Tuesday, December 23, 2008
PARTILHA
De há uns tempos para cá
há uns gajos que vêm ter comigo
que me elogiam
que me oferecem coisas
às vezes um gajo sente-se tão só
tão encerrado nas suas ideias
tão absorto na sua criação
que não se apercebe que vai
espalhando obra pelos tascos
que os seus escritos e ditos
vão deixando rasto
vão percorrendo o seu caminho
rumo à posteridade
e há aqueles gestos límpidos
fraternos integrais
essa partilha sincera
que está muito para lá
da compra e venda.
Estou no café
e a palavra não sai
eu bem puxo pela tola
mas a palavra não sai
poderia falar dos distribuidores de tabaco
que preenchem a paisagem
poderia falar do cliente
que bebe cerveja ao balcão
poderia falar do decote da jornalista
na televisão
poderia falar de uma série de coisas
mas não falo
sou apenas o gajo que escreve
e se eclipsa.
e a palavra não sai
eu bem puxo pela tola
mas a palavra não sai
poderia falar dos distribuidores de tabaco
que preenchem a paisagem
poderia falar do cliente
que bebe cerveja ao balcão
poderia falar do decote da jornalista
na televisão
poderia falar de uma série de coisas
mas não falo
sou apenas o gajo que escreve
e se eclipsa.
NÃO HÁ GAJAS PARA O POETA
Estou no "Piolho"
e o canto das estudantes incomoda-me
a televisão, para não variar,
transmite futebol
e as estudantes, felizmente,
vão embora
finalmente algum sossego
para o criador criar
uma gaja ficou de vir ter comigo
mas eu atrasei-me
e, se calhar, foi embora
continuo sem sorte nos encontros
peço um fino ao empregado
não há gajas para o poeta
mandaste as estudantes embora
talvez alguma te quisesse
se aguentasses ouvi-la cantar
entretanto chega o gajo chato do costume
a foder-me a prosa.
Monday, December 22, 2008
BEBO E ESCREVO
Estou no bar, bebo e escrevo. Há anos que a situação se repete. Mas não tenho escrito nos bares. As gajas da mesa da frente falam. O bar começa a noite. Pelo menos aqui não tenho de aturar os chatos do costume. Escrevo. Ponto final. EScrevo sem objectivos. Sem pensar em livros nem em noites no Púcaros. Escrevo. A caneta vai avançando. Há malta que entra. As gajas da frente saem. Deixam as chávenas vazias. Sou o gajo só que escreve. A diferença é que já deixei obra. Apetece-me uma gaja. Uma gaja que venha sem eu a conhecer de lado nenhum. Uma gaja doida, passada que venha beber uns copos comigo. Que se esteja a cagar para o facto de eu não ter dinheiro nem trabalho. Que me venha amar ao inferno. QUe venha entre copos e noitadas. Que venha venha ao sabor da música. Que venha dentro da cerveja. Que venha até ao fim. Que venha absolutamente divina. Que venha na passerelle. Que venha no "Deslize". Que venha a deslizar. Que venha para ficar. Sou o poeta que escreve e tem horas para o metro. Sou o poeta que escreve e que tem dúvidas se vai ficar. Sou o poeta que se mete na retrete. Sou o poeta que saúda o Jesualdo. Sou o poeta à frente do cassetete. Sou o poeta Tebaldo. A minha escrita está doente. A minha escrita monta o cavalo e a Maria. A minha escrita vem-se na sacristia. Sou o bêbado que berra e canta na rua. Sou o ser que incomoda o vizinho. Sou o gajo que sobe ao palco e diz blasfémias. Sou o gajo que come a Ifigénia. Sou o mestre que queres conhecer. SOu o gajo que vai desaparecer. Sou a rebeldia que se mistura com os jovens. Sou o vampiro que te chupa o sangue. Sou o gajo que transforma a rotina num acontecimento. Sou o animal que destrói o teu casamento. Sou o monstro que vagueia pela cidade. Sou a tua identidade. Sou o gajo que está ao balcão. Sou o teu irmão. Sou o gajo que olha para as gajas. Sou o gajo que saca a canção.
Sunday, December 21, 2008
Teoricamente 5000 pessoas podem ler os meus escritos. A revista "Um Café" publicou o meu texto "Poetas de Café" e traz uma prosa com referências ao meu livro "Saloon" e às minhas idas ao "Púcaros". Já era suficiente para me sentir nas nuvens. Só que as gajas não aparecem. As gajas não aparecem e eu estou só no "Piolho" a escrever numa sexta á noite. O argumento para o hipotético filme rola. A cerveja também.
Sunday, December 14, 2008
ROTINA NA MOTINA
Chego triunfal à "Motina"
o bêbado adormece diante do copo
o fadista passeia de boné na cabeça
dá umas voltas
cumprimenta o psicólogo
as mulheres falam dão à língua
são máquinas de falar
nunca mais páram
a rádio passa Bruce Springsteen
"Glory Days"
ouvia isso aos 16 anos
quando era um jovem promissor
bom aluno boas notas
depois percebi que tudo
se resumia a notas e moedas
e cartões multibanco e contas bancárias
depois percebi que quase nada fazia sentido
antes andar bêbado
e adormecer diante do copo
é claro que há sempre as empregadas
a chamar-nos a atenção
mas não deixamos de estar na nossa
quase imunes ao capitalismo
desde que tenhamos uns trocos
para os copos
às vezes há umas gajas que falam connosco
que vêm ter connosco no fim da representação
que pensam que nós somos mais que os outros
só porque dizemos umas coisas
que os outros não dizem
e essas gajas fazem-nos acreditar
que existe qualquer coisa
como quando as crianças olham para nós
e há qualquer coisa de mágico na coisa
isto não é apenas um gajo a escrever
isto não são apenas os croissants a chegar
isto não é apenas o trabalhinho
isto não é sequer o dinheirinho
isto não são apenas as velhas a marchar
para fora da confeitaria
isto não é apenas o pequeno-burguês a mastigar
isto não é apenas a bandeira nacional
espetada na parede
há qualquer coisa!
Não sei se é Deus ou se são os deuses
não sei se é a energia como diz o Henrique
talvez seja o Espírito
o deus em nós de que fala Henry Miller
E pronto! Vem um gajo para a confeitaria
estudar alemão
e saem-nos deuses e espíritos
vem um gajo cantar a rotina
e o bêbado que adormece
diante do copo
e sai-nos a alma
a essência
a explicação de tudo isto
E pronto! Chega uma gaja boa
e lá se vai a essência
ou será sinal que ela vem de vez?
Vilar do Pinheiro, "Motina", 14.12.2008
NIETZSCHE, "A GAIA CIÊNCIA"
Que interesse tem um livro que nem sequer nos transporta para lá de todos os livros?
Deves tornar-te no homem que és.
Eu não quero um dia ser outra coisa senão um daqueles seres que dizem sim à vida.
Deves tornar-te no homem que és.
Eu não quero um dia ser outra coisa senão um daqueles seres que dizem sim à vida.
NA MODA
Na moda. Já viste tu? Na moda. O teu blog concorrido. Os teus poemas discutidos na net. Começas a ter alguma responsabilidade, meu caro. Vocês são sociais-democratas, é natural que defendam posições sociais-democratas, é isso que digo aos meus amigos sociais-democratas. O PC e o Bloco têm muito de sociais-democratas. Nós não. Nós somos anti-capitalistas. Nós abominamos o capitalismo, nós entendemos que o capitalismo é o que dizia do cristianismo e de Deus: o capitalismo para nós é a morte. O capitalismo castra, mata as pulsões vitais, a alegria de viver, o prazer, o capitalismo só nos permite viver de quando em quando precariamente, o capitalismo faz a apologia do sacrifício e do trabalho, o capitalismo não deixa o homem ser Homem. O capitalismo, não apenas o capitalismo selvagem. O capitalismo, o mercado na sua essência. Nem os próprios capitalistas são felizes, vivem no medo de ser derrubados.
Saturday, December 13, 2008
LEITE ESTRAGADO
Nos comentários na net há quem diga que eu sou um poeta alucinado. É claro que essas pessoas só conhecem uma das minhas faces. Também tenho o meu lado atinado, bem educado. É claro que, em alturas como esta, este meu lado me irrita e até me apetece desatar aos berros na confeitaria, chamar o gerente e dizer, à Cesariny, que o leite, o café neste caso, está estragado.
O SANTO GRAAL
[editar] A lenda do Cálice Sagrado
Segundo a lenda, José de Arimatéia teria recolhido no 'Cálice usado na Última Ceia (o Cálice Sagrado), o sangue que jorrou de Cristo quando ele recebeu o golpe de misericórdia, dado pelo soldado romano Longinus, usando uma lança, depois da crucificação.
Em outra versão da lenda, teria sido a própria Maria Madalena, segundo a Bíblia a única mulher além de Maria (a mãe de Jesus) presente na crucificação de Jesus, que teria ficado com a guarda do cálice e o teria levado para a França, onde passou o resto de sua vida.
A lenda tornou-se popular na Europa nos séculos XII e XIII por meio dos romances de Chrétien de Troyes, particularmente através do livro "Le Conte du Graal" publicado por volta de 1190, e que conta a busca de Perceval pelo cálice.
Mais tarde, o poeta francês Robert de Boron publicou Roman de L'Estoire du Graal, escrito entre 1200 e 1210, e que tornou-se a versão mais popular da história, e já tem todos os elementos da lenda como a conhecemos hoje.
Na literatura medieval, a procura do Graal representava a tentativa por parte do cavaleiro de alcançar a perfeição. Em torno dele criou-se um complexo conjunto de histórias relacionadas com o reinado de Artur na Inglaterra, e da busca que os cavaleiros da Távola Redonda fizeram para obtê-lo e devolver a paz ao reino. Nas histórias misturam-se elementos cristãos e pagãos relacionados com a cultura Celta.
A presença do Graal na Inglaterra é justificada por ter sido José de Arimatéia o fundador da Igreja inglesa, para onde foi ao sair da Palestina.
Segundo algumas histórias, o Santo Graal teria ficado sob a tutela da Ordem do Templo, também conhecida como Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, instituição militar-religiosa criada para defender as conquistas nas Cruzadas e os peregrinos na Terra Santa. Alguns associam aos templários a irmandade que Wolfram cita em "Parzifal".
Segundo uma das versões da lenda, os Templários teriam levado o cálice para a aldeia francesa de Rennes-Le-Château. Em outra versão, o cálice teria sido levado de Constantinopla para Troyes, na França, onde ele desapareceu durante a Revolução francesa.
