Tuesday, April 28, 2009
O CHATO DO COSTUME
Começo a precisar mesmo de uma agenda. Os eventos e as marcações sucedem-se. Estou a ficar um profissional do espectáculo. O "cachet" é que demora a vir. Vão-me pagando em jantares, copos e viagens. Não é mau de todo mas não chega. O empregado, que já não é o Gomes, demora a trazer o fino. Esqueceu-se. Já o avisei. Mais um euro para o "Piolho". Menos um euro para o Ribeiro. Falta vir o chato do costume. Vá lá. Hoje até que nem me chateava. Estou bem disposto. Extraordinariamente bem disposto, apesar do mercado e do capital. Estou em "tournée" pelas paróquias. É a poesia e o rock n' roll. Não tenho tido uma vida má nos últimos tempos. Até dizem que sou púdico em algumas coisas. Talvez seja. É uma forma de defesa. Os putos que estudam jornalismo falam de comunismo e de esquerdismo. Finalmente ouço conversas interessantes na mesa do lado. Os praxistas gritam hinos fascistas. Talvez esteja a ser demasiado duro. Talvez haja pessoas bem intencionadas na coisa. Pronto. Os praxistas gritam hinos militares. Talvez seja mais adequado. Mais um euro para o "Piolho". Um euro, um fino. Um euro, uma estória. Um euro, uma vida. E o telemóvel está a ficar sem bateria. Que se foda! Pronto. Chegou o chato do costume.
Monday, April 27, 2009
DIÁRIO
O homem da concórdia lê "A Bola". Outro homem lê um romance. Olha, afinal não sou o único que vem ao café com literatura. Essa coisa da leitura, sabes. QUem não lê é que não sabe o que perde. Tenho pena de quem não sabe ler. O Che fazia sempre questão de ensinar as pessoas a ler e a escrever no meio da guerrilha. A economia continua a cair. Das outras pessoas não tenho pena. Não lêem, não sabem. Não lêem, não criam. O empregado diz que vai pregar a outra freguesia. O sr. Arnaldo faleceu. O Paços vai virar a eliminatória frente ao Nacional. Entra uma gaja bonita. Senta-se à minha frente. Estamos no caos, embora tudo pareça ordenadinho. Esta escrita caótica faz todo o sentido. Já a tinha experimentado na "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro". Já só tenho dois euros no bolso. O Porto ganha em Coimbra. Continuo a guerrilha. Hoje vou às Musas e depois ao Pinguim. As musas vão tratar-me bem, vão cuidar de mim de modo a que eu chegue cheio de pedal ao Pinguim. No Pinguim espera-me uma plateia que não vejo há meses. A gaja come a torrada. A escrita é torrencial, vertiginosa, como já disseram. A folha está rasgada por causa da astronomia. Olho para as horas. São quase horas. O Everton eliminou o Manchester united. Já cá faltava. O outro empregado faz-se á boazona do quiosque. Isto só não vai para o poema. É preciso matar com as palavras. O governo de Israel é racista e fascista. O presidente do Irão tem razão, apesar de também não ser grande coisa. Na cimeira até houve porrada. Chega o Zé do Boné. O analista analisa a cimeira. Acho que perdi o poema da outra cimeira e do Tratado de Lisboa. Talvez ainda o consiga sacar do blogue. A gaja parte. O outro empregado varre e atira-se à boazona do quiosque. QUe fixe! Está sempre a dar-me material para a escrita. A leitura é fundamental para a escrita. Se não lês dificilmente consegues escrever bem. Afinal, todos os empregados se fazem à boazona do quiosque. Uns são mais subtis do que outros, é claro. E eu continuo a escrever para me sentir bem e para o caralho que seja. É uma escrita diarística mas caótica. Tem a sua piada. Não há dúvida. Mas não é bem isto que quero escrever. Eu quero escrever algo de sublime, algo que exalte o espírito, a divindade no homem. Os poetas deveriam ser pagos a peso de ouro como os futebolistas. Não sei em que é que o Ronaldo contribui mais para a felicidade da Humanidade do que eu. Marca uns golos, faz umas fintas e eu escrevo versos e outras merdas. Há alturas em que os meus versos e as minhas merdas empolgam mais as gajas e os gajos do que as fintas dele. Numa escala mais pequena, admito. Não sou Homero, nem Shakespeare, nem Pessoa, nem Nietzsche. Mas o "Zaratustra" do Nietzsche inicialmente só chegou a sete pessoas. O meu último livro, "Queimai o Dinheiro", já teve 15 compradores. Os poemas de Pessoa só foram conhecidos em larga escala anos depois da sua morte. Não me estou a comparar a ele, é claro. Estou apenas a analisar factos. As bolsas caem outra vez. O empregado fala das injustiças imensas do país. Este pessoal fala e só me dá matéria para escrever. A bondade chegou ao "Orfeuzinho". E eu tenho de ir embora.
