Friday, January 30, 2009
DO TEM QUE SER
A MAria limpa a vitrine
e diz que tem que ser
essa coisa do tem que ser
sempre me fez confusão
já me apetece outro café
e ainda agora tomei um
e volta a Maria:
-tem que ser
as pessoas tem que comer
é o senso comum
a linguagem da vidinha
o que é que isto tem de grande?
o que é que isto tem de divino?
Divina é a diversão
tocar guitarra e cantar
noite dentro
dançar beber vinho
não é isto do tem que ser
não é este jeito fatalista
ah! é a crise...
e quem tem as culpas da crise?
Os banqueiros, os bolsistas, os capitalistas
não é ficar para aqui a lamentar-se
não é a mentalidade do rebanho
como dizia Nietzsche
sejamos àguias leões
digamos "eu quero!"
sejams afirmadores da Vida
sejamos altivos e orgulhosos
não nos limitemos a queixar da chuva
a coisa vem
coisa vem para os audazes, para os criadores,
para os conquistadores
para aqueles que despedaçam os carneiros
dentro de si
para aqueles que sobem à montanha
para aqueles que procuram a luz
para aqueles que sobem ao palco
e dizem a palavra
esmaguemos os nossos carrascos!
Os profetas da morte, os governantes,
os economistas
proibemo-los de ir à televisão
proibemo-los de falar
tomemos a televisão e os media!
Saqueemos as ruas
as lojas, os bancos
demos caos ao caos
este é o momento
esta é a hora
caguemos nos investimentos e na bolsa!
DEmos cabo desta merda toda
nada há a perder
nada há a perder, meus amigos,
que se foda o Obama!
É apenas mais um
não acreditamos nas ilusões que nos querem vender
Destruamos para construir!~
Caguemos na conversa das velhas
procuremos a luz
onde quer que ela esteja
Rebentemos com o mercado!
Rebentemos com a economia!
Sejamos felizes
sejamos felizes como no princípio
como no Uno Primordial
demos as mãos, companheiros,
seremos vencedores
amantes das pulsões vitais
sejamos deuses!
Nada mais interessa
nada mais vale a pena
e assim corre a pena...
Tuesday, January 27, 2009
NAMORO
Tomas café
sentas-te a meu lado
se calhar sabes que me atrais
que mexes comigo
agora que desci dos céus
agora que voltei a ser homem
e já não me apetece ler o Pacheco
não sou pior do que ele
em todos os sentidos
e tu pões-me doido
acaricias a chávena
falas
dizes a palavra
conversas com a amiga
e eu observo
cofio as barbas
apetece-me oferecer-te o poema
se estivesse com mais lata
oferecia-to
afinal de contas,
não sou qualquer um
tenho vários livros publicados
falas
moves a cabeça
e partes
vais fumar lá fora
à chuva
estes namoros de café já não se usam
ainda fico com má fama
mas não sou eu o poeta
que ainda há pouco estava nas alturas?
Voltas
falas baixinho
sabes que me atrais...
Vilar do Pinheiro, "Motina", 27.1.2009
Sunday, January 25, 2009
A EMBRIAGUEZ
A Propaganda
Para a Psicologia do Artista - para que haja a arte, para que haja a ação e uma visualização estética é incontornável uma precondição fisiológica: a embriaguez. A embriaguez precisa ter elevado primeiramente a excitabilidade de toda a máquina: senão não se chega à arte. Todos os modos diversamente condicionados da embriaguez ainda possuem a força para isso: antes de tudo, a embriaguez da excitação sexual, a mais antiga e original forma de embriaguez. Da mesma forma, a embriaguez que nasce como conseqüência de todo grande empenho do desejo, de toda e qualquer afecção forte; a embriaguez da festa, do combate, dos atos de bravura, da vitória, de todo e qualquer movimento extremo; a embriaguez da crueldade; a embriaguez na destruição; a embriaguez sob certas influências metereológicas, por exemplo a embriaguez primaveril; ou sobre as influências dos narcóticos; por fim, a embriaguez da vontade, a embriaguez de uma vontade acumulada e dilatada. – O essencial na embriaguez é o sentimento de elevação da força e da plenitude. A partir deste sentimento nos entregamos às coisas, as obrigamos a nos tomar, as violentamos.