Em um país de maioria católica como o Brasil, a figura do Graal é tida, comumente, como a da taça que serviu Jesus durante a Última Ceia e na qual José de Arimatéia teria recolhido o sangue do Salvador crucificado proveniente da ferida no flanco provocada pela lança do centurião romano Longino ("Ao chegarem a Jesus, vendo-O já morto, não Lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados perfurou-Lhe o lado com uma lança e logo saiu sangue e água" - João19:33-34).
A Igreja Católica não dá ao cálice mais do que um valor simbólico e acredita que o Graal não passa de literatura medieval, apesar de reconhecer que alguns personagens possam realmente haver existido. É provável que as origens pagãs do cálice tenham causado descontentamento à Igreja. Em "Os mistérios do Rei Artur", Elizabeth Jenkins ressalta que "no mundo do romance, a história era acrescida de vida e de significado emocional, mas a Igreja, apesar do encorajamento que dava às outras histórias de milagres, a esta não deu nenhum apoio, embora esta lenda seja a mais surpreendente do ponto de vista pictórico. Nas representações de José de Arimatéia em vitrais de igrejas, ele aparece segurando não um cálice, mas dois frascos ou galheteiros". Alguns tomam o cálice de ágata que está na igreja de Valência, na Espanha, como aquele que teria servido Cristo mas, aparentemente, a peça data do século XIV.
Independentemente da veneração popular, esta referência é fundamental para o entendimento do simbolismo do Santo Graal já que, como explica a própria Igreja em relação à ferida causada por Longino, "do peito de Cristo adormecido na cruz, sai a água viva do batismo e o sangue vivo da Eucaristia; deste modo, Ele é o cordeiro Pascal imolado".
[editar] Origem
A etimologia do Santo Graal tem inúmeras procedências, dentre as quais compara-se a San Graal com SanG Real em referência ao imaculado sangue de Cristo coletado em um gradalis - cálice em Latim. Com o brilho resplandecente das pedras sobrenaturais, o Graal, na literatura, às vezes aparece nas mãos de um anjo, às vezes aparece sozinho, movimentando-se por conta própria; porém a experiência de vê-lo só poderia ser conseguida por cavaleiros que se mantivessem castos.
Transportado para a história do Rei Arthur, onde nasce o mito da taça sagrada, encontramos o rei agonizante vendo o declínio do seu reino. Em uma visão, Arthur acredita que só o Graal pode curá-lo e tirar a Bretanha das trevas. Manda então seus cavaleiros em busca do cálice, fato que geraria todas as histórias em torno da Busca do Graal. É interessante notar que a água é uma constante na história de Arthur. É na água que a vida começa, tanto a física como a espiritual. Arthur teria sido concebido ao som das marés, em Tintagel, que fica sob o castelo do Duque da Cornualha; tirou a Bretanha das mãos bárbaras em doze batalhas, cinco das quais às margens de um rio; entregou sua espada, Excalibur, ao espírito das águas e, ao final de sua saga, foi carregado pelas águas para nunca mais morrer. Certo de que sua hora havia chegado, Arthur pede a Bedivere que o leve à praia, onde três fadas (elemento ar) o aguardam em uma barca. "Consola-te e faz quanto possas porque em mim já não existe confiança para confiar. Devo ir ao vale de Avalon para curar a minha grave ferida", diz o rei.
Avalon é a mítica ilha das macieiras onde vivem os heróis e deuses celtas e onde teria sido forjada a primeira espada de Arthur - Caliburnius. Na Cornualha, o nome Avalon - que em galês refere-se à maçã - é relacionado com a festa das maçãs, celebrada durante o equinócio de outono. Acreditam alguns que Avalon é Glastonbury, onde tanto Arthur quanto Guinevere teriam sido enterrados. A abadia de Glastonbury, onde repousaria o casal, é tida também como o lugar de conservação do Graal.
[editar] O mito
Os cavaleiros Galahad, Bors (o filho), e Percival acham o GraalA primeira referência literária ao Graal é "O Conto do Graal", do francês Chrétien de Troyes, em 1190. Todo o mito - e uma série interminável de canções, livros e filmes - sobre o rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda tiveram seu início ali.
Tratava-se de um poema inacabado de 9 mil versos que relata a busca do Graal, da qual Arthur nunca participou diretamente, e que acaba suspensa. Um mito por si só, "O Conto do Graal" é uma obra de ficção baseada em personagens e histórias reais que serve para fortalecer o espírito nacionalista do Reino Unido, unindo a figura de um governante invencível a um símbolo cristão. Mas por que o cálice teria sido levado para a Inglaterra? Do ponto de vista literário, já foi explicado.
Porém há outras histórias muito mais interessantes - e ousadas - para explicar isto. Diz-se que durante sua permanência na Cornualha, Jesus havia recebido em dádiva um cálice de um druida convertido ao cristianismo (isto entendido como "o que era pregado por Cristo"), e por aquele objeto Jesus tinha um carinho especial. Após a crucificação, José de Arimatéia quis levá-lo, santificado pelo sangue de Cristo, ao seu antigo dono, o druida, que era Merlin, traço de união entre a religião celta e a cristã. É na obra de Robert de Boron, José de Arimatéia, que o mito retrocede no templo até chegar a Cristo e à última Ceia. José de Arimatéia (veja box ao final deste artigo) era um judeu muito rico, membro do supremo tribunal hebreu - o Sinédrio. É ele que, como visto nos evangelhos, pede a Pilatos o corpo de Jesus para ser colocado em um sepulcro em suas terras.
Boron conta que certa noite José é ferido na coxa por uma lança (perceba também, sempre presente, as referências às lanças e espadas, símbolos do fogo, tanto nas histórias de Jesus como de Arthur). Em outra versão, a ferida é nos genitais e a razão seria a quebra do voto de castidade. Este fato está totalmente relacionado à traição de Lancelot que seduz Guinevere, esposa de Arthur. Após a batalha entre os dois, a espada de Arthur, Caliburnius, é quebrada - pois é usada para fins mesquinhos - e jogada em um lago onde é recolhida pela Dama do Lago antes que afunde.
Depois lhe é oferecida outra espada, esta sim, Excalibur. Somente uma única vez Boron chama a taça de Graal. Em um inciso, ele deduz que o artefato já tinha uma história e um nome antes de ser usado por Jesus: "eu não ouso contar, nem referir, nem poderia fazê-lo (...) as coisas ditas e feitas pelos grandes sábios. Naquele tempo foram escritas as razões secretas pelas quais o Graal foi designado por este nome".
José de Arimatéia foi, portanto, o primeiro custódio do Graal. O segundo teria sido seu genro, Bron. Algumas seitas sustentam que o ciclo do Graal não estará fechado enquanto não aparecer o terceiro custódio. Esta resposta parece vir com "A Demanda do Graal", de autor desconhecido, que coloca Galahad como único entre os cavaleiros merecedor de se tornar guardião do Graal.
[editar] Outras formas do Graal
[editar] O Graal-pedra
Toda a história é mudada quando contada pelo alemão Wolfram von Eschenbach, quase ao mesmo que Boron. Em "Parzifal", Eschenbach coloca na mão dos Templários a guarda do Graal que não é uma taça, mas sim uma pedra: Sobre uma verde esmeralda. Ela trazia o desejo do Paraíso: era objeto que se chamava o Graal! Para Eschenbach, o Graal era realmente uma pedra preciosa, pedra de luz trazida do céu pelos anjos. Ele imprime ao nome do Graal uma estreita dependência com as força cósmicas. A pedra é chamada Exillis ou Lapis exillis, Lapis ex coelis, que significa "pedra caída do céu".
É a referência à esmeralda na testa de Lúcifer, que representava seu Terceiro Olho. Quando Lúcifer, o anjo de Luz, se rebelou e desceu aos mundos inferiores, a esmeralda partiu-se pois sua visão passou a ser prejudicada. Uma dos três pedaço ficou em sua testa, dando-lhe a visão deformada que foi a única coisa que lhe restou. Outro pedaço caiu ou foi trazido à Terra pelos anjos que permaneceram neutros durante a rebelião. Mais tarde, o Santo Graal teria sido escavado neste pedaço. Compare o Graal-pedra de Eschenbach com a não menos mítica Pedra Filosofal que transformava metais comuns em ouro, homens em reis, iniciados em adeptos; matéria e transmutação, seres humanos e sua transformação. O alemão têm como modelo de fiéis depositários do cálice sagrado os Cavaleiros Templários.
Seria Wolfran von Eschenbach um Templário? Era a época em que Felipe de Plessiez estava à frente da ordem quase centenária. O próprio fato de ser a pedra uma esmeralda se relaciona com a cavalaria. Os cavaleiros em demanda usavam sobre sua armadura a cor verde, sinônimo de vitalidade e esperança. Malcom Godwin, escritor rosacruz, refere-se a Parzifal da seguinte maneira: "Muitos comentadores argumentaram que a história de Parzifal contém, de modo oculto, uma descrição astrológica e alquímica sobre como um indivíduo é transformado de corpo grosseiro em formas mais e mais elevadas".
Nesta obra que é um retrato da Idade Média - feito por quem sabia muito bem sobre o que estava falando - reconhece-se uma verdadeira ordem de cavalaria feminina, na qual se vê Esclarmunda, a virgem guerreira cátara, trazendo o Santo Graal, precedida de 25 segurando tochas, facas de prata e uma mesa talhada em uma esmeralda. Na descrição do autor da cena de Parzifal no castelo do rei-pescador (que, assim como Jesus, saciara a fome de muitas pessoas multiplicando um só peixe) lemos: "Em seguida apareceram duas brancas virgens, a condessa de Tenabroc e uma companheira, trazendo dois candelabros de ouro; depois uma duquesa e uma companheira, trazendo dois pedestais de marfim; essas quatro primeiras usavam vestidos de escarlate castanho; vieram então quatro damas vestidas de veludo verde, trazendo grandes tochas, em seguida outras quatro vestidas de verde (...). "Em seguida vieram as duas princesas precedidas por quatro inocentes donzelas; traziam duas facas de prata sobre uma toalha. Enfim apareceram seis senhoritas, trazendo seis copos diáfanos cheios de bálsamo que produzia uma bela chama, precedendo a Rainha Despontar de Alegria; esta usava um diadema, e trazia sobre uma almofada de achmardi verde (uma esmeralda) o Graal, ‘superior a qualquer ideal terrestre’".
As histórias que fazem parte do chamado "ciclo do Graal" foram redigidas de 1180 até 1230 o que nos inclina a relacioná-las com a repressão sangrenta da heresia cátara. Conta-se que durante o assalto das tropas do rei Filipe II de França à fortaleza de Montsegur, apareceu no alto da muralha uma figura coberta por uma armadura branca que fez os soldados recuarem, temendo ser um guardião do Graal. Alguns historiadores admitem que, prevendo a derrota, os cátaros emparedaram o Graal em algum dos muros dos numerosos subterrâneos de Montsegur e lá ele estaria até hoje.
A "Mesa de Esmeralda" evocada pelas histórias de fundo cátaro relacionam-se de maneira óbvia com outra "mesa": a Tábua de Esmeralda atribuída a Hermes Trimegistos. A partir daí o Graal-pedra cede lugar ao Graal-livro.
[editar] O Graal-livro
O Graal-taça é tido como um episódio místico e o Graal-pedra como a matéria do conhecimento cristalizado em uma substância. Já o Graal-livro é a própria tradição primordial, a mensagem escrita. Em "José de Arimatéia", Robert de Boron diz que "Jesus Cristo ensinou a José de Arimatéia as palavras secretas que ninguém pode contar nem escrever sem ter lido o Grande Livro no qual elas estão consignadas, as palavras que são pronunciadas no momento da consagração do Graal". De fato, em "Le Grand Graal", continuação da obra de Boron por um autor anônimo, o Graal é associado - ou realmente é - um livro escrito por Jesus, o qual a leitura só pode entender - ou iluminar - quem está nas graças de Deus. "As verdades de fé que este contém não podem ser pronunciadas por língua mortal sem que os quatro elementos sejam agitados. Se isso acontecesse realmente, os céus diluviariam, o ar tremeria, a terra afundaria e a água mudaria de cor". O Graal-livro tem um terrível poder.
[editar] Um Graal científico
Em "O Livro da Tradição", no capítulo referente ao Graal, encontramos interessantes referências aos espetaculares fenômenos desencadeados pelas esmeraldas e por outras pedras verdes. Vale a pena reproduzir um trecho que mostra como encarar um assunto de um ponto de vista religioso, místico ou científico, isoladamente é sempre uma maneira pobre de fazer uma leitura. "Uma descoberta muito recente parece confirmar a hipótese de um Graal possuindo uma realidade a um só tempo sobre os planos espiritual e material, servindo o segundo como um suporte para o primeiro. "Segundo fontes precisas e confidenciais das quais não nos é possível indicar a origem, os astronautas americanos da expedição da Apolo XIV teriam descoberto na Lua amostras da pedra verde. "A análise em laboratório revelou estranhas propriedades entre as quais a de provocar, graças a certas emissões de nêutrons, um minicampo antigravitacional. "As mesmas pedras verdes, chamadas ‘pedras de lua’ ou ‘pedras das feiticeiras’, são também encontradas na Escócia (sendo entretanto raras), nas highlands e, segundo a lenda, serviam às feiticeiras para fazer com que elas se deslocassem pelos ares (com que então muitas vezes a realidade supera a ficção!). "As mesmas amostras de rochas verdes estariam engastadas nos alicerces das criptas das catedrais medievais, bem como na abadia do Monte Saint-Michel. A catedral de Colônia desfrutaria dessa particularidade, o que teria feito com que ela se beneficiasse com uma miraculosa proteção por ocasião dos bombardeios terríveis que destruíram a cidade em 1944-45 (o campo de força assim criado teria desviado a trajetória das bombas)".
É lógico que esta explicação física para o Graal não exclui a existência de um Graal espiritual e místico do qual o objeto material seria o reflexo. Ao final, pergunta-se: qual a natureza do Graal? Cálice, pedra ou livro? Sendo o Graal uma realidade nos planos espiritual, material e humano podemos concebê-lo como "um objeto-pedra (esmeralda) em forma de taça servindo como meio de comunicação entre o céu e a terra segundo um processo descrito e explicado por um livro". Somente homens puros (Percival e Galahad são os arquétipos) poderão servir como ponte e tornarem-se detentores do segredo do Graal que abre caminho aos planos superiores da existência. Esta raça pura, filha da "raça solar", é denominada "raça do Arco" - ou do "arco-íris", porque as cores expressas no prisma solar (também chamado lenço de Íris) são a manifestação física dos diferentes poderes que o homem pode despertar através do Graal. Isso possivelmente só será conseguido no final dos tempos, como encontramos no Apocalipse de João (4:2-3): "Logo fui arrebatado em espírito e vi um trono no céu, no qual Alguém estava sentado. O que estava sentado era, na aparência, semelhante à pedra de jaspe e de sardônio; e um arco-íris rodeava o trono, semelhante à esmeralda".
Friday, December 12, 2008
POEMA FONÉTICO DE HUGO BALL
Gadji beri bimba
gadji beri bimba glandridi laula lonni cadori
gadjama gramma berida bimbala glandri galassassa laulitalomini
gadji beri bin blassa glassala laula lonni cadorsu sassala bim
gadjama tuffm i zimzalla binban gligla wowolimai bin beri ban
o katalominai rhinozerossola hopsamen laulitalomini hoooo
gadjama rhinozerossola hopsamen
bluku terullala blaulala loooo
zimzim urullala zimzim urullala zimzim zanzibar zimzalla zam
elifantolim brussala bulomen brussala bulomen tromtata
velo da bang band affalo purzamai affalo purzamai lengado tor
gadjama bimbalo glandridi glassala zingtata pimpalo ögrögöööö
viola laxato viola zimbrabim viola uli paluji malooo
tuffm im zimbrabim negramai bumbalo negramai bumbalo tuffm i zim
gadjama bimbala oo beri gadjama gaga di gadjama affalo pinx
gaga di bumbalo bumbalo gadjamen
gaga di bling blong
gaga blung
Thursday, December 11, 2008
O GRÁFICO E O DO VALE
O Do Vale ri sarcasticamente
das intervenções oportunas do gráfico
que fala com toda a gente
acerca dos garrafões de vinho
que já bebeu na vida
outros gajos falam inglês
e toda a gente se vai entendendo
não há distúrbios como na Grécia
nem gente disposta a pegar fogo ao governo
o que é pena
é que, de um momento para o outro,
isto pode ficar cheio de anarquistas
daqueles que pilham as lojas
e incendeiam carros
o gráfico sorri para mim
e volta a pegar no vinho
e o Do Vale levanta-se
prega ao balcão
conversa com o gráfico
há vida mas não há revolução.
CRIAÇÃO E CASTRAÇÃO
CRIAÇÃO E CASTRAÇÃO
“Por poetas entendo aqui todos os que habitam nas regiões do espírito e da imaginação. É sua missão seduzir-nos, tornar intolerável este limitado mundo que nos aprisiona”, escreveu Henry Miller em “O Tempo dos Assassinos”. Os poetas, os grandes poetas são magos, emissários de um outro mundo, são “caminheiros do céu” que nos falam de coisas que hão-de vir e de coisas há muito passadas.
“O que pertence ao domínio do espírito, do eterno, escapa a toda e qualquer explicação. A linguagem do poeta corre paralelamente à voz interior quando esta se aproxima da infinitude do espírito”, prossegue Miller. Os poetas vêm do Uno Primordial de Nietzsche e de Dionisos, daquela idade áurea perdida em que a vida era, nas palavras de Arthur Rimbaud, “um banquete em que todos os corações se abriam e em que todos os vinhos corriam”. E continua o poeta das “Iluminações”: “Vamos fazer o Natal sobre a Terra…agora, já, estão-me a ouvir? Não queremos esperar por caramelos no céu!”, o que remete para o grito de Jim Morrison : “We Want The World And We WAnt it…Now!” (“When The Music’s Over”).
Criar é uma festa mas pressupõe a descida aos infernos. “Aprendi a minha profissão no inferno”, confessou Léo Ferré. “A estrada que conduz ao Céu passa pelo Inferno”, acrescenta Henry Miller. Mas não há alegria comparável à do criador, do poeta, porque a criação não tem outra finalidade para lá de si própria. E esse poeta é um criador, um xamã, um feiticeiro ébrio que canta, dança e ri, que faz da arte uma festa e que torna absurda a sociedade capitalista e castradora.
Tuesday, December 9, 2008
ENGRAVATADOS
Três engravatados arrastam três gajas bonitas para o café. Estou a ver que é preciso andar engravatado para arrastar gajas bonitas. Nada me move contra os engravatados. Não se deve avaliar as pessoas pela gravata. Simplesmente, não gosto que me imponham regras de conduta.
GUITARRISTA
Guitarrista,
toca a tua ode para mim
dá-me a tua mão no deserto
traz-me mulheres bonitas
no meio do caos futebolístico
fá-las dançar
celebrar os deuses antigos
embriagar-nos de prazer e loucura
Guitarrista,
afasta de mim
o espectro repressivo da razão
dá-me o non-sense, delírios, alucinações
enche a terra de festins loucos
gargalhadas, unicórnios, duendes
veste os mendigos de trajes de gala
enche as taças
faz da vida um banquete permanente.
Na TV passa o Trofense-Braga. Duas terras onde estive. duas terras onde fui feliz e infeliz. Confesso que estou a torcer pelo Braga. Os tempos que lá passei foram mais marcantes. Vim ao "piolho" ter com a A.. Confesso que a A. mexe comigo e entende os meus escritos. Até disse que este último poema- "Nietzsche"- é muito bom. No ecrã o "placard" assinala 0-0. O Eduardo defendeu um penalty e o Braga ataca pela esquerda. As minhas amigas agora pagam-me os finos. Sou, de novo, o escritor underground. A cerveja corre nas veias e dá-me vida. Escrevo longe da D. Rosa. O jogo está renhido. Que importa agora a glória se me sinto sinto bem aqui sozinho? Tenho em muita consideração as opiniões da A.. Vou ficando sem sangue e sem cerveja. 0-0 foi o resultado final. O que importa é que me sinto em cima, depois de dois dias dolorosos. Os treinadores debitam palavras e o alemão agarra-se ao computador. O André já não vem ao "piolho" e o casal ao meu lado namora ao retardador. Acabei a cerveja. O jogo terminou. Já tive a oportunidade de dar à língua, de satisfazer os meus impulsos eróticos por hoje. A Grande Mãe espera por mim.
Saturday, December 6, 2008
Já é crónico. Não me adaptei à vidinha nem faço grande esforço para me adaptar. Emprego, trabalho, mercado, dinheiro- são palavras que pouco me dizem. Vou-me afastando da vidinha á medida que os anos passam. Algumas mulheres, poucos amigos, a criação, a filosofia- eis o que ainda me empurra para a vida. E claro a liberdade, a transgressão- se bem que ultimamente ande pouco pela corda-bamba nietzscheana. Pelo menos não ando no meio do rebanho. Ah! E a música. Alguma música ainda me faz voar.
Thursday, December 4, 2008
Estamos nas mãos de números, de percentagens, de taxas de juro assexuadas que o Banco Central Europeu e os economistas impõem. Ao que desceu a condição humana! Ser controlado por percentagens transcendentes que nada têm de vital. Tudo isto é absurdo. Tudo isto tresanda a morte.
Não sou um número! Não sou uma percentagem! Afastai de mim o mercado! Afastai de mim a peste financeira! Ainda estou vivo. Ainda tenho uma palavra a dizer. Ainda sou um ser humano.
Não sou um número! Não sou uma percentagem! Afastai de mim o mercado! Afastai de mim a peste financeira! Ainda estou vivo. Ainda tenho uma palavra a dizer. Ainda sou um ser humano.
CRIADOR
DIVINOS
Á falta de melhor fornicamos a sabedoria. O que é que nos faz correr para o café para continuarmos a nossa tese? O que é que nos faz correr para Nietzsche, para Platão, senão o amor pela sabedoria? É isso! É isso que o vosso dinheiro não paga! É isso que nenhum dinheiro paga. É com a sabedoria que nos sentimos mais fortes, mais soltos, mais livres. E então se juntarmos o amor à sabedoria...tornamo-nos divinos. Criadores divinos.
Monday, December 1, 2008
Saturday, November 29, 2008
NIETZSCHE
A existência é divina mas só o louco, com a sua sagrada loucura, pode provar a divindade da vida.
VIVE E DEIXA VIVER
Vive e deixa viver. Eis a máxima que Nietzsche também preconizava. Não mandar nem ser mandado. Permanecer livre, espírito livre. Subir às montanhas e ao palco. Rugir "eu quero!" como o leão, alcançar o cume da sabedoria como o menino.
FODA A TODA A HORA
No "piolho" as estudantes cantam que querem foder a toda a hora. No meio de cânticos estudantis banais as gajas gritam a coisa e incomodam os futeboleiros presos às pernas do Lisandro e à glória do FCP no ecrã. Gosto desse novo hedonismo regado em cerveja que despreza a ditadura do pontapé na bola. É pena que as estudantes se fechem nesses rituais e não abram as pernas aos poetas de café.
Thursday, November 27, 2008
SEREIA NA AREIA (CANÇÃO)
Sereia na areia
quero-te comer
as ancas
o cu
o sexo
as mamas
sereia na areia
contorce-te
voa no trapézio
faz strip para mim
sereia na areia
come o gelado
deixa o namorado
o biquini rosa
mata-me
acende-me
dá cabo de mim
sereia na areia
no meio das gaivotas
e das risotas
vem até mim
à trip do poeta
ao limbo do asceta
à távola de Artur
à alquimia de Merlin.
Vila do Conde, 6.8.2006
AS PERNAS DA GAJA
Está uma gaja à minha frente
e apetece-me tocar-lhe as pernas
a gaja nem é grande espingarda
mas apetece-me tocar-lhe as pernas
o problema é que ando enjoado
e ontem estive a ler a Bíblia.
e apetece-me tocar-lhe as pernas
a gaja nem é grande espingarda
mas apetece-me tocar-lhe as pernas
o problema é que ando enjoado
e ontem estive a ler a Bíblia.
VERMELHÃO
VERMELHÃO
Está um gajo com a cara vermelha no metro
Está o metro todo vermelho a partir caras
Está a cara vermelha a fazer caretas
Estão os gajos vermelhos no “Piolho”
a beber cerveja a metro
Está o metro atrás do piolho
dentro da cerveja vermelha
Estão as gajas a entrar no metro
de cachecol vermelho
Está o caracol vermelho a correr para o metro
Está o gajo do casaco vermelho
a olhar para o poeta dentro do metro
Estão os controleiros a controlar toda a gente
por causa do bilhete vermelho
Está um gajo com a cara vermelha no metro
Está um gajo com a cara vermelha no metro
Está o metro todo vermelho a partir caras
Está a cara vermelha a fazer caretas
Estão os gajos vermelhos no “Piolho”
a beber cerveja a metro
Está o metro atrás do piolho
dentro da cerveja vermelha
Estão as gajas a entrar no metro
de cachecol vermelho
Está o caracol vermelho a correr para o metro
Está o gajo do casaco vermelho
a olhar para o poeta dentro do metro
Estão os controleiros a controlar toda a gente
por causa do bilhete vermelho
Está um gajo com a cara vermelha no metro
Tuesday, November 25, 2008
OS FUTEBOLISTAS NO ECRÃ
POESIA E COMIDA
Hoje não me sai grande coisa. Não há gajas boas. Só tédio. Ontem fui a Ribeirão dizer poesia e empanturrei-me de comida. Oxalá fosse sempre assim. Dizes poesia e dão-te de comer. É o banquete permanente que tanto apregoas.
ZARATUSTRA
Zaratustra também foi rejeitado pela multidão quando desceu à cidade para anunciar o super-homem. É preciso ter cuidado com o modo através do qual nos dirigimos à multidão. Não pode ser de qualquer maneira. Não é só chegar aos bares e descarregar.
O BANQUETE PERMANENTE
E é a Nietzsche e a Morrison que volto sempre. É o rugido do leão: "Eu quero!" que me empurra para a vida. "Queremos o mundo e exigimo-lo, agora!". É este mundo que nós queremos, não o mundo do além das religiões. Queremos o céu na Terra, como dizia Henry Miller. Aqui e agora! Não podemos esperar pelo amanhã. É a pulsão vital que nos chama aqui e agora, não vamos esperar mais mil anos, não vamos esperar pelo amanhã que canta. Queremos a revolução, aqui e agora! Que se foda o futuro! Não somos seguidores dos economistas nem do ministro das Finanças que nos prometem dias melhores. Estamos fartos de promessas. Não podemos cair nas suas patranhas de profetas da morte. É o aqui e agora, é a vida aqui e agora que queremos. "Estamos fartos de esperar, cansados de tantos rodeios", cantou o Jim Morrison. Não seguimos ninguém mas também não queremos conduzir nem governar ninguém. Não precisamos de governos nem de Estados. Seguimos o caminho que conduz a nós mesmos, gostamos de vadiar, de andar sem direcção definida, de criar sem disciplina. Detestamos o rebanho, os que seguem um chefe, um Estado, uma lei, um mercado. Procuramos o super-homem, o menino, o bailarino, o deus que dança. Nada temos a ver com o quotidiano mesquinho e castrador do deus-dinheiro. Somos poetas, criadores, "caminheiros dos céus". Celebramos a vida, queremos que a vida seja um banquete permanente. Celebramos a mulher, a sensualidade, a volúpia, desconfiamos dos castradores, dos moralistas. Não somos moderados como os filósofos de Platão, não fomos feitos para governar nem para dirigir. Pregamos o amor mas também a raiva. Subimos ao palco como subimos à montanha. Comunicamos com os deuses e com os espíritos mas é este mundo que nós queremos.
Tuesday, November 18, 2008
DO MERCADO
O mercado é a negação da vida. O mercado é insensível a tudo: à dor, à pobreza, à miséria. É o próprio mercado que produz a dor, a pobreza, a miséria. O mercado torna o homem dócil e submisso. O mercado e os seus profetas trazem a morte. O mercado e os economistas reduzem tudo a um conjunto de números sem sentido, a gráficos, a estatísticas assexuadas. O mercado e os economistas matam a vontade, a pulsão vital, a alegria, vão dando cabo do homem. O mercado, o dinheiro e os economistas constituem a nova trindade que reduz o homem à escravidão. O mercado, o dinheiro e os economistas são a própria morte! Só o renascimento do espírito dionisíaco pode derrubar a trindade. O mercado traz a intriga, a desconfiança, a trapaça, a avareza, a usura. O mercado é castração, faz de nós camelos.
Monday, November 17, 2008
O XAMÃ
O Xamã
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O xamã é um ser sem regras, não sabe o que vai encontrar em seu caminho. Cada dia, cada momento vive para descobrir o maravilhoso e o horripilante. De uma ou de outra forma sabe que ambas são faces de sua própria visão. Não se apega porque sabe que tudo muda, que tudo é impermanente e se deleita com o desconhecido. O tédio não é parte de sua vida... Seu corpo é frágil porque lida com forças terríveis e magnificentes.
Observa o universo como seu Pai e a Terra como sua Mãe...
Vive em completo desapego, até o ponto de ser odiado... Odiado por não dar importância ao que os demais dão importância. O xamã sabe e só sorri, só olha, só observa.
O xamã é produto do amadurecimento de um coração. Do amadurecimento do espírito. Somente um coração maduro entra no caminho do xamã e, uma vez que se entra, se dá conta de que o mesmo caminho, cedo ou tarde, fará com que seu coração desapareça na imensidão do coração desse maravilhoso universo.
Nota: (Autor desconhecido.)
Saturday, November 15, 2008
MORRISON
Bem cedo, antes mesmo de ser conhecido do público, Jim já sabia o que queria, embora ele tenha feito uma outra coisa a mais além daquilo que havia imaginado para si mesmo, Jim sempre quis ser escritor: "inicialmente eu não tinha a intenção de fazer parte de uma banda. Queria fazer filmes, escrever peças, livros. Quando me vi numa banda, quis trazer algumas dessas idéias dentro disso".
Os Doors surgiram como uma proposta de Jim Morrison de levar a sua arte e seus pensamentos a um público mais acessível, pois ele se serviria do Rock para veicular suas próprias idéias. Mas Jim não queria só fazer letras falando “de amor” tipicamente do verão flower power. Não, Jim queria ir além; queria levar uma arte dramática aos palcos, queria colocar o público em suspenso, fazer ele entrar em uma sintonia uníssono com a pulsão dos instintos da natureza humana, para fazer uma purgação. Unir os contrários num ritual de purificação. Juntar o que foi separado, curar a alma dos enfermos. Dar-lhes o alimento da alma: sede de vida.
