Friday, October 28, 2011
É sempre melhor estar aqui no Piolho, na cidade, do que na aldeia. Sempre há movimento, trocam-se ideias, alguns lêem. Além disso, vêem-se umas gajas. No dia 12 vou apresentar aqui o "Café Paraíso". O Adriano está contente. As gajas passam á minha frente. A escrita já não está cavalgante como há pouco. Talvez, como alguém disse, eu tenha algo a ver com Pessoa. Ele ia duas vezes por semana ao escritório, eu não vou nenhuma. Vou pedir uma pensão de invalidez. Preciso de ter algum dinheiro. Ou então vou dizer poemas para as escolas. Sou, de facto, o poeta e o personagem dos meus escritos. Ao escrever sobre mim estou a escrever sobre os grandes dramas da humanidade. Sou o homem. Ele próprio. Questiono a vida, o seu sentido. Escrevo versos. Percorro os dias. Se estiver solto, sou capaz de ter conversas muito interessantes. De dizer o que há muito não é dito. Continuo a acreditar na transformação do homem e do mundo. Pelo menos, de alguns homens. Mas já não acredito na militância clássica. Se for cabeça-de-lista a alguma coisa, certamente serei diferente, sairei das campanhas da rotina, soltar-me-ei, dialogarei com o povo. Esperai de mim o incêndio, não a calmaria. A calmaria tenho-a agora, enquanto precisar dela. Como Sá-Carneiro, como Pessoa, escrevo à mesa do Piolho. Qualquer dia vão fazer-se excursões ao Piolho só para me verem escrever. Sei lá. Penso que a fama está a chegar. Sou uma espécie de santo, como diziam de Nietzsche. As gajas continuam a passear-se à minha frente.
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