Friedrich Nietzsche
MONGE
Sinto-me só
os meus amigos e amigas não estão
as tardes correm tristes
não há com quem falar
a GOtucha na Madeira
os outros longe
e eu sinto-me um monge
que se dedica à escrita e à leitura
e que bebe uns copos de vez em quando.
os meus amigos e amigas não estão
as tardes correm tristes
não há com quem falar
a GOtucha na Madeira
os outros longe
e eu sinto-me um monge
que se dedica à escrita e à leitura
e que bebe uns copos de vez em quando.
VELHAS
Venho à "Motina"
e tudo me aborrece
desde a conversa das velhas
à leitura do jornal
as empregadas andam
de um lado para o outro
mas não me excitam
venta forte lá fora
a música bate na rádio
os Xutos fazem 30 anos
e há uma nova menina
a comentar os meus escritos
a crise está em todo o lado-comenta-se
e a confusão acerca dos políticos adensa-se
mas o que me chateia sobremaneira
é o basqueiro que as velhas fazem.
Saturday, January 24, 2009
PIOLHO
No "Piolho" à espera de um amigo
a meu lado uma miúda gira telefona
enquanto eu bebo o fino da praxe
chegou a amiga
que é dela e não minha
se ao menos me tivessem ouvido
no Clube Literário há uma semana
mas não, resta-me esperar pelo amigo
que não vejo há séculos
e a menina come sopa
eu fui ao tasco do lado abastecer-me
de vinho e panados
e agora bebo, volto a beber
sou um Morrison
em pequena escala
pois esse bebia até rebentar
e eu só, a espaços, o faço
hoje o empregado perguntou-me se eu era
um tal de Amílcar Fontes
não, não sou
desolado
sou o António Pedro Ribeiro, 40 anos
amigo da Gotucha
e da Cláudia e de outras
poeta, nem sempre reconhecido pelos literatos,
louco
amigo do Jim Morrison
e o "Piolho" vai enchendo
este ano faz 100 anos
já há quem escreva a "biografia"
e eu até conheço
ai, Paulinha, Paulinha,
por andam a minissaia
e as tuas coxas?
Uma vez mais não estou em Braga
nem tenho dinheiro
sou apenas o gajo que escreve
há quem me queira dar destaque
pôr acima da banda
numa varanda
há quem só olhe para o futebol
e para o Benfica
o país pára
e eu olho para as gajas
a cerveja vai a meio
e o meu amigo há-de vir
há muitos anos que já não vem
mas de gajas, nada!
UMa anda fodida dos dentes
andou a fazer broches
e eu torno-me imensamente cruel
50 milhões para o Chelsea
e o CHissoko e o Mariano Gonsalez
grande defesa-esquerdo
este Aimar encanta
valha-me Deus e a mão de Deus
e a outra gaja come sopa
sou espontâneo, não sou organizado
escrevo ao correr da pena
escrevo em Atenas
sou Deus Júlio César
vou jantar ao Melo
é barato desde que haja cacau
o nariz de piça
dizia a puta velha
quarto limpo
serviço completo
não sou menos do que o Bukowski
escrevo ao mesmo ritmo
e cerveja, muita cerveja
e o tempo passa
e as gajas falam
e a gaja do lado sorri
talvez me conheça de algum lado
de alguma das minhas sessões
quero chegar a todo o lado
como diz o Oliveira
vou apresentar os manifestos
no "Gato Vadio"
e depois haverá discussão
e a gaja apalpa o telemóvel
e eu bebo
o amigo demora a chegar
ainda é cedo
e o Benfica empata
o Aimar já deveria ter marcado
e os gajos do lado
comentam o cachecol do Jaime Pacheco
sempre o futebol
sempre o futebol
e eu quero rock n' roll
se o Rocha estivesse aqui
estaria vidrado no ecrã
e os gajos do lado sempre a comentar
apetece-me dar um berro
cagar para o futebol
eu é que sou o deus
eu sou o maior
hipnotizo as audiências
escrevo como ninguém
o copo chega ao fim
eis o que resta de mim
não estou b~ebado
não consigo ficar bêbado
os gajos do lado sempre a comentar
apetece-me rebentar
estoirar todas as bolas
inclusivé os testículos
que isto de beijos
já deu o que tinha a dar.
JIM MORRISON
JIM MORRISON
O empregado do "Piolho" tem os discos dos Doors e gosta do Jim Morrison. E esta agora? Ficaste surpreendido. Isto afinal não é só compra e venda.
Thursday, January 22, 2009
ESCREVER
Escrever. Escrever para quê se não sou publicado? Escrever para quê se s´´o me dão valor quando subo ao palco para dizer umas baboseiras? É certo que, em tempos, me publicaram. Mas parece que a torneira está a fechar. Dizem que tenho de ser mais organizado, que tenho de limar mais as coisas, que a recessão aperta. Foram muitos ver-nos ao Clube Literário. Mas não vejo nem um só, agora. DAqui a bocado vou ler mais uns poemas ao Gato Vadio. Em Famalicão agora querem mais fado do que poesia. Há que agarrar as oportunidades. Cagar na merda da telenovela que nos impingem. Pedir um café para conseguir ler o Jim Morrison. Escrever poemas que ninguém publicará. OLhar para as gajas que chegam e que não conheço. Ainda há quem nos ponha nos píncaros. Ainda há quem faça de mim a estrela. Mas isto de viver sem mulher é muito triste. E ela nunca mais vem. Que ganho eu a escrever isto? Apenas alguns pontos no combate contra o apagamento, contra o suicídio. A vida é realmente uma bela merda.
Sunday, January 18, 2009
AS PALAVRAS
Quatro paredes
paisagem breve
canto suave
muito suave
eu canto
vou até ao mar
vou até às estrelas
adormeço lá
não há adornos
não há artifícios
as palavras valem por si
dispõem-se livremente
andam por aí
andam no trapézio
fazem malabarismos
dão cambalhotas
as palavras dançam
vêm do México
fazem magia
as palavras voam
têm vida própria
fogem da caneta
desprendem-se do texto
as palavras já não são
o que fazemos delas
as palavras existem
para lá do poeta.
O mundo aborrece-me. Sinto tédio. Vem um gajo beber uma cerveja para ver se a coisa passa mas é uma ilusão. Nem sequer consigo continuar as minhas reflexões filosóficas. Que grande merda! Não há gajas depois do triunfo de ontem. Não soubeste agarrá-las. Só se vêem gajas carregadas de filhos. REsta a cerveja. Olha-se para o futebol. E olha-se para as preocupações comuns da gente comum. Que raciocínios brilhantes!
Saturday, January 17, 2009
O POETA
Sou aquele tipo de poeta
que não se adaptou à realidade
aliás, o que eu quero
é fugir da realidade
criar cenários oníricos
inventar personagens
reis, rainhas, damas do lago
sou o poeta que observa as gajas
e que é um zero nas tarefas domésticas
sou o poeta que se dirige ao povo
e que não sabe estrelar um ovo
sou o poeta que não se adaptou às normas
que questiona o império das horas
sou o poeta que se senta ao balcão
à espera que lhe chamem genial
às vezes até sou o Pai Natal
as crianças atinam comigo
mas eu refugio-me no meu abrigo
sou o poeta que apanha o metro
sou o poeta que ouve as conversas
sou o poeta que olha para as gajas
sou o poeta que vos rebenta as cabeças!
Com vossa licença,
agora vou para casa
pois nada mais há a declarar.
Thursday, January 15, 2009
POEMA DA GAJA QUE ESTÁ AO BALCÃO
a gaja que está ao balcão. A gaja que está ao balcão mexe comigo e dá-me tesão. Apetece-me contar-lhe coisas, contar-lhe a minha vida, dar-lhe poemas e flores. A gaja que está ao balcão é boa. Apetece-me fugir com ela para Lisboa. Acariciar-lhe os cabelos negros. Beijar-lhe a boca. A gaja que está ao balcão intriga-me. Apetece-me estar com ela a toda a hora. Apalpá-la. Contar-lhe histórias que a emocionem. A gaja que está ao balcão tem um jeito desinibido de ser, um andar gingão, uma atitude despreocupada. A gaja que está ao balcão dá-me vontade de beber. DE deitar umas garrafas abaixo. Convidá-la para jantar. A gaja que está ao balcão é boa. E até deve ser boa rapariga. Apetece-me tanto falar com ela. SEgredar-lhe coisas bonitas ao ouvido. Dizer que a amo e que estou apaixonado por ela. A gaja que está ao balcão.