Era um momento oportuno, levando-se em conta as transformações que se operavam naqueles famigerados anos 60: protestos, passeatas, luta pela igualdade entre raças, pela paz... enfim, um aluvião de movimentos que se levantavam contra um tipo de sociedade baseada em valores machistas, classista, homófoba, sexista e beligerante.
A arte como redentora das dicotomias e da moral opressiva. O The Doors seria a metáfora sob a qual o público mergulharia para ascender a um patamar mais elevando da sua própria condição existencial. Não haveria “regras” e nem ordem a seguir, tudo far-se-á sob o próprio espelho da arte. E como “a arte se alimento de um sentido bruto que escapa a todos os modelos de pensamento pré-estabelecido, por isso, ela é uma espécie de ciência secreta que manifesta o enigma do mundo”. Fica-se à vontade para expressar-se livremente por entre as infindas possibilidades de transcender o ser-ai, o que é meramente dado. Como não existe nenhum “valor eterno”, porque todos os valores foram criados pelo homem, a arte deve mostrar horizontes mais plásticos e dilatados, além da mera arena com que circunscreve todos os movimentos desse circo de asilo, onde todos permanecem cativos de “Lords” que, impotentes para viver o próprio desafio que a existência lhes propõe, tramam e arquitetam valores decadentes para sujeitar a massa.
Dentro dessa perspectiva, porém, Jim terá que enfrentar um sistema paquidérmico e impotente, pois os valores apregoados pelo sistema não permitirá que se viva ou que de proponha mudanças no seu quadro comodamente administrado. Não tarda muito e os problemas aparecem. Jim é tido como louco, desviante, perturbador da ordem, rebelde, tudo que a sociedade ordeira usa para inibir quaisquer comportamentos que não sejam os já estrategicamente instalados.
Após anos dessas experiências, os anos 60 são lembrados com os anos em que são propostos outros modelos de sociedade e de formas de se viver nela. Ray Manzarek, amigo e tecladista da mítica banda The Doors, nos trás outra leitura a respeito da trajetória da banda e de seu líder. Quer que essas versões diminutas sobre Jim sejam revistas à luz da poesia e de uma outra visão da pessoa que era Jim Morrison, porém os equívocos criados em torno dele não são fáceis de serem diluídos. Há interesses por trás dessa farsa. A primeira foi montada pelo direto Oliver Stone, que continua defendendo o seu filme “The Doors” como o retrato legitimo de Jim Morrison, a despeito de toda a critica ter afirmado que seu filme é uma criação da própria cabeça dele. Se não bastasse a critica do meio especializado, surge uma analise mais profunda do caso na pessoa do Phd. Wallace Fowlie, professor emérito de literatura Francesa da cátedra James B. Duke, da Duke University e autor de mais 35 livros. Segundo Dr. Wallace, o filme é uma ficção da cabeça do próprio diretor.
Em entrevista recente, por ocasião do inicio do documentário dos três remanescentes dos Doors sobre a trajetória do grupo, Oliver afirmou que não mudaria nada no filme dele sobre Jim, que o documentário perpetrado por Ray não trará novidade alguma.
Mas o Oliver Stone não anda lendo, ou finge que existe uma critica pesada sobre seu filme. Contudo, o Ray tem andado o mundo todo falando de Jim, de um Jim que não aparece no filme do Oliver Stone, mostrando que Jim está além daquilo, que Jim ainda está por ser descoberto. Mas para isso é necessário documentar o que realmente acontecia na vida dos 4 Doors.
Ray prometeu o documentário até final do ano. Aguardemos confiantes.
Texto do Prof. Helder Colavite Modesto
FONTE: www.heldercolavitemodesto.blogspot.com
http://jimmorrisonfilosofopoeta.blogspot.com
Os Doors surgiram como uma proposta de Jim Morrison de levar a sua arte e seus pensamentos a um público mais acessível, pois ele se serviria do Rock para veicular suas próprias idéias. Mas Jim não queria só fazer letras falando “de amor” tipicamente do verão flower power. Não, Jim queria ir além; queria levar uma arte dramática aos palcos, queria colocar o público em suspenso, fazer ele entrar em uma sintonia uníssono com a pulsão dos instintos da natureza humana, para fazer uma purgação. Unir os contrários num ritual de purificação. Juntar o que foi separado, curar a alma dos enfermos. Dar-lhes o alimento da alma: sede de vida.
Era um momento oportuno, levando-se em conta as transformações que se operavam naqueles famigerados anos 60: protestos, passeatas, luta pela igualdade entre raças, pela paz... enfim, um aluvião de movimentos que se levantavam contra um tipo de sociedade baseada em valores machistas, classista, homófoba, sexista e beligerante.
A arte como redentora das dicotomias e da moral opressiva. O The Doors seria a metáfora sob a qual o público mergulharia para ascender a um patamar mais elevando da sua própria condição existencial. Não haveria “regras” e nem ordem a seguir, tudo far-se-á sob o próprio espelho da arte. E como “a arte se alimento de um sentido bruto que escapa a todos os modelos de pensamento pré-estabelecido, por isso, ela é uma espécie de ciência secreta que manifesta o enigma do mundo”. Fica-se à vontade para expressar-se livremente por entre as infindas possibilidades de transcender o ser-ai, o que é meramente dado. Como não existe nenhum “valor eterno”, porque todos os valores foram criados pelo homem, a arte deve mostrar horizontes mais plásticos e dilatados, além da mera arena com que circunscreve todos os movimentos desse circo de asilo, onde todos permanecem cativos de “Lords” que, impotentes para viver o próprio desafio que a existência lhes propõe, tramam e arquitetam valores decadentes para sujeitar a massa.
Dentro dessa perspectiva, porém, Jim terá que enfrentar um sistema paquidérmico e impotente, pois os valores apregoados pelo sistema não permitirá que se viva ou que de proponha mudanças no seu quadro comodamente administrado. Não tarda muito e os problemas aparecem. Jim é tido como louco, desviante, perturbador da ordem, rebelde, tudo que a sociedade ordeira usa para inibir quaisquer comportamentos que não sejam os já estrategicamente instalados.
Após anos dessas experiências, os anos 60 são lembrados com os anos em que são propostos outros modelos de sociedade e de formas de se viver nela. Ray Manzarek, amigo e tecladista da mítica banda The Doors, nos trás outra leitura a respeito da trajetória da banda e de seu líder. Quer que essas versões diminutas sobre Jim sejam revistas à luz da poesia e de uma outra visão da pessoa que era Jim Morrison, porém os equívocos criados em torno dele não são fáceis de serem diluídos. Há interesses por trás dessa farsa. A primeira foi montada pelo direto Oliver Stone, que continua defendendo o seu filme “The Doors” como o retrato legitimo de Jim Morrison, a despeito de toda a critica ter afirmado que seu filme é uma criação da própria cabeça dele. Se não bastasse a critica do meio especializado, surge uma analise mais profunda do caso na pessoa do Phd. Wallace Fowlie, professor emérito de literatura Francesa da cátedra James B. Duke, da Duke University e autor de mais 35 livros. Segundo Dr. Wallace, o filme é uma ficção da cabeça do próprio diretor.
Em entrevista recente, por ocasião do inicio do documentário dos três remanescentes dos Doors sobre a trajetória do grupo, Oliver afirmou que não mudaria nada no filme dele sobre Jim, que o documentário perpetrado por Ray não trará novidade alguma.
Mas o Oliver Stone não anda lendo, ou finge que existe uma critica pesada sobre seu filme. Contudo, o Ray tem andado o mundo todo falando de Jim, de um Jim que não aparece no filme do Oliver Stone, mostrando que Jim está além daquilo, que Jim ainda está por ser descoberto. Mas para isso é necessário documentar o que realmente acontecia na vida dos 4 Doors.
Ray prometeu o documentário até final do ano. Aguardemos confiantes.
Texto do Prof. Helder Colavite Modesto
FONTE: www.heldercolavitemodesto.blogspot.com
http://jimmorrisonfilosofopoeta.blogspot.com
JIM MORRISON
Jim escreveu um *ensaio bastante hermérico, publicado na revista Eye. Na Época da sua publicação, o artigo de Jim chamou muito a atenção pelo hermetismo e pela profundidade abordada no artigo, ou seja, o "Olho".
Jim, para quem já esqueceu ou não sabe, escreveu um conto em que o personagem "Billy" anda a pedir boleia pelas estradas. Billy se mete em muitas encrencas, até que é preso e condenado, pois comete assassinato. O conto evoca a idéia das viagens, andar a boleia...vagabundear, são termos que fazem parte do contexto dos anos 60/70, mas vai além, muito além; remete-nos aos arquétipos das grandes viages, dos grandes livros de lietartura, desde a Odisséia, A Divina Comédia, Cervantes, etc, etc.
O conto de Jim traz um personagem que vagueia, vagueia, mas não sabe como imprimir um sentido à sua liberdade, pois acaba por cometer assassinatos e vai para a cadeia, lugar privado daquilo que ele (o personagem) não queria. Isso nos faz lembrar de Alberto Camus, no seu "O Estrangeiro".
Jim fora muito preocupado com a liberdade, e isso se reflete profundamente em toda a sua obra. Por meio dessa personagem e por muitas outras que Jim criara, todas estão sempre enlaçadas na condição humana, sempre atreladas aos conflitos inevitáveis, mas sempre presas à condição de ter que dar um sentido a própria liberdade.
DEPOIMENTOS SOBRE JIM MORRISON
"Ele era um intelectual clássico. Ele tentou, à sua maneira, ser um Renascentista (...). Ele aprovava o pensamento de Da Vinci. Eu nunca o vi sem um livro, fosse lendo ou escrevendo um. Ele era um literato".
Paul Rotchild
"A experiência de tocarmos juntos era tão intensa, tão forte...que não precisávamos fugir da realidade do dia a dia e ficar doidões".
Ray Manzarek
"Jim sempre gostou de testar as pessoas, de testá-las como ele testava suas fronteiras pessoais. Gostava de descobrir as fronteiras das pessoas que o cercavam. Apertava todos os botões internos, os da motivação para descobrir onde estavam seus muros".
Paul Rotchild
"Ele viveu 50 anos de vida em 4,5 de palco. Ele se deu por inteiro e não pediau nada em troca, a não ser: 'leiam minhas letras'. Eu o estou elogiando por chegar ao limite porque alguém tinha que fazer isso para nós, os covardes".
