Sunday, April 26, 2009
O OURO
Já não vinha à "Motina" ao domingo há algum tempo. A mesa das gralhas ao fundo. As conversas da vidinha. Como em Santa Comba Dão. O povo a festejar o Salazar. As gralhas levantam-se. O povo também tem culpa. O povo deixa-se levar com meia de treta. De gajos como o presidente da Câmara de Santa Comba Dão. E tantos outros Isaltinos, Avelinos, Valentins, Jardins, Fátimas, Rios, Macedos Vieira e todos os outros, quase todos os outros. Aliás, todos eles, presidentes, primeiros-ministros, autarcas, todos os imbecis que nos governam ou quase todos. Mas o povo deixa-se levar. Deixa-se levar desde que haja pão e circo. Pão e circo como em Roma. Como no Porto. Como em Vilar do Pinheiro. E a "Motina", de repente, esvaziou. O poder é perigoso. O poder embriaga, inebria. Chegou uma família. Pais, filhos e neta. O que faria eu se estivesse no poder? Nem quero pensar nisso. O poder não me interessa. Interessa-me derrubá-lo. É certo que um gajo tem um certo poder quando sobe ao palco, quando diz a palavra. O poder da palavra. É preciso saber usar esse poder. É preciso passar a mensagem. Ser curto e directo. Por vezes, pode-se rodear mais a coisa, a presa. Mas é preciso caçá-la. É preciso acertar no alvo. Saber tentá-la. Como a uma mulher. E a gaja ginga, balança. Mostra o cu e o umbigo. À frente do poeta. E o poeta escreve. Descarrega a líbido e a raiva. E fica, de novo, só. A família sai. Não sabe que já faz parte da História. Tal como a "Motina". O poeta começa a ficar muito conhecido em certos meios. Precisa de cortar a barba. Até o "emplastro" se colou a ele na praça. E a televisão nem sequer estava lá. O poeta precisa de mudar de cara outra vez. Outra vez mudar de cara. Como no teatro, como no cinema. Onde sempre estivemos, afinal. Como no assalto ao "Feira Nova". Como no derrube da estátua do major Mota. Como na agressão do "Clube 84". Com alucinações pelo meio. Estórias que ficam para o resto da vida. "Hasta Siempre, Comandante". "When The Music's Over, turn out the lights". "Eu escolhi a estrada certa". Andei a rodear muito a coisa, caí algumas vezes, mas agora estou mais perto. Sinto que estou mais perto do ouro. O ouro dos teus olhos. O Ouro da Idade. O ouro da liberdade. O ouro da revolução. O ouro da loucura.
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