BARES INGLESES
Ai! A minha vida!
Dizia o meu avô
e eu aqui a ver crianças
de gravata
e o gerente do café esvoaça
e a mãe berra
as crianças enlouquecem
e a mim apetece-me
voltar aos bares ingleses
e beber até ao jantar.
Dizia o meu avô
e eu aqui a ver crianças
de gravata
e o gerente do café esvoaça
e a mãe berra
as crianças enlouquecem
e a mim apetece-me
voltar aos bares ingleses
e beber até ao jantar.
Wednesday, January 14, 2009
ANTOLOGIA DO ESQUECIMENTO
COMENTÁRIO ANÓNIMO
tirem o dinheiro dos bancos. não paguem impostos. não votem. já se percebeu quem se serve com tudo isto. não comprem, não vendam. resistemos (sic), manifestemo-nos.
Eu diria mesmo mais: parem, façam greve de fome, contenham a respiração, não comam, não defequem, não urinem, suicidem-se. Resistamos.
retirado de http://antologiadoesquecimento.blogspot.com
tirem o dinheiro dos bancos. não paguem impostos. não votem. já se percebeu quem se serve com tudo isto. não comprem, não vendam. resistemos (sic), manifestemo-nos.
Eu diria mesmo mais: parem, façam greve de fome, contenham a respiração, não comam, não defequem, não urinem, suicidem-se. Resistamos.
retirado de http://antologiadoesquecimento.blogspot.com
FILOSOFIA
Venho à "Motina" ao domingo de manhã
não é hábito por estas bandas
só em Braga é que dou as minhas curvas matinais
as empregadas estão todas de amarelo
e a máquina do café manifesta-se ruidosamente
a mamã traz a criança ao colo
e os Trovante passam na rádio
tenho saudades das críticas do Rui Lage
e a porta abre e fecha continuamente
dizem que não há dinheiro
mas as mesas estão cheias de notas de 10
eu, por mim, contento-me com os 55 cêntimos
para o café e já não é mau de todo
é o que basta para estudar filosofia.
Tuesday, January 13, 2009
Bebo e não consigo ler. EScrevo apenas e só para o caderno pois a net flipou. O bigodes de sempre senta-se ao balcão de sempre e fala de futebol e de crimes com o estalajadeiro. O tédio não me atinge só a mim. A cerveja prossegue. ESte mês pode ser um mês em grande. TEnho espectáculos marcados para 16, 21 e 31- e, neste caso, com cacau. Só me falta uma gaja para pinar e para dar uns beijos. Uma gaja para amar e para namorar. SEjamos sinceros. Sinto-me, como Nietzsche, muito para lá do senso comum. Apesar de tudo, sinto falta do Rocha. Bebo. O bigodes ao balcão também. O estalajadeiro lava a loiça. Agora ninguém fala. Este mundo é um tédio. SE tivesse dinheiro apanhava uma borracheira e começava a mandar umas bocas à Morrison. Vou mesmo escrever um livro dedicado ao Morrison, à luz de Nietzsche. A Corpos publica. POsso ganhar cacau com isso. Cacau para os poetas! Cérebro a abrir. Deus morreu. AS portas abrem-se. Cerveja a deslizar na garganta. Gotucha. Gotucha. POr onde andas? Ao menos em Braga havia dinheiro. Ao menos em Braga as pessoas saúdam-me, emitem sinais, respeitam-me. Aqui sou apenas mais um. Apenas mais um que vem para aqui escrever. E que não é mais do que aqueles que falam de futebol. Bebo mais cerveja e o estalajadeiro fica radiante e dialoga comigo. E que se foda o Ângelo Vaz! Esse filho da puta andou a enganar-me. A mim e aos velhotes. AS crianças brincam ao homem-aranha. Benditas sejam as crianças. Benditos os que passam a vida a brincar. O pior é que depois ficam tristes, sérios e a infância acaba. E começam a converter-se aos valores do capitalismo e do senso comum como o do homem que está ao balcão. O homem deve estar com a cabeça toda fodida. Fica imobilizado horas a ver um jogo do campeonato inglês. está na caverna de Platão mas nem sequer comenta as sombras. é UM caso perdido. POr esse nada podes fazer, ó poeta. A cerveja dá delírios mas faz bem à alma. Essa é que é essa. E a A. gosta de mim. Não sei até que ponto mas gosta de mim. Mas um gajo olha para as crianças. E dá vontade de castrar todos os pedófilos. Quem me dará um filho? Serás tu, ó eternidade? POrra! Que apareça aí uma gaja de jeito na próxima meia-hora.
Até tu, senhor dos anéis, te rendes ao futebol. Torces pelo Liverpool. É uma velha aliança.
PROUDHON
A revolução está acima da república.
A abolição da exploração do homem pelo homem e a abolição do governo pelo homem são uma só e a mesma proposição.
Anarquia ou cesarismo!
A abolição da exploração do homem pelo homem e a abolição do governo pelo homem são uma só e a mesma proposição.
Anarquia ou cesarismo!
JIM MORRISON
O FIM DO CAPITALISMO
Enquanto os outros trabalham
eu escrevo ou faço disparates
a revolta grega voltou
afinal a coisa vai durar
não é só israelitas a matar palestinianos
não é só capitalstas a facturar
o Sarkozy está com medo do fim do capitalismo
até caga e mija nas calças de medo
isto está a ficar realente bonito
há que partir umas merdas aqui e ali
neste país que só vive de palavras
até o Bloco se uniu ao Cavaco
é preciso um partido, um movimento
de extrema-esquerda e/ou anarquista
para partir a loiça toda
unir num lado para destruir do outro
unir os nossos, destruir os deles
eis a máxima
tenho de ir à Povoa
avisar a malta toda
começar a revolução
vamos lá ver se o TOny Vieira
tem pedalada para mim.
SAMEIRO
Monday, January 12, 2009
AO DEUS DARÁ
Estou no shopping e as pessoas passam
comem, bebem chá, falam ao telemóvel
sou semelhante a elas
mas sou completamente doido
não tenho raciocínios convencionais
apalpo as gajas no cu e nas mamas
dou-lhes beijos na boca
ponho-me a cantar no meio do shopping
a proclamar a Boa Nova
sou completamente doido, sabes
talvez as crianças me compreendam
talvez esteja próximo delas
correm sem destino definido
brincam com a vida
é pena que depois cresçam
e se tornem racionais e convencionais
continuo doido
mas acalmei
as barbas crescem
agarro-me a elas
o copo está vazio
deixei de cantar
e as pessoas já não olham para mim
julgo-me sublime
um criador à maneira
ando pelo shopping em triunfo
com ares de grande conquistador
agoraestou no palco
os gajos e as gajas olham para mim
ficam à espera que eu lhes vomite em cima
ou que lhes diga a palavra que muda a face do mundo
sou completamente doido, sabes
não tenho que ter comportamentos racionais
nem politicamente correctos
não tenho responsabilidades nem obrigações sociais
deixo-me andar à deriva
ao Deus dará
as pessoas passam
e eu começo a encher-me de tédio.
O BEIJO NA BOCA
Uma cervejinha sabe bem
a olhar para o programa do atrasado mental
enquanto leio o Guy Debord
nos períodos em que a revolução está distante
é nos círculos poéticos que se conserva a ideia de totalidade
é isso a ideia de totalidade, de homemm total
está para lá da economia
está para lá do cálculo mesquinho e mercantil
está no Artista
no poeta que cria à mesa
que chama o gerente
e pede mais uma
quando há cacau para a cerveja
o mundo pula e avança
e o poeta também
o poeta escreve
abre mundos, abre portas
o raciocínio corre célere
esquece que a Gotucha não está
olha para o cu da gaja
o poeta tem a humanidade à sua mesa
não está só
apesar de o estar
vai pedindo mais cerveja
comemora o ano novo
com um dia de antecedência
a pança enche
há pouco estava triste
agora rjubila de alegria
não sabe bem porquê
o poeta nem sempre usa a razão
deixa a pena correr
chama o gerente
-uma cerveja, se faz favor!-
que isto hoje está a render
está em causa o futuro da humanidade
o poeta está feliz e o gerente traz a cerveja
de sorriso rasgado
cá está um bom cliente
um cliente que consome e que está feliz
um cliente que pede a cerveja com alma
o gerente não pergunta o que o poeta escreve
mas isso também não interessa
o que importa é que o poeta-cliente está feliz
e produz
hoje nem sequer pensa em motins e revoluções
tem uma perspectiva holística
vê o homem total
o homem que está de bem consigo próprio
que está de consciência tranquila
que até se ri do programa do atrasado mental
e da diva televisiva de fim de ano
mas continua a não poder ver o primeiro-ministro
sempre que vê o primeiro-ministro o semblante altera-se
sempre que ouve o primeiro-ministro chovem cobras
mas não deixa de se sentir acima das questõezinhas económicas,
dos défices, das décimas, das bolsas, da eficácia
o poeta, às vezes, sente falta de companheiros
para discutir as suas teses
o poeta sente falta do Rocha
e das suas análises sociológicas
mas não deixa de se sentir em cima
a cerveja não acabou
e pode vir sempre mais uma
que se foda!