Jerry Hopkins
http://jimmorrisonpoetapensador.blogspot.com
O RELÓGIO
Contra as Leis
A partir de hoje penduro ao pescoço
Com uma corda de crina o relógio que marca as horas;
A partir de hoje cessam o curso das estrelas
E do sol, e o canto do galo e a sombra;
E tudo aquilo que a hora nunca anunciou
Está agora mudo, surdo e cego:
Toda a natureza se cala para mim
Diante do tiquetaque da lei e da hora.
Friedrich Nietzsche, in "A Gaia Ciência"
A partir de hoje penduro ao pescoço
Com uma corda de crina o relógio que marca as horas;
A partir de hoje cessam o curso das estrelas
E do sol, e o canto do galo e a sombra;
E tudo aquilo que a hora nunca anunciou
Está agora mudo, surdo e cego:
Toda a natureza se cala para mim
Diante do tiquetaque da lei e da hora.
Friedrich Nietzsche, in "A Gaia Ciência"
NIETZSCHE
A Problematicidade de Deus em Nietzsche
“Já ouviu falar daquele louco que acendeu uma lanterna numa manhã clara, correu para a praça do mercado e pôs-se a gritar incessantemente: “Eu procuro Deus! Eu procuro Deus!". Como muito dos que não acreditam em Deus estivessem justamente por ali naquele instante, ele provocou muita risadas... “Onde está Deus!”, ele gritava. “Eu devo dizer-lhes: nós o matamos – você e eu. Todos somos assassinos... Deus está morto. Deus continua morto. E nós o matamos...”
- (Friedrich Nietzsche, Gaia Ciência (1882), parte 125.)
Nietzsche, em seu filosofar, não pode ser identificado como um filósofo portador de um discurso periculoso e trágico. Pelo contrário, essa suposta carga negativista e pessimista que se verifica nos seus escritos, ressoam, em quase todas as suas abordagens, como um manifesto de reivindicação e de superação da condição existencial humana. Em Assim falou Zaratustra, Nietzsche destaca a necessidade do anúncio do super-homem. Nele, Zaratustra, seu personagem principal, proclama a falência da civilização e a aurora de uma nova era. É o anúncio de que o homem deve superar a si mesmo, à sua potencialidade negada. Procurando sacudir o velho homem, que vivia enclausurado no seu pessimismo e ilusão, o novo pretende ser substituto daquele. O superar típico do super-homem, entendido como ato de abertura para o nada ou para o sagrado, nada mais é do que a própria vontade de poder. O super-homem como superação implica a dimensão do divino, que, segundo Nietzsche, seria um “ponto” na vontade de poder. Sendo assim, o divino não é uma coisa separada do homem, tampouco uma realidade para fora de si e que tem poder de manipulação, mas o divino e o humano se encontram no ato contínuo e ininterrupto de superação do objeto conhecido e, por conseguinte, na consciência do não-poder em relação ao não-objeto, isto é, ao nada (Penzo, 1999).
Desta forma, é revertida a concepção metafísica do conhecer como esperança e a de Deus como causa última de segurança. Para Nietzsche, a segurança na raiz metafísica leva o homem a experiênciar a convicção e a segurança, levando-o a ver Deus como objeto último de sua esperança, donde provêm a sua fé e a sua verdade absolutizada. Nessa linha, seria catastrófico para o homem, sedimentado em terreno metafísico, ouvir a proclamação da morte de Deus, pois ela acentua a natureza do medo e da dramaticidade existencial, visto que pensar na sua ausência assinalaria o declínio da esperança e o estabelecimento da incerteza. O anúncio da morte de Deus, portanto, não se trata de propagar idéias anti-teístas. Não pretende ser a disseminação do ateísmo. Mas em erigir um novo conceito sobre o homem e sobre Deus. A morte de Deus, para Nietzsche, representa o fim e o declínio da formulação do Deus que a metafísica clássica ocidental construiu: o de ser absoluto e supremo. Quer dizer que a idéia do Deus do cristianismo deveria morrer na consciência do ser humano enquanto mantenedor do sistema tradicional de valores. Como resultado disso, alguém deveria ocupar o seu lugar – o próprio homem.
No passado, o ser humano obedecia irrestritamente ao “farás” e “não farás”, da parte de Deus ou dos códigos doutrinais rigidamente patrocinados e construídos pela religião burocratizada. Para Nietzsche, esse ditos e sentenças estavam com os dias contados. Uma nova ordem de valores estava para ser estabelecida. O homem não mais podia se inclinar aos mandamentos divinos. Mas deveria ele mesmo conduzir os seus próprios desígnios. Somente ele é que poderá fazer as suas escolhas. E, acima de tudo, optar por uma delas, sejam elas boas ou más. É o que Nietzsche emblematicamente denomina de: “a transvalorização de todos os valores”. Os valores antigos e tradicionais caducaram. Esse arcaicos valores devem ceder espaço para o surgimento de novos valores. Não mais centrados em afirmações religiosas ou metafísicas. Mas redigidas e assinadas pelo próprio homem. Porém não é qualquer homem. Tem de ser um homem superior. Não o que prometa felicidade e gozo na transcendentalidade, mas concretamente, existencialmente. Este homem superior, portanto, é o Ubermensch, literalmente homem superior, passando a ser denominado também de super-homem. Entretanto, esse super-homem não tem qualquer conexão com o herói em quadrinhos.
Nas reflexões de Nietzsche, este homem superior era proveniente do desenvolvimento da humanidade num sentido darwinista. Ele aceitava as idéias de Darwin no que tange ao processo seletivo e natural da vida, no qual as espécies mais fracas são aniquiladas e as mais fortes sobrevivem para produzir espécies mais fortes ainda.
A teoria evolucionária de Darwin fundamenta e alimenta os pressupostos nietzschianos, sobretudo em relação ao homem superior. Porém, ele não pensou apenas numa nova raça desenvolvida nos níveis educacional ou espiritual que partisse do inferior para o superior. Ele tomou a idéia de Darwin literalmente. Pensava que o homem superior haveria de ser fisicamente mais forte. Deveria ter poder no soma [corpo] e na psique [alma]. Metaforicamente, deveria ser uma espécie de “besta-fera”, um centauro [metade gente, metade animal], bastante desenvolvido intelectualmente, não irracional, mas poderoso, representando, assim, uma nova formatação existencial completamente acima e superior do homem europeu massificado. O homem massificado evita a qualquer custo a controvérsia. É conformista, indiferentista e não têm preocupações supremas, acha a vida aborrecida e é cínico e vazio. É o que chama de niilismo (ex nihilo), para o qual a nossa cultura se dirige (Tillich). A bem da verdade, ao anunciar o super-homem como superação de si mesmo, Nietzsche sublinha e apresenta, em Assim falou Zaratustra, uma nova transcendência filosófica, pautada no nível existencial, na qual se abre o horizonte “nadificado” entendido positivamente, que se resolve como o horizonte do sagrado.
Assim, em seu pensamento sobre o sagrado, Nietzsche observa que a morte de Deus é um acontecimento cultural, existencial e extremamente necessário para purificar a face de Deus e, por conseqüência, a própria fé em Deus. Deste modo, Nietzsche não mata Deus. Mas limita-se a constatar a ausência do divino na cultura do seu tempo, acusando, pelo contrário, por essa ausência e morte, a teologia metafísica. Com base na rejeição da tese da fé-segurança, que a priori funda-se numa certeza típica da ciência, Nietzsche também crítica o espírito que levará a secularização inautêntica ou ao secularismo do cristianismo.
Logo, matar a Deus significa, noutras palavras, matar o “dogma”, o “conformismo”, a “superstição” e o “medo”, é não aceitar mais a imposição de regras cristalizadas, que impossibilitam a superação e a transcendência, além da auto-afirmação do ser humano, que luta incansavelmente para libertar-se elevar-se em sua saga existencializada.
Referências Bibliográficas
COPLESTON, Frederick S. J. Nietzsche: filósofo da cultura. Coleção Filosofia e Religião, Porto, Portugal, Livraria Tavares e Martins, 1953.
MARTON, Scarlett. Nietzsche. 4ª ed., In: Coleção Encanto Radical, São Paulo, Brasiliense, 1986.
PENZO, Giorgio. O divino como problematicidade. In: Deus na filosofia do século XX, São Paulo, Loyola, 1999.
TILLICH, Paul. Perspectivas da teologia protestante nos séculos XIX e XX. Trad. Jaci Maraschin, 2ª ed., São Paulo, ASTE, 1999.
[http://www.geocities.com/Athens/4539/deusestamorto.htm]
Postado por JOSÉ VANIR DANIEL às 18:51 0 comentários
NIETZSCHE (1844 - 1900)
“Todo trabalho importante – deves ter sentido em ti mesmo – exerce uma influência moral. O esforço para concentrar uma determinada matéria e dar-lhe uma forma harmoniosa, eu o comparo a uma pedra atirada em nossa vida interior: o primeiro círculo é estreito, mas amplos se destacam”. (Carta de Nietzsche a Deussen.)
VIDA e OBRA
O século XX inaugura-se com morte de F. Nietzsche, que se revela como o seu pensador mais significativo. Sua vida é breve e solitária, embora mantenha sempre vivo um laço de afeto com a mãe e a irmã Elisabeth. Mesmo em sua solidão, ele se mantém em constante contato epistolar com alguns fiéis amigos e amigas.
1844 - Friedrich Wilhel Nietzsche, nasce em Rócken, na Prússia, no dia 15 de outubro. Seu pai e seus avós eram pastores protestante. Nietzsche pensou em seguir a mesma carreira.
1849 - Morre seu pai e seu irmão, em decorrência disso, sua mãe mudou-se com a família para Namburg.
1858 - Obtém uma bolsa de estudos, ingressando no Colégio Real de Pforta, local onde havia estudado o poeta Novales e o filósofo Fichte. Influenciado por alguns filósofos e professores, Nietzsche progressivamente começa a afastar-se do cristianismo. Exímio aluno em grego e nos estudos bíblicos além do alemão e latim, inclinou-se à leitura dos clássicos de Platão e Ésquilo.
1864 - Inicia a carreira acadêmica na Universidade de Bonn, on’de se dedicou aos estudos de filosofia e teologia, mas tarde acaba por abandonar a teologia.
1865 - Transfere-se para a Universidade de Leipziz onde sob a influência de seu professor Ritschl, eminente helenista, passa então a dedicar-se exaustivamente ao estudo da filologia clássica. Seguindo as pegadas de seu mestre, se debruçou na investigação de obras clássicas tais como: Homero, Diógenes Laércio (séc. II), Hesíodo (séc. VIII aC.). Nesta época entra em contato com as obras de Arthur Schopenhauer.