Sunday, April 26, 2009
O OURO
Já não vinha à "Motina" ao domingo há algum tempo. A mesa das gralhas ao fundo. As conversas da vidinha. Como em Santa Comba Dão. O povo a festejar o Salazar. As gralhas levantam-se. O povo também tem culpa. O povo deixa-se levar com meia de treta. De gajos como o presidente da Câmara de Santa Comba Dão. E tantos outros Isaltinos, Avelinos, Valentins, Jardins, Fátimas, Rios, Macedos Vieira e todos os outros, quase todos os outros. Aliás, todos eles, presidentes, primeiros-ministros, autarcas, todos os imbecis que nos governam ou quase todos. Mas o povo deixa-se levar. Deixa-se levar desde que haja pão e circo. Pão e circo como em Roma. Como no Porto. Como em Vilar do Pinheiro. E a "Motina", de repente, esvaziou. O poder é perigoso. O poder embriaga, inebria. Chegou uma família. Pais, filhos e neta. O que faria eu se estivesse no poder? Nem quero pensar nisso. O poder não me interessa. Interessa-me derrubá-lo. É certo que um gajo tem um certo poder quando sobe ao palco, quando diz a palavra. O poder da palavra. É preciso saber usar esse poder. É preciso passar a mensagem. Ser curto e directo. Por vezes, pode-se rodear mais a coisa, a presa. Mas é preciso caçá-la. É preciso acertar no alvo. Saber tentá-la. Como a uma mulher. E a gaja ginga, balança. Mostra o cu e o umbigo. À frente do poeta. E o poeta escreve. Descarrega a líbido e a raiva. E fica, de novo, só. A família sai. Não sabe que já faz parte da História. Tal como a "Motina". O poeta começa a ficar muito conhecido em certos meios. Precisa de cortar a barba. Até o "emplastro" se colou a ele na praça. E a televisão nem sequer estava lá. O poeta precisa de mudar de cara outra vez. Outra vez mudar de cara. Como no teatro, como no cinema. Onde sempre estivemos, afinal. Como no assalto ao "Feira Nova". Como no derrube da estátua do major Mota. Como na agressão do "Clube 84". Com alucinações pelo meio. Estórias que ficam para o resto da vida. "Hasta Siempre, Comandante". "When The Music's Over, turn out the lights". "Eu escolhi a estrada certa". Andei a rodear muito a coisa, caí algumas vezes, mas agora estou mais perto. Sinto que estou mais perto do ouro. O ouro dos teus olhos. O Ouro da Idade. O ouro da liberdade. O ouro da revolução. O ouro da loucura.
Thursday, April 23, 2009
DE METRO À BORLA
Venho ao Gato Vadio e está vazio. Vou dar dinheiro a estes, como dizia um velho amigo meu. Antes dar dinheiro a estes. Sempre são companheiros, sempre são camaradas. Alto! Ouço vozes lá fora. Há gente lá fora. Que fiquem por lá. Ou então vou eu até lá. Não sei se tenho luz para escrever. Olha, afinal ouvi outras vozes. Que merda. Volto a ouvir vozes. Não te preocupes. Deve ser do "Encontro", o café ao lado. Venho de lá. E chega a Sara.
