre Lisboa. Mas depois ouço a voz do mundo. Como se o meu pai viesse falar comigo. E fico sensível. E sinto ternura pela Humanidade. E sinto ternura por ti. E desço ao café. E sinto ternura por esta gente. E o café está quase deserto. E a Gotucha não vem. Mudar o mundo. Mudá-lo a fundo. Anarquicamente, caoticamente. Escrevi isto aos 19 anos. E agora, 21 anos passados, sinto-me um deus. Um deus sem dinheiro e sem trabalho. Mas será que os deuses precisam de dinheiro e de trabalho? Como dizia o Jim- só quero que vocês se amem e dancem e celebrem. Não são precisas manifestações nem revoluções.

Braga, 11 de Agosto de 2008.

2 comments:

Claudia Sousa Dias said...

pois não...

Mas sem elas...


...que marasmo!

As vezes fazes-me lembrar o Peter Ustinov a fazer de Nero poeta naquele filme velhíssimo - Quo Vadis (a sério, toma isto como um elogio).

Sei, no entanto que apenas e só palavras e voz incendeiam cidades.

Como Napalm.


CSD

Unknown said...

Após as palavras dancemos.
Dancemos que tudo vai acontecer!
Obrigado por seres mais um que ESCOLHEU não fazer parte dum sistema podre e desumano.