Monday, June 22, 2009
INGEBORG BACHMANN
ingeborg bachmann / uma espécie de perda
Usámos a dois: estações do ano, livros e uma música.
As chaves, as taças de chá, o cesto do pão, lençóis de linho e uma
cama.
Um enxoval de palavras, de gestos, trazidos, utilizados,
gastos.
Cumprimos o regulamento de um prédio. Dissemos. Fizemos.
E estendemos sempre a mão.
Apaixonei-me por Invernos, por um septeto vienense e por
Verões.
Por mapas, por um ninho de montanha, uma praia e uma
cama.
Ritualizei datas, declarei promessas irrevogáveis,
idolatrei o indefinido e senti devoção perante um nada,
(- o jornal dobrado, a cinza fria, o papel com um aponta-
mento)
sem temores religiosos, pois a igreja era esta cama.
De olhar o mar nasceu a minha pintura inesgotável.
Da varanda podia saudar os povos, meus vizinhos.
Ao fogo da lareira, em segurança, o meu cabelo tinha a sua cor
mais intensa.
A campainha da porta era o alarme da minha alegria.
Não te perdi a ti,
perdi o mundo.
ingeborg bachmann
o tempo aprazado
(últimos poemas 1957-1967)
trad. judite berkemeier e joão barrento
assírio & alvim
1992
in http://canaldapoesia.blogspot.com
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3 comments:
espectacular...realismo existêncial?
Eu vi o filme Malina de Werner Schroeter (acho eu) que é tambem o título do livro da Ingeborg Bachmann.
Gostei muito do filme, ví-o hà mais de 10 anos em Aveiro. Na altura emprestaram-me esse livro, mas na altura não o li devido a factores aleatórios. E agora esse livro parece estar esgotado.
Se souberes onde o posso arranjar, diz para eu o tentar adquirir.
Saudações
caro ZMB,
infelizmente não te sei indicar onde encontrar o livro.
Abraço,
Pedro.
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