Depois põem-se a falar de astronomia e física. E eu fico calado. Não pesco nada. Mas lá vou ouvindo a estória do buraco negro e lembro-me das mulheres. Das forças de atracção e repulsão e lembro-me do sexo. Das explosões e implosões e lembro-me do Jim Morrison. Do "Big Bang" e lembro-me do Zaratustra. Mas nestas conversas um gajo sempre aprende alguma coisa. Sempre me dizem algo de novo. Estou farto da gentalha, das pessoas que nada me dizem de novo. Mas enfim, sempre é melhor rir do que chorar, sempre é melhor dar umas gargalhadas valentes do que morrer de tédio. Olha, hoje andei de metro à borla. A máquina flipou e os controleiros não me apanharam. O senhor transgride. Não se passa nada. Até o Benfica ganhou. Mas na viagem de volta carreguei o cartão. Não vá o diabo tecê-las. O diabo? quem é esse gajo? Nunca bebi copos com ele, tanto quanto sei, né? E eu já vi tanta coisa. Sei que Dionisos está de volta. Dionisos está em mim. No sexo, na dança. Agora já vai a caminho da Póvoa. Pode ser que volte a derrubar a estátua do major Mota. O que importa é ser um guerrilheiro, acertar no alvo. Andar sempre às voltas, rodear a coisa também faz parte da cena. Mas eu não vim ao mundo para organizar. Vim ao mundo para criar e destruir. Eu tenho de matar com as palavras. "Estamos fartos de tantos rodeios", cantou o meu amigo. "Estamos fartos de tantos rodeios, fartos de andar com o ouvido colado ao chão". Nós temos de matar com as palavras. E o metro, por coincidência ou não, pára em Custóias. Voltamos ao filme. Parece que está tudo escrito. Cada um segue a sua via. E eu sigo o caminho que conduz a mim mesmo, como Zaratustra. Faço associações de ideias e já estou em Esposende. Neste momento tenho a consciência de que estou na guerrilha. E a coisa arde, queima. Quase que me deixo levar até à Póvoa. Talvez ocupe a Câmara. Talvez a faça arder. Não sei. Perco-me todo. Faço-a arder com os meus olhos. Como-a, devoro-a como se fosse mulher. sabes, ainda sobra em mim uma réstia de disciplina. Guevarista, castrista, chavista, não sei.
Wednesday, April 22, 2009
DO XAMÃ
Depois de rever o "Control" para Ian Curtis e o "Last Days" para Kurt Cobain sinto-me não sei bem como. É a melancolia insolúvel do Curtis, são as alucinações do Cobain. Que grande pedra a ver televisão no Sábado. Identifico-me. Há a vida do palco, a pressão das digressões, dos concertos. Disso só conheço uma pequena parte. Há o auto-aniquilamento do artista. A angústia que ninguém compreende. Eu sinto-me lá em Curtis e em Cobain. O bipolarismo. A sociedade de que estamos distantes porque vemos para lá, temos visões. É isso o sublime, o ouro que atingimos e aque os outros não acedem. É isso. Conseguimos chegar à Idade do Ouro enquanto os outros permanecem na sociedade do rebanho. Não somos melhores do que eles mas vamos onde eles não vão. Vamos à floresta. Não chegamos lá todos os dias mas há mesmo dias, noites em que vamos do céu ao inferno. É essa a sina do Artista, do Poeta. E isso nada tem a