O que importa é gozar o momento
curtir a hora
enquanto dura
bem sabemos que o mundo é uma merda
que fizeram do mundo uma merda
mas sempre podemos olhar para a perna da gaja
sempre podemos curtir a cerveja
a cerveja substitui os amigos
a cerveja substitui as gajas
e até julgamos que estamos próximos do sublime
e até julgamos que descobrimos a pólvora
mesmo que estejamos sózinhos
num café de Braga
onde pouco se passa:
um homem lê o jornal
o gerente conversa com dois clientes
a televisão passa o concurso do atrasado mental
e outro cliente bebe e escreve
pois ,por acaso, é poeta
começou a pensar que era poeta aos 16 anos
quando escrevia umas coisitas sentimentais
depois fez umas pausas
publicou uns livros
e agora tem a mania de escrever todos os dias
pensa que acrescenta algo à humanidade
pensa que a pode mudar, que a pode moldar
à sua imagem e semelhança
mas é o gordo atrasado mental que arranca palmas
de vez em quando os media lembram-se do poeta
mas depois desaparecem
as horas vão passando
e o poeta continua a beber
vai sair mais um daqueles épicos
para contar aos netos
ouve amigos que admirava e que já partiram
o Jaime, o Joaquim, o Alba
e as barbas crescem
as convesas do gerente com os clientes
não o entusiasmam
falam de voltas e de carros e de cartas
é certo que o poeta gosta de andar às voltas
até se sente atraído pela gaja que está ao balcão
e que fuma
e grita: GAJA QUE ESTÁS AO BALCÃO, AMO-TE!
E a gaja dá-lhe um beijo na boca.
Braga, 30 Dez. 2008
Sunday, January 11, 2009
LUSITANA
Na confeitaria onde toda a gente
dá as boas noites
na confeitaria onde a minha mãe
vinha tomar chá
as pessoas são amáveis
com o senhor professor de Basileia
à beira do jardim de Santa Bárbara
bárbara é a poesia
barbas tem o poeta
Bárbara é a santa boazona que passa na TV
Borba é o vinho que bebo
à mesa da Gotucha e da Nandinha
escritos de Natal
quando se retiram os bolos da vitrine
o senhor professor está contente
é amável
saúda toda a gente
por momentos não tem raiva do mundo
por momentos não vai ao fundo
tem dinheiro nos bolsos
faz o que quer
já não é ele que escreve
é uma divindade que vem de algures
uma divindade que lhe puseram no vinho
não está sózinho
conversa com o deus vivo
com o deus vinho
que lhe dá alegria
que o faz ser natural e livre
na alma correm humanidades
na alma correm eternidades
as mulheres que ama
as mulheres que lhe dão amor
as mulheres que lhe dão vinho.
Braga, Lusitana, Dez.2008
DOS GRANDES HOMENS
Proudhon acredita no federalismo, na união dos proletários conscientes contra os burgueses. Eu não sei em que acredito. Eu continuo a achar que a classe proletária, na sua maioria, é ignorante e nem sequer pensa na revoluç~~ao. INclusivamente se incluirmos nela os precários, os empregados do comércio, uma parte da velha classe média. Os homens ignorantes, quando muito, podem preparar o advento do homem superior. Mas para isso têm de se cultivar. O homem superior, o homem nobre, é aquele que age sem constrangimentos, que é forte, que é livre. É aquele que é espontâneo, como o menino, como o criador, como o artista. Os grandes homens têm de se afastar da populaça para criar. Os grandes homens não têm necessidade de Deus. Amam as mulheres apetecíveis e fecundam-nas. Não perdem tempo com com a mesquinhez das conversas do rebanho. Os grandes homens aparecem nos grandes mommentos. Amam as alturas e o abismo. Os grandes homens têm asas. Querem a revolução dionisíaca. Querem que os outros os acompanhem sem serem seus seguidores nem seus servos. Os grandes homens são divinos. Amam Nietzsche, Zaratustra, Morrison e DIonisos. Mas compreendem Marx, Proudhon e Bakunine. Os grandes homens trazem a liberdade e a sabedoria ao mundo. Por isso é que os poderosos e os moralistas os temem.