1867 - Incorporado ao serviço militar sofre um acidente de montaria e é dispensado, voltando a se dedicar aos estudos em Leipziz, onde consegue o cargo precoce de professor de Filologia Clássica na Universidade de Leipziz. Ainda em Leipziz, conhece Richard Wagner onde a notável influência deste homen o faz a dedicar-se a música e poesia. Nesta mesma época apaixona-se por Cosima, filha de Liszt que vem a ser a musa inspiradora de sua obra posterior a "Sonhada Ariane".
1869 - É nomeado professor de Filologia Clássica na Universidade de Basiléia, na Suíça. Todas as manhãs, de segunda a sábado, a partir das sete horas, dava cursos sobre Ésquilo e sobre a poesia lírica grega. Para um público numeroso faz palestras “Sobre a Personalidade de Homero”, “Sócrates e a Tragédia” e “O Drama Musical Grego”. Redige “A Visão Dionisíaca do Mundo”, primeiro capítulo de um ensaio que pretendia escrever sobre a “Origem e Finalidade da Tragédia”
1870 - Devido a guerra entre Alemanha e França é convocado ao serviço militar como enfermeiro, permanecendo por pouco tempo, pois adoece ao contrair difteria e dessinteria. Retorna a Basiléia a fim de prosseguir em seus cursos.
1871 - Acaba de redigir, O Nascimento da Tragédia no Espírito da Música, publicado em janeiro de 1872.
1872 - Passa todo o ano imerso em ocupações: prepara os cursos para a Universidade, escreve e, de quando em quando, compõe. Redige, nessa época, um pequeno ensaio sobre “A Kusta de Homero” e dedica-se ao estudo dos filósofos pré-socráticos.
1873 - Redige "A Filosofia na Época Trágica dos Gregos" e "Introdução Teorética sobre Verdade e Mentira no Sendito Extra-Moral". David Strauss, o devoto e o escritor. Primeiras crises de saúde.
1874 - São editadas a Segunda Consideração Extemporânea: Da utilidade e Desvantagens da História para a Vida, e a Terceira: Schopenhauer educador.
1876 - Aparece a Quarta Consideração Extemporânea: Richard Wagner em Bayreuth.
1878 - Publica Humano, demasiado Humano.
1879 - Apresenta carta de demissão junto à Universidade de Basiléia, doente abraça uma vida errante, volta à cátedra e escreve mais 2 apêndices a Humano, demasiado Humano: Miscelânea de Opiniões e Sentenças e O andarilho e sua Sombra.
1880 - Nietzsche publica O Andarilho e sua sombra.
1881 - Publica Aurora - pensamentos sobre os preconceitos morais. Em Sils Maria, é atravessado pela visão do eterno retorno. Durante o verão reside em Hante, é nessa pequena aldeia de Silvaplana que durante um passeio, teve a intuição de O Eterno Retorno, redigido logo após. Em outubro de 1881 vai a Gênova, depois a Roma.
1882 - Aparece Gaia Ciência. Em abril, conheceu em Roma uma jovem russa chamada Lou Salomé. Sua presença de espírito e capacidade de escuta atraíram-no; seu ardor intelectual e desejo de vida seduziram-no. Aos trinta e sete anos, apaixonou-se. Embora o pedido de casamento tivesse sido recusado, uma afetuosa amizade nasceu entre eles. A família de Nietzsche interpôs-se: temia que uma ligação escandalosa viesse a macular sua reputação. Arrastado por sentimentos contraditórios, ele não sabia mais em quem confiar, rompendo com todos. Idéias de suicídio perseguiram-no; por três vezes, chegou a tomar uma quantidade abusiva de narcóticos. Retorna à Itália.
1883/5 - De volta à Alemanha escreve: Assim falou Zaratustra: Um Livro Para Todos e Para Ninguém.
1886 - Surge Para Além de Bem e Mal - prelúdio a uma filosofia do porvir. Escreve os prefácios ao primeiro e segundo volumes de Humano, demasiado Humano, O Nascimento da Tragédia, Aurora e A Gaia Ciência, assim como a quinta parte deste livro.
1887 - Redige "O Niilismo Europeu" e publica Para a Genealogia da Moral - um escrito polêmico em adendo a Para Além de Bem e Mal como complemento e ilustração. Instala-se em casa de sua mãe, em Naumburgo. Após a morte dela a irmã leva-o para sua residência em Weimar e ali ficaram a viver os dois.
1888 - Escreve O Caso Wagner, Crepúsculo dos Ídolos, O Anticristo, Ecce Homo e elabora Nietzsche contra Wagner e Ditirambos de Dioniso. Alguns de seus livros só foram editados depois de sua morte. Em vida financiou todas as suas obras. Neste período passa a escrever cartas estranhas aos amigos. Até então não havia sinal decisivo de loucura, tratava-se de uma doença orgânica do cérebro com caráter de paralisia, onde constatou-se a loucura psicológica.
1889 - Em Turim, no auge da sua enfermidade, passa a assinar as suas cartas ora como Dionísio, ora como o crucificado. Sendo internado nesta época, numa clínica psiquiátrica em Basiléia, com o diagnóstico de paralisia progressiva, provavelmente de origem sifilítica. É transferido para Jena.
1890 - Deixa a clínica de Jena sob a tutela da família.
1900 - Morre a 25 de agosto em Weimar, vitimado por uma pneumonia. A irmã refere à hora do seu passamento, precedido duma grande trovoada, o que a fez supor que ele patiria deste mundo entre relâmpagos e trovões. “Assim partiu Zaratrusta”Nietzsche foi sepultado em Röchen, e Peter Gast seu dedicado amigo, pronunciou um curto elogio fúnebre ‘a beira assim como para o seu Autor, a quem ele havia negado.
[http://existencialismo.sites.uol.com.br/nietzsche.htm]
http://entendanietzsche.blogspot.com
Thursday, November 13, 2008
A SOCIEDADE-ESPECTÁCULO
A sociedade-espectáculo faz de nós espectadores passivos, mercadorias que transacionam outras mercadorias. A sociedade-espectáculo é a sociedade da morte, do trabalho rotineiro e acrítico, do cinzentismo, da mercadoria que entra e sai da confeitaria, das facturas que a Joana assina. A sociedade-espectáculo é a sociedade dos imbecis que nos governam, dos governos, das multinacionais até às Juntas de Freguesia, é a sociedade dos cegos que se deixam governar, como diz Shakespeare. Esta sociedade não serve. Faz de nós autómatos, números, caixas registadoras, contas bancárias, cartões multibanco. A única coisa que ainda agita esta merda é o sexo. Compreendeis agora porque falo tanto em sexo, porque coloco as gajas boas no blog? Se não fosse o sexo ou o desejo sexual e aí é que esta merda morria por completo. Se aparecessem agora umas gajas boas logo a minha escrita se modificava. Mas nada. Só aparecem distribuidores de mercadoria. Olha! Caíram do céu umas gajas mas não são suficientemente boas. Deixa-me lá avaliar melhor a mercadoria. O cabelo de uma tapa as mamas da outra. Estou fodido! Pois, mas estava a falar da sociedade-espectáculo, deixa-me lá teorizar sem ligar a coisas de somenos importância como as gajas. As gajas que venham ter comigo no fim do espectáculo. Eh, pá! Mas quando as gajas começam a tirar os casacos um gajo avalia melhor a mercadoria. Não está mal. Estas parecem do género convencional, bem comportadinho, nunca se sabe. Mas dizia eu, Guy Debord...eh, pá! O Debord também apanhava umas bebedeiras. Debord e Vaneigem falavam da poesia. É evidente, não a poesia dos livros mas a poesia enquanto criação, enquanto transgressão. E depois prefiro a conversa das gajas. A conversa da maior parte dos gajos é tão chata. Só falam de futebol. De futebol e de trabalho. Duplamente chata. Ninguém fala de psicanálise como o Freud ou como o Rocha. Platão, porque não voltas à Terra? Escutar-te-ia atentamente. A verdade é que a sociedade-espectáculo é uma grande seca.
ATRÁS DA LOUCURA
"'We want the world and we want it...Now!', gritou o Jim Morrison e todos os sinos, todas as missas, todas as convenções, todas as ilusões, todas as falsas convicções, todas as aparências, todas as conveniências, todas as normas, todas as infâncias acabaram ali, naquele momento(...). E, a partir daí, tive de ir sempre atrás da loucura, até hoje."António Pedro Ribeiro------
COM UM ABRAÇO AO LUÍS
Portugal
Eu tenho vinte e dois anos
e tu às vezes fazes-me sentir
como se tivesse oitocentos
Que culpa tive eu que D. Sebastião
fosse combater os infiéis ao norte de África
só porque não podia combater a doença
que lhe atacava os órgãos genitais,
e nunca mais voltasse
Quase chego a pensar que é tudo mentira,
que o Infante D. Henrique
foi uma invenção do Walt Disney
e o Nuno Álvares Pereira
uma reles imitação do Príncipe Valente
Portugal
Não imaginas o tesão que sinto
quando ouço o hino nacional
(que os meus egrégios avós me perdoem)
Ontem estive a jogar póker com o velho do Restelo
Anda na consulta externa do Júlio de Matos
Deram-lhe uns electro-choques e está a recuperar
àparte o facto de agora me tentar convencer
que nos espera um futuro de rosas...
Portugal
Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos
a ver se contraía a febre do Império
mas a única coisa que consegui apanhar foi um resfriado
Virei a Torre do Tombo do avesso
sem lograr encontrar uma pétala que fosse
das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador
Portugal
Se tivesse dinheiro comprava um Império e dava-to
Juro que era capaz de fazer isso só para te ver sorrir
Portugal
Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém
Sabes
Estou loucamente apaixonado por ti
Pergunto a mim mesmo
Como me pude apaixonar por um velho decrépito
e idiota como tu
mas que tem o coração doce
ainda mais doce que os pastéis de Tentúgal
e o corpo cheio de pontos negros
para poder espremer à minha vontade
(....)
Portugal
Sabes de que cor são os meus olhos?
São castanhos como os da minha mãe
Portugal
gostava de te beijar muito
apaixonadamente
na boca...
Jorge de Sousa Braga (extracto)
mais poemas em www.pedacosdalma.blogspot.com
Eu tenho vinte e dois anos
e tu às vezes fazes-me sentir
como se tivesse oitocentos
Que culpa tive eu que D. Sebastião
fosse combater os infiéis ao norte de África
só porque não podia combater a doença
que lhe atacava os órgãos genitais,
e nunca mais voltasse
Quase chego a pensar que é tudo mentira,
que o Infante D. Henrique
foi uma invenção do Walt Disney
e o Nuno Álvares Pereira
uma reles imitação do Príncipe Valente
Portugal
Não imaginas o tesão que sinto
quando ouço o hino nacional
(que os meus egrégios avós me perdoem)
Ontem estive a jogar póker com o velho do Restelo
Anda na consulta externa do Júlio de Matos
Deram-lhe uns electro-choques e está a recuperar
àparte o facto de agora me tentar convencer
que nos espera um futuro de rosas...
Portugal
Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos
a ver se contraía a febre do Império
mas a única coisa que consegui apanhar foi um resfriado
Virei a Torre do Tombo do avesso
sem lograr encontrar uma pétala que fosse
das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador
Portugal
Se tivesse dinheiro comprava um Império e dava-to
Juro que era capaz de fazer isso só para te ver sorrir
Portugal
Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém
Sabes
Estou loucamente apaixonado por ti
Pergunto a mim mesmo
Como me pude apaixonar por um velho decrépito
e idiota como tu
mas que tem o coração doce
ainda mais doce que os pastéis de Tentúgal
e o corpo cheio de pontos negros
para poder espremer à minha vontade
(....)
Portugal
Sabes de que cor são os meus olhos?
São castanhos como os da minha mãe
Portugal
gostava de te beijar muito
apaixonadamente
na boca...
Jorge de Sousa Braga (extracto)
mais poemas em www.pedacosdalma.blogspot.com
Tuesday, November 11, 2008
OS POETAS
POETAS
Descemos à cave
para celebrar o poema
trazemos o fogo
que roubámos aos deuses
brindamos à vossa mesa
Somos da raça dos malditos
dos renegados de todas as eras
connosco as damas não estão seguras
connosco o sangue ferve de raiva
Os negócios dos homens nada nos dizem
entre faunos e sátiros
erigimos a nossa morada
o homem vulgar não nos atinge
Os nossos festins não conhecem limites
estamos irmanados com a loucura
O nosso grito é inumano
Vem do centro da Terra
O riso é satânico dionisíaco
Não usamos relógios
a nossa hora é o Grande Meio-Dia
as regras dos homens nada nos dizem
só as seguimos, quando as seguimos,
por conveniência
Entramos no espírito dos homens
convertemos as mulheres em bacantes
semeamos o caos e a anarquia
O sossego e o tédio amolecem-nos
tornam-nos tímidos
mas o vinho robustece-nos
torna-nos xamãs
irmãos dos deuses
Poetas.
D. JUAN
Vir ao café
sentar-me a teu lado
e esperar que te refiras
ao livro
que tem a minha cara
ouvir-te falar
ficar sem palavras
e sem álcool
ficar a saber quem és,
minha cara
Chegar ao dia seguinte
arrependido
certo de que agora tenho
as deixas certas
e canalizar as energias
para a gaja
que está de costas
no café
onde tudo começa
e ela olha
talvez me pergunte
pelo livro
que tem
a minha cara.
Vilar do Pinheiro, Motina, 11.11.2008
ORFEU
Voltei ao "Orfeu". Agora só se vêem por aqui velhos e futeboleiros. Em tempos vinham para aqui jovens estudar. Isto ficava cheio. Agora na parte de cima há uns gatos-pingados a ler jornais desportivos. Falta cá o Rocha para fazer uma análise racional e sociológica.
Sunday, November 9, 2008
ESBOÇO DE MANIFESTO
Continuo a acreditar na revolução, numa revolução sem dirigentes, sem partidos, sem disciplina. Uma revolução espontânea, dionisíaca, que nasce do caos. Continuo a descrer nos movimentos colectivos organizados porque toda a organização tende a ter chefes, poderes organizados. Acredito que, como dizia André Breton, as ideias de revolução e de amor, juntas, oferecem possibilidades ilimitadas. Acredito numa força divina- que vem das ideias de amor, revolução e liberdade-, dionisíaca que está dentro do espírito do homem, que está no xamã. Acredito numa revolução que se faz à margem da racionalidade.
ARLINDOS
Que vida leva o Arlindo? Trabalho. Trabalho. Trabalho. E depois ir para casa olhar para a televisão. Dormir-trabalho-televisão. Que puta de vida a do Arlindo. Que puta de vida a dos Arlindos deste país. Incapazes de uma conversa com elevação. Incapazes de se deleitarem com um livro. tenho pena dessa gente. Sempre a fazer contas, sempre agarradinhos ao dinheiro, aos preconceitos e a Cristo Nosso Senhor. Se ele voltasse seriam os Arlindos os primeiros a interná-lo num hospício. Não! Não vos invejo. Não troco a minha vida pela vossa. Já disse: tenho pena de vós. Não nasci para isso. Aprendi a ser livre com Zaratustra.
Saturday, November 8, 2008
DIONISO CONTRA O MERCADO
BPI:4,6% BES:1,9% BCP:0,4% EDP Renováveis: 9,07% EDP-2,2% Galp Energia: 2,02% PT: -1,54% Sonae Indústria:-2,58%
O que é que isso me interessa? Em que é que isso contribui para a minha felicidade? Estou dependente de percentagens, de números que nada me dizem? Serei eu próprio um número, uma percentagem? Sou apenas um item nas contas do OGE ou nem isso? Ao que nós chegamos! Até quando esta ditadura das estatísticas, dos economistas? Por que raio me hei-de submeter a coisas assexuadas? Não, recuso-me a ser reduzido à condição de investimento! Não estou à venda no mercado! Tenho asco à palavra "mercado"! Tudo o que vem da lógica do mercado é podre, mete nojo! Não me venham falar em mercado! Enquanto o mercado prevalecer o homem não será homem! Não sou um sabonete! Não me vou deixar vencer pelo império dos sabonetes! Merda! Olho para o Arlindo e tenho pena. Sempre agarrado à caixa registadora! Sempre agarrado à merda dos trocos! Sempre escravo do mercado! Foi para isto que nascemos? Foi para isto que tivemos a benção da vida? Que porra de vida é esta? Percentagens e mais percentagens! Sócrates era uma percentagem? Nietzsche era uma percentagem? Henry Miller era uma percentagem? Por que raio se há-de um gajo entregar à mera sobrevivência e dar umas risadas, de vez em quando, para disfarçar? Por que raio não se há-de gozar esta merda na sua plenitude, sem estar sempre a fazer contas? Passamos a vida a fazer contas, dos benefícios e custos disto e daquilo sempre com a calculadora na mão e na cabeça. Que porra de vida é esta? É isto a vida? Porque raio não vem Dioniso? A única coisa que nos excita são as mulheres mas elas, na maior parte das vezes, são inacessíveis. Que prazer, que bem nos traz esta merda? Foi para isto que nascemos? Vá lá que ainda há pessoas que nos admiram, que gostam de nós mas, de resto,...mais valia andar sempre bêbado, sempre anestesiado para a realidade mas nem tenho a merda do dinheiro para isso! Ou, por outro lado, antes enlouquecer de vez. Sei lá, fariam pouco de mim. Foi para isto que vim ao mundo? Leio e escrevo, vou-me aguentando. Mas vim ao mundo para aguentar, para sobreviver? Esta merda não vem nos panfletos, nos programas dos partidos políticos. Os partidos que se preocupavam com estas merdas deixaram de se preocupar. Os partidos têm uma linguagem rasteira, superficial, eleitoralista, não vão ao fundo das questões, não vão ao essencial. O essencial é o combate entre a Vida e a sobrevivência, entre Dioniso e o mercado. Talvez o amor, o amor autêntico possa salvar esta merda.
O AMOR- 27
Vinde, deuses,
quero estar possesso
como Nietzsche
dai-me o amor!
O amor por uma mulher
o amor entre os homens
Vem, cerveja,
quero ficar divino
quero escrever O Poema
que permanece
que entontece
Vinde, deuses,
fazei-me dançar
berrar ao infinito
trazei-me o amor
que não está
nos anúncios televisivos
que não está na bolsa
que não está no mercado
que não é contabilizado
que não está
no Orçamento Geral do Estado
Vinde, companheiros,
brindemos ao amor
o amor tem andado esfarrapado
o amor tem andado amordaçado
o amor tem andado a mendigar
mas o amor continua
dentro de nós
Vinde, camaradas,
afinal não precisamos do partido
nem de comités centrais
nem tão pouco de disciplina
ou militância
o que importa é derrotar o ódio
o amor está dentro de nós
O amor!
Sim, o amor com que me tocas
o amor que me põe em cima
que me faz acreditar
o amor...
EIS O POEMA
BACANAL
Bacanal
A vizinha de cima ameaça chamar a polícia
Se o vizinho de baixo continuar a dar
Quecas ruidosas com a brasileira
O vizinho de baixo justifica-se
Dizendo que é da natureza
Resultado:
De agora em diante, o vizinho de baixo
Pede licença cada vez que dá uma foda
À vizinha de cima
A vizinha de baixo está em cima
Do vizinho de cima
O policia em cima da brasileira
E o prédio é um bacanal.
Bacanal no Prédio - Um Poeta a Mijar - A. Pedro Ribeiro
Thursday, November 6, 2008
VIVO
Tenho de escrever. Para criar, para me manter vivo. Antes que a noite venha. Antes que a morte venha. Platão dizia que só nos deveríamos embriagar depois dos 40, só aí dedicaríamos as festas a Dioniso. Pois, cá estou eu nos 40. Já meio fodido do fígado. Esta noite tive um ataque de falta de ar. Quantos anos mais irei durar? Que se foda! O essencial é manter-me vivo. Que se fodam as preocupações! O que interessa é que a coisa flua, que as ideias nasçam. E entra a D. Rosa. A confeitaria não é a mesma sem a D. Rosa. A noite vai caindo lá fora. A Joana não mostra o cu. Entra um engravatado. Nunca atinei com gravatas. Que se lixe, os homens não se medem pelas gravatas. O Rocha, de vez em quando, usa gravata e é meu amigo. O Rocha é, à falta de melhor, a minha musa. Deixei de me entusiasmar pelas bandas. Há para aí tantas bandas que um gajo não se consegue destacar. (Ai, aquele cu ao balcão faz-me sonhar!) Só se fizer aquelas performances inesquecíveis como a de Paredes de Coura. Só se voltar ao palco.
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