Thursday, July 17, 2008

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Tales de Mileto caiu para dentro de um poço enquanto caminhava distraído a contemplar os astros. Os Pitagóricos, que tinham da música uma concepção essencial, julgando a astronomia uma teoria da música celeste, não comiam carne porque receavam poder “devorar o corpo de um parente ou de um amigo reincarnado num animal”. Curioso que Heraclito julgasse Pitágoras o rei dos tagarelas. Conta Diógenes Laércio que, depois de ter contraído hidropisia, em coerência com a sua teoria segundo a qual o fogo era o elemento a partir do qual tudo se explicava, Heracltio “fechou-se num estábulo, pensando que o calor do estrume faria desaparecer a água que o atormentava”. Xenófanes de Cólofon teve uma vida errante e dedicou-se à poesia, queixando-se dos modos efeminados dos seus concidadãos e do desprezo votado aos filósofos em favor dos campeões do estádio. Atribuem-lhe a primeira tentativa de desmitologização. Empédocles foi um vagabundo que se reclamava capaz de dar ordens à própria morte. Conta-se que curava a cólera recitando versos da Odisseia, acreditava no poder curativo da música e ressuscitou uma mulher que já não respirava há trinta dias. O fenómeno explica-se, na actualidade, atribuindo à mulher um problema de histeria. Diz a lenda que mergulhou na cratera do Etna com o objectivo de se purificar no fogo. O Etna terá cuspido uma das suas sandálias de bronze. Zenão de Cício, fundador do estoicismo, foi discípulo do cínico Crates, que certo dia o submeteu a uma prova para o ensinar a desprezar a opinião pública: “achando-o muito reservado, deu-lhe um pote de puré de lentilhas para transportar através do bairro da Cerâmica; Zenão, confuso, tentou esconder-se; Crates partiu com uma paulada o pote, o puré derramou-se sobre as pernas de Zenão que fugiu muito envergonhado”. Homem tímido e reservado, este Zenão era um tipo generoso. Dava lições a qualquer um e não cobrava nada por isso. Certo dia, ao sair da escola, caiu e partiu um dedo. Tendo visto nisso um sinal, sacudiu a terra das mãos, estrangulou-se e morreu. Foi enterrado no bairro da Cerâmica. O seu sucessor, Cleanto, era tão pobre que escrevia em cacos e em omoplatas de boi os ditos do seu mestre. Morreu velho, recusando-se a voltar a comer depois de ter contraído um tumor numa gengiva. Perante tudo isto, não admira que Crisipo tenha morrido a beber vinho doce ou, segundo outra versão, “depois de ter rebentado a rir ao ver um burro a comer figos”.

Fontes: Jean Brun, Os Pré-Socráticos, trad. Armindo Rodrigues, Edições 70, Lisboa, 1991; O Estoicismo, trad. João Amado, Edições 70, Lisboa, 1986.

1 comment:

renato gomes pereira said...

realismo existêncial...eh!eh!