ver com a crise, com o dinheirinho e o trabalhinho do comum dos mortais. Estamos para lá. Nada a fazer, minha rica. Somos danados, malditos por isso mesmo. O homem comum poucas vezes nos entende. "Custa-me deixar-te mas tu nunca me seguirias", cantou o Morrison. Também é a coisa do xamã. Que fica em transe. Que fala com os deuses e com os espíritos. Seja lá o que sejam os deuses. São isso as alucinações. De Curtis, de Cobain, de Morrison. E também as minhas. Aquelas vozes que ouço a caminho da loucura. Aquelas vozes que me chamam, que me conduzem. Há quem diga que é uma doença. Mas neste momento, neste momento não. Sinto uma estranha e firme lucidez. Uma lucidez de senhor. De senhor sem escravos, à maneira dos situacionistas. É a tal coisa da luz, do sublime. Dulcineia, já sabes agora o meu nome? Existe um mundo. Um mundo que não é o além dos cristãos, que não é o paraíso dos cristãos nem de Alá, nem de Buda. Existe um mundo dentro de nós que está para lá das normas, das convenções, do mercantilismo, da mercearia. É aquilo a que Henry Miller chama Deus. É isto que eu ainda não consegui transmitir nas entrevistas que me vão fazendo. E é esse mundo, o espírito livre, o super-homem de Nietzsche, que se revolta contra os mercadores e os banqueiros. Porque nada tem a ver com eles. Porque é feito de outra massa, pertence a outra tribo. Daí que as palavras "empresário", "investimento", "bolsa", "mercado" me causem tanta repulsa. Jesus Cristo não usava dinheiro, Sócrates não usava dinheiro. Os negócios dos homens passam-nos ao lado. O homem, o homem livre não foi feito para trabalhar mas para criar. Já dizia Agostinho da Silva. O homem livre não faz contas à vidinha. Isto não é necessariamnte racional. Vem de dentro. Do espírito, do coração, do sangue, das entranhas.
Friday, April 17, 2009
FARTO
Estou farto de velhos
estou farto de controleiros
apetece-me berrar loucamente
estou farto de ver os capitalistas empochar
estou farto de ver a vida imbecil que estamos a levar
estou farto de ver a cara dos políticos na televisão
estou farto das piadinhas dos humoristas
estou farto de boas maneiras
estou farto de coisas porreiras
estou farto de ouvir sempre as mesmas conversas
estou farto de pessoas néscias
estou farto das notícias do Telejornal
estou farto do comité central
de todos os comités centrais
estou farto dos gajos do futebol
só não me farto do rock n' roll
estou farto das conversas imbecis das velhas
estou farto do sorriso imbecil da empregada
estou farto de ver toda a gente atrás do dinheiro
estou farto de ser espectador
estou farto da sociedade espectáculo
estou farto de ver toda a gente alienada o dia inteiro
só não me farto dos bêbados
estou farto da União Europeia
estou farto da democracia burguesa
estou farto dos turistas e do Verão
e o Sócrates é um grande cabrão
estou farto desta gente que não se revolta
estou farto de andar às voltas
estou farto, farto, absolutamente farto
estou farto dos gajos do futebol
só não me farto do rock n' roll.
