Saturday, July 12, 2008

SEX PISTOLS




Sex Pistols - O punk é quem mais ordena

Num ano e meio, com dois singles e um álbum, deram arranque à revolução punk e transformaram para sempre a face do rock'n'roll. Lendários, gordos e cinquentões, os SEX PISTOLS andam a celebrar o legado mundo fora. Texto: Mário Lopes *

Estou gordo, tenho 52 anos e estou de volta". Não será surpreendente que Johnny Rotten, considerado há três décadas "a maior ameaça para a juventude [inglesa] desde Hitler", se dirijam daquela forma ao público de Paredes Coura, quando os Sex Pistols, dia 31 de Julho, ali se apresentarem. Foi precisamente isso que disse à entrada de um dos concertos que deu o ano passado na Brixton Academy, em Londres. Não estava lá para enganar ninguém, não estará cá para o fazer.

Imaginemo-los: Johnny Rotten, o guitarrista Steve Jones, o baterista Paul Cook e o baixista Glen Matlock atirando-se furiosamente a "Anarchy in the UK" e furando a realeza com alfinete de ama em "God Save The Queen". Sex Pistols: ícone maior do punk, banda charneira da história do rock. Sex Pistols: Gordos, cinquentões e de regresso.

Revelaram-se com estrondo em 1976 e o mundo não parou para os ver. Precisamente o contrário: o mundo rodou a velocidade supersónica enquanto uma geração destruía os alicerces do passado com três acordes, palavras de ordem cuspidas, t-shirts rasgadas e cabelo espetado. O punk não queria tomar o poder, queria destruí-lo. Das ruas para as ruas, das pessoas para as pessoas.

Mais de três décadas depois, os Sex Pistols ainda andam a celebrá-lo mundo fora. Em 1996, deixaram explícito ao que vinham no título da digressão, "The Filthy Lucre Tour". O ano passado, planearam celebrar o trigésimo aniversário do álbum Never Mind The Bollocks, Here's The Sex Pistols com um concerto na Brixton Academy, em Londres, a 8 de Novembro. Como os concertos esgotaram num par de minutos, decidiram marcar outra data - como esgotaram novamente, eles marcaram outra e outra e outra. Acabaram por tocar cinco dias na sala londrina e por mais dois em Manchester e Glasgow.

A instituição que cospe nas instituições sabota constantemente a sua reputação e, com isso, mantém-se lendária. Só isso explica que Johnny Rotten, actualmente um magnata do imobiliário em Los Angeles, homem que, em 2004, foi um dos participantes do reality show britânico I'm A Celebrity!... Get Me Out Of Here , mantenha o seu estatuto impoluto. Pode ter gasto recentemente uma fortuna no tratamento da dentição, cujo mau estado era quase uma imagem de marca, mas continua a ser Johnny Rotten, figura central de um movimento que se fundou como música mas cujo impacto a ultrapassou grandemente.

Até o baixista Glen Matlock, expulso dos Pistols em Fevereiro de 1977 e substituído pelo icónico Sid Vicious, emergirá como o homem certo no sítio certo. Sid era uma personagem de poster, a representação máxima da atitude niilista e alienada que o conduziria à auto-destruição. A relação tumultuosa com a namorada, a groupie americana Nancy Spungen, alimentada a heroína e destruída com o corpo dela, esfaqueado, jazendo num quarto do Chelsea Hotel, em Nova Iorque, tornar-se-ia símbolo dessa vivência excessiva. Sid Vicious, ao contrário dos Sex Pistols que veremos em Paredes de Coura, nunca poderia chegar a ser gordo, ter 52 anos e estar de volta.

A boutique da anarquia

Por paradoxal que possa parecer, toda esta história começa numa boutique. Chamava-se SEX e era propriedade da estilista Vivianne Westwood e do seu companheiro Malcolm McLaren, empresário que, depois de ter falhado rotundamente na transformação dos proto-punks New York Dolls em fenómeno de massas, utilizaria exactamente os mesmos métodos sensacionalistas em Inglaterra, desta vez com o efeito oposto.

Para uma comunidade juvenil pouco interessada nos cabelos compridos e na retórica "hippie" que subsistiam em meados de 1970, a SEX funcionava como ponto de encontro. Ali, a jukebox passava os New York Dolls ou Alice Cooper. Ali, promovia-se uma nova estética, parcialmente inspirada no rockabilly dos anos 50, feita de t-shirts rasgadas, correntes de metal e cabedal coçado. Reuniam-se adolescentes presos ao aborrecimento do quotidiano e à falta de perspectivas numa Inglaterra em crise económica: não queriam a vida pré-programada dos pais, não acreditavam na utopia "peace & love" dos irmãos mais velhos, não ouviam música que achassem relevante na rádio, na televisão ou nas ruas.

* Jornalista. Escreve todas as sextas-feiras no suplemento Ípsilon, do jornal Público.

Leia o artigo completo na BLITZ de Julho.

No comments: