Wednesday, June 17, 2009

O PROFETA


Sou uma espécie de profeta
que escreve na confeitaria
à minha frente tenho o "Plexus" de Henry Miller
e o "Junky" de William Burroughs
as pessoas da aldeia olham para mim
como uma "avis rara"
um homem que passa a vida a escrever e a ler
e que só fala com o barbeiro e com a D. Rosa
um homem sem horários e sem trabalho
que se conheça
um homem de poucas palavras
que talvez um dia se vire para a multidão
e comece a pregar
um homem que vem dos tempos bíblicos
ou de Camelot ou da Grécia
um homem que às vezes vai à cidade
ter com os amigos
um homem de poucos sorrisos
que talvez esconda uma vida dupla
um homem que é simpático
mas não dá confiança
um homem que não entra
nas conversas da vidinha
um homem um bocado esquisito
que não liga ao dinheiro nem à riqueza
um homem tímido
de quem se desconhece a religião
um homem que, de longe a longe,
tem umas saídas que ninguém entende
como a de espetar um paralelo no vidro
da Junta de Freguesia ou de aparecer de madrugada
completamente bêbado caído na estrada
histórias do passado que já quase
ninguém lembra.

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