Thursday, January 8, 2009
A VIDA
Bebo e escrevo. Cumpro a meta diária. Às vezes sinto-me um deus, outras um farrapo. Vou dando umas voltas. Hoje senti-me nos antípodas do primeiro-ministro e do ministro das Finanças. Não pertenço à raça do económico. A minha linguagem não é a das percentagens nem a das estatísticas. Sou contra o mercado. Sou contra a redução de tudo a um mercado. Não estou no mercado. Não sou um detergente. A linguagem do mercado, da economia é absolutamente imbecil, redutora e absurda, é a linguagem da morte. Falemos do homem. Não há alegria na linguagem do mercado e da economia. A linguagem do mercado é uma linguagem oca, vazia, quadrada. Há alegria na criação de novos valores. Os valores do homem, do homem nobre, do Artista. Os valores do que cria, do que cria a cantar e a dançar. Do que cria fora da economia. Nietzsche está aqui. Falemos do Amor. Da Liberdade. O resto é merda. Os jovens que se revoltam na Grécia revoltam-se pela Vida. A Vida que não está nas mãos dos banqueiros, dos governos, das multinacionais, do cálculo mesquinho e egoísta. A vida é a alegria pura, a volúpia, a liberdade de seguir o meu caminho, sem polícias nem controleiros, sem mercado, sem regras castradoras. A vida está dentro de nós. Jim Morrison está aqui.
Wednesday, January 7, 2009
UM MAU RAPAZ
AO PRIMEIRO-MINISTRO, AO MINISTRO DAS FINANÇAS E AO ECONOMISTA
Hoje abandono o rebanho dos contribuintes
dos 3%, dos 5%, dos 11,3%, das percentagens,
do PIB, do IRS, do défice, do orçamento
que tu manipulas com maestria
ó primeiro-ministro
ó ministro das Finanças
ó economista
não valho 2,7% nem 7,8% nem 10,5
nas tuas contas do desemprego
da inflação, da pobreza
não como números
gosto de mulheres
de gajas boas e bonitas
podes ficar com a morte
podes masturbar-te todo o dia
com o teu orçamento de merda
com o teu PIB de merda
com o teu IRS de merda
que eu fico com a vida
ó primeiro-ministro
ó ministro das Finanças
ó economista
fica lá pelo mercado
fornica o dinheiro
enraba a bolsa
gostas tanto deles, não é?
Não podes viver sem eles, não é?
ÉS um quadrado
tens uma vida quadrada
nem vida tens
pois podes ficar com a tua morte
podes deliciar-te com a tua cara no ecrã
podes mostrá-la aos netinhos
embalsamá-la
nada disso te salva
nem as tuas percentagens
nem o teu 2,8% nem o 4,5% nem o 9,1
estás morto
já não me podes castrar.
Tuesday, January 6, 2009
DEUS
Monday, January 5, 2009
O POEMA INÉDITO
Eis o poema inédito!
Olhai para mim
como sou belo, branco e virgem
olhai para mim
todos me admiram
olhai para mim
sou o poema inédito
os homens pasmam
as mulheres sorriem
olhai para mim
sou o poema inédito
acabo de ver
a luz do dia
olhai sou um deus
sou sublime
sou o mais belo
sou o mais rico
sou o poema inédito
(...e assim
se foi o poema inédito...)
Olhai para mim
como sou belo, branco e virgem
olhai para mim
todos me admiram
olhai para mim
sou o poema inédito
os homens pasmam
as mulheres sorriem
olhai para mim
sou o poema inédito
acabo de ver
a luz do dia
olhai sou um deus
sou sublime
sou o mais belo
sou o mais rico
sou o poema inédito
(...e assim
se foi o poema inédito...)
Sunday, January 4, 2009
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