A RAIVA E A POSE
Escrevo para um blog que quase ninguém lê
publico livros que quase ninguém lê
envio artigos para jornal que não são publicados
recito poemas para meia-dúzia de gatos pingados
apesar de tudo mantenho a raiva
apesar de tudo mantenho a pose
estou-me a cagar para aqueles que não me batem palmas
estou-me a cagar para aqueles que não reagem
estou-me a cagar para os gajos que não gostam de mim
não quero saber se a minha poesia é ou não poética
não quero saber da lua, do sol e das estrelas
não quero saber de versos muito perfeitinhos
desde que mantenha a raiva
desde que mantenha a pose
NO PÁTIO (SEM TRIUNFO)
Para a Filó
Venho ao Pátio
e não sou recebido em triunfo
esperava abraços, palmas, ovações,
foguetes, honrarias
a celebrar o meu regresso
Mas nada
aqui sou apenas mais um
um cidadão comum
um viajante solitário
que vem beber uma cerveja
e se senta ao balcão
além de não haver aplausos
está o tédio instalado
e não conheço quase ninguém
não sei como vou permanecer
aqui toda a noite
se ainda, ao menos, tivesse
dinheiro para a borracheira
até a música repetitiva me irrita
desabituei-me dos bares
antes fazia a sua apologia
não sei como vou aguentar a noite
peço mais uma cerveja
talvez vá até ao mar
talvez me deite à beira-mar
-e entra um gajo sorridente-
bem sei que esta merda pode ser
um exercício poético magnífico
mas se não vierem os meus amigos
eu não vou aguentar
já é pouca a ligação com esta cidade
com este bar
o que me safa é que estou
com algum espírito aventureiro
não há ninguém para cravar uma cerveja
ainda se vêem umas caras bonitas
vou aguentar aqui até às tantas
poderia apanhar o metro
e ir para casa dormir
mas também não me apetece
ir para casa
ontem passei a tarde na cama
fico pior quando faço essa merda
e a cerveja está a acabar
os amigos não vêm
nem estão lá fora
- e entra o artista
que apareceu no jornal-
até há uns gajos que vêm aí
que escreveram umas coisas sobre mim
mas eu não os conheço
A Filó viu-me só e ofereceu-me
uma cerveja
as coisas estão a melhorar
e o outro camarada agarrado às notas
e o mundo inteiro agarrado às notas
é quase meia-noite
os amigos não vêm
e o álcool circula
e o anarco-registador não está
nem o anarco-moralista
e o "Poeta a Mijar" já não está exposto
talvez se tenha vendido
ainda se vendem os meus livros
Dizem que isto é um espaço alternativo
mas eu estou cheio de tédio
desabituei-me dos bares
só vou ao Púcaros às quartas-feiras
mas aí é porque descarrego poesia
mas aí é porque faço terrorismo poético
e passo mensagens subversivas
podia falar com a Filó
mas ela anda a tirar cervejas
e também não sei o que lhe iria dizer
coisas banais, talvez
também há uma antiga colega minha
que escreve para o jornal que está
à minha frente- a Teresa
nunca mais serei jornalista
na verdade, tenho algumas saudades
tinha dinheiro para os copos
apanhava borracheiras
não ia trabalhar de manhã
Ai! A Teresa loirinha
tão linda que era
casou com um jogador de futebol
teve filhos
divorciou-se, enfim,
o Pátio não me atrai
e os amigos nunca mais vêm
estou a escrever mais um texto genial
e de merda para ler no Púcaros
e para colocar no blog que 3 ou 4 gajos lêem
-entra o John Lennon com a família-
uma gaja pede um porto
grande exercício poético
mas tudo o resto é tédio
excepto a Filó
vou mesmo dormir à praia
a cerveja circula mas não para mim
todos têm dinheiro excepto eu
e começo a empancar
às vezes parece que funciono a cerveja
deveria ter ido para casa
os livros estão cá mas o livreiro não
de qualquer maneira, já escrevi
como o caralho
já não sou o cidadão comum
a verdade é que não consigo ficar alegre
sorrir para toda a gente
nem tenho sempre aquela observação a propósito
nem a piadinha do momento
vim ao Pátio escrever um poema épico
não tenho aplausos, ovações, honrarias
não saio daqui em ombros
isto é o que consigo escrever agora
qualquer coisa entre a merda e o sublime
qualquer coisa de imparável
qualquer coisa que levante a nação.
Pátio, Vila do Conde, 26/27 Julho 2008.
MAR
Estou junto ao mar
e é de madrugada
as ondas lambem a praia
e eu sinto-me um rei
sentado na areia
era bom que fosse sempre assim
um mundo sem dinheiro
sem espectáculo e sem mercadorias
só as ondas a bater nas rochas
e a natureza tal como ela é
e eu a escrever sentado na areia
a música disto tudo
a redenção
estou curado
o mar curou-me
só me falta uma sereia.
Thursday, April 16, 2009
O REGRESSO DO ROCHA
A TV vomita concursos imbecis e caras bonitas
o empregado demora a trazer-me o fino
as gajas riem-se
o primeiro-ministro é um vigarista
o empregado trouxe-me o fino
o "dragão" foi derrotado
já não há "dragões" em todo o lado
a gaja da TV é bonita
os bancos estão cheios de ladrões
o rock n' roll rola
a TV vomita concorrentes
o gajo chato ainda não deu sinal de vida
a gaja prefere o Malato ao Jorge Gabriel
a Gotucha bebe chá com mel
o primeiro-ministro é um robot e um ditador
o Do Vale saúda-me ao longe
os concorrentes dão o cu e a pele
por uns trocos
as gajas levantam-se
o poeta toma notas
o poeta está feliz
vai voltar a ser publicado
as revistas trazem gajas boas
os concorrentes guerreiam-se no ecrã
ainda não chegou ninguém conhecido ao "Piolho"
a gaja pede licença
os concorrentes rebentam
o poeta vai ao "Púcaros"
há duas semanas que não vai lá
o Do Vale sentou-se em frente à televisão
ainda não fez o habitual elogio á monarquia
mantém-se em silêncio para variar
a gaja inglês
inglês foi o naufrágio do "dragão"
olho para as horas
horas ainda não são
entram dois "dragões"
discutem as agruras do jogo
há sempre gente a entrar
celebra-se a noite
as mamas rolam
e chega o Rocha.
Tuesday, April 14, 2009
A GAJA MOSTRA O FIO DENTAL
Regresso à "Motina". Parece que não estou com o pedal de ontem. O gajo nunca mais acaba de ler o jornal. A MAria agarra-se á caixa registadora. O gajo agora aponta endereços de empregos. A mim nenhum me serve. Não estou desempregado. Sigo as palavras de Agostinho da Silva. Talvez consiga fazer alguma coisa com os gajos do teatro. Sou um artista. Estou registado nas Finanças como artista. Há uns diálogos que publiquei nas "Aguasfurtadas" e na "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro" que podem ser aproveitados. O gajo finalmente largou o jornal. Entrou uma gaja. Bebe um carioca. Atiro-me ao jornal. A gaja mostra o fio dental. Quando voltarão a publicar qualquer coisa sobre mim? Não deixo de ser narcisista. A gaja mostra o fio dental e provoca-me. As gajas falam baixo. Che na guerrilha abandonado pelo partido, traído pelos camponeses. Che romântico, Che D. Quixote. Abandonar todos os cargos, todas as comodidades para ir fazer a revolução noutras paragens. E a gaja continua a mostrar o fio dental. A imensa generosidade do guerrilheiro. Será que a gaja não se apercebe de que se está a mostrar tanto? O povo invade a confeitaria. A gaja continua a mostrar o fio dental. Amanhã vou ao "Púcaros" após duas semanas de ausência. Vendem-se bolos. A gaja continua a mostrar o fio dental. Já li o jornal. A queda da inflação pode agravar a crise. Ainda é cedo. Sentado na "Motina" preencho as horas. A gaja levanta-se. Lá se foi o fio dental. Resto eu e a Maria. A "Motina" quase deserta. Os outros trabalham, fazem pela vida. Eu limito-me a vir para aqui escrever e ler. A relatar o que vejo e a inventar coisas. Depois de uma tarde de deboche vem uma tarde rotineira. As barbas crescem. As horas passam. Este ano vou ao 25 de Abril. Desfilar na baixa. A bandeira nacional espetada na madeira. Ainda bem que aqui não há televisão. Não tenho de aturar os programas imbecis da tarde. Homem que escreve sem disciplina nem objectivos. O caderno vai-se preenchendo. A namorada telefona. Fala de projectos, sessões públicas. Começo a pensar num novo livro. Mas ainda tenho o "Café Paraíso". Ainda não o enviei para a &etc. Há também o Luís Filipe Cristóvão que não fechou a porta. Às 5 recomeço a ler. "Por Amor a Che". O lado feminino das coisas. Fui mijar. Espirro. Não estou na "Brasileira" nem no "Piolho". O ambiente não é o mesmo. A casa é pequena. Há sossego. Demasiado sossego. "A vida vai torta/ jamais se endireita", cantam os Xutos. Preciso de companheiros, dispenso o rebanho. Esta coisa de andar sem trabalho torna-nos diferentes dos outros. Não temos as mesmas preocupações. Temos outras. Peço outro café.
SAUDAÇÃO NAZI À DOUTORA MARLENE
A praxe persiste com rituais, normas fascistas. Saudação nazi à doutora Marlene. E eu assisto nas redondezas do "Piolho". Há uns anos intervinha. Pronunciava-me directamente, redigia manifestos, organizava movimentos. Mas estamos em Abril. Os putos curtem ser humilhados. E eu observo, constato. Venho de Famalicão. Amei. Estou em estado de graça. As barbas ao espelho. Nas escadas quase provocámos o escândalo. Aqui não vejo amigos nem conhecidos. Volta a velha vida. O cacau só dá para um fino. É certo que é a quantidade recomendada pela nutricionista. Mas sabe a pouco. A gaja tapa as mamas. O Trofense perde mas recupera. O Rocha não está aqui para comentar. Os gajos da praxe entram e saem. O fino chegou ao fim. Que vai ser de mim? Até poderia ir ao Pinguim. Quase de certeza arranjaria guarida. Mas não vou. Entra um chouriço. A menina bonita recebe prendas. Estou no "Piolho" e permaneço triunfal. Há gajas bonitas e gajas feias. Há pontapés para o ar. Esta é ainda a primeira página do novo caderno. Novinho. A estrear. Trofense,1 Nacional,2. Final emocionante.
Friday, April 10, 2009
VENHO À CONFEITARIA E COMO BOLOS
Venho à confeitaria e como bolos
o que contraria as recomendações da nutricionista
mas que diabo viria eu fazer à confeitaria
se não comesse bolos?
A verdade é que tenho de perder peso
corro riscos cardio-vasculares
há dias em que a morte até é bem-vinda
mas há outros em que queremos viver
desesperadamente
mesmo que os dias não tragam grande coisa.
O HOMEM PEQUENO
Olha, apareceu o homem pequeno. Bebe 7up e come um bolo de arroz. O homem pequeno e a mulher grande. Que belo par. O homem pequeno pensa pequeno, só pensa no seu sustento. O homem pequeno levanta-se. É realmente pequeno. Perde-se em intrigas. Faz contas de mercearia. É submisso perante os chefes e tirano face aos danados. O homem pequeno luta por lugares, leva uma vida mesquinha. O homem pequeno anda atrás do dinheiro. O homem pequeno não tem grandeza.
Thursday, April 9, 2009
Tuesday, April 7, 2009
EM BRAGA
Em Braga. De novo. Com a Gotucha a descansar da viagem. Desta vez estarei cá por poucos dias. A TV passa um jogo que ninguém vê. E eu bebo cerveja. O Rocha continua incomunicável. Em Braga. De novo. A última vez saí daqui a delirar. A Gotucha preocupada. Hoje não vou ao "Púcaros". Faz-me bem uma pausa. AQuilo no "Púcaros" começa a tornar-se repetitivo. E a noite vai caindo. O André começou a trabalhar e eu também não. Talvez os jornais peguem em alguma coisa. Há sempre a esperança. Aquela coisa de queimar a nota talvez constitua um chamariz. Sinto-me bem. Embora não escreva nada de excepcional. Até o presidente da Junta me cumprimenta. O episódio do vidro já foi há muito tempo. Aquele ataque à pedrada memorável. Os da Cãmara da Póvoa é que continuam fodidos comigo. Aí nada há a fazer. É o major e o Povoaonline. O Vasques contou-me muitas coisas que eu