Thursday, April 23, 2009

DE METRO À BORLA


Venho ao Gato Vadio e está vazio. Vou dar dinheiro a estes, como dizia um velho amigo meu. Antes dar dinheiro a estes. Sempre são companheiros, sempre são camaradas. Alto! Ouço vozes lá fora. Há gente lá fora. Que fiquem por lá. Ou então vou eu até lá. Não sei se tenho luz para escrever. Olha, afinal ouvi outras vozes. Que merda. Volto a ouvir vozes. Não te preocupes. Deve ser do "Encontro", o café ao lado. Venho de lá. E chega a Sara.
Depois põem-se a falar de astronomia e física. E eu fico calado. Não pesco nada. Mas lá vou ouvindo a estória do buraco negro e lembro-me das mulheres. Das forças de atracção e repulsão e lembro-me do sexo. Das explosões e implosões e lembro-me do Jim Morrison. Do "Big Bang" e lembro-me do Zaratustra. Mas nestas conversas um gajo sempre aprende alguma coisa. Sempre me dizem algo de novo. Estou farto da gentalha, das pessoas que nada me dizem de novo. Mas enfim, sempre é melhor rir do que chorar, sempre é melhor dar umas gargalhadas valentes do que morrer de tédio. Olha, hoje andei de metro à borla. A máquina flipou e os controleiros não me apanharam. O senhor transgride. Não se passa nada. Até o Benfica ganhou. Mas na viagem de volta carreguei o cartão. Não vá o diabo tecê-las. O diabo? quem é esse gajo? Nunca bebi copos com ele, tanto quanto sei, né? E eu já vi tanta coisa. Sei que Dionisos está de volta. Dionisos está em mim. No sexo, na dança. Agora já vai a caminho da Póvoa. Pode ser que volte a derrubar a estátua do major Mota. O que importa é ser um guerrilheiro, acertar no alvo. Andar sempre às voltas, rodear a coisa também faz parte da cena. Mas eu não vim ao mundo para organizar. Vim ao mundo para criar e destruir. Eu tenho de matar com as palavras. "Estamos fartos de tantos rodeios", cantou o meu amigo. "Estamos fartos de tantos rodeios, fartos de andar com o ouvido colado ao chão". Nós temos de matar com as palavras. E o metro, por coincidência ou não, pára em Custóias. Voltamos ao filme. Parece que está tudo escrito. Cada um segue a sua via. E eu sigo o caminho que conduz a mim mesmo, como Zaratustra. Faço associações de ideias e já estou em Esposende. Neste momento tenho a consciência de que estou na guerrilha. E a coisa arde, queima. Quase que me deixo levar até à Póvoa. Talvez ocupe a Câmara. Talvez a faça arder. Não sei. Perco-me todo. Faço-a arder com os meus olhos. Como-a, devoro-a como se fosse mulher. sabes, ainda sobra em mim uma réstia de disciplina. Guevarista, castrista, chavista, não sei.

No comments: