Thursday, December 16, 2010

OS POBRES QUE PAGUEM A CRISE

Subject: OS POBRES QUE PAGEM A CRISE

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Os pobres que paguem a crise
No País mais desigual da Europa o salário mínimo não pode ser actualizado para uns miseráveis 500 euros. E nesse mesmo País o Parlamento chumbou a possibilidade dos accionistas da PT pagarem impostos pelos seus dividendos.

Daniel Oliveira (www.expresso.pt)

8:00 Sexta feira, 3 de Dezembro de 2010











O governo recusou na intenção de actualizar o salário mínimo para 500 euros. Parece que as empresas não estão capazes de sustentar tamanha loucura. Iriam, dizem muitos, à falência. Uma má notícia: quem não consegue pagar 500 euros por mês a um trabalhador já faliu. Apenas ninguém o avisou. Porque se a nossa única salvação para conseguir crescer e exportar é dar competitividade às nossas empresas não há como o fazer com trabalhadores semi-escravos. Para isso já existe a China, que consegue pagar ainda menos. Empresas que fecham se pagarem 500 euros (que pura e simplesmente não dá para viver) a um trabalhador não têm futuro. Ponto final.

Este recuo é especialmente grave quando se sabe que somos o país mais desigual da Europa, com salários baixos demasiado baixos e salários altos demasiado altos. Segundo um estudo publicado ontem, os 20% mais ricos ganham 6,1 vezes mais do que os 20% mais pobres. Cerca de um milhão de trabalhadores (com emprego) vivem próximos do limiar de pobreza. Esta desigualdade é mais do que um problema social: é um problema económico. Como podemos nós acrescentar algum valor ao que produzimos se quem produz vive no limiar da sobrevivência?

No mesmo momento em que se recua neste compromisso de dignidade mínima, o Parlamento chumbou uma proposta do PCP que obrigaria os accionistas da PT, dentro dos limites da lei, a pagar, como devem, impostos sobre os dividendos que recebem. Ou seja, a contribuir para o esforço nacional de endireitar as contas públicas.

Conclusão: quem recebe o salário mínimo e vive próximo da miséria apesar de ter emprego tem de compreender que estamos em crise e aceitar mais este sacrifício. Quem recebe os lucros de um negócio - onde, por acaso, o Estado desempenhou um papel central - não pode ser incomodado com obrigações para com a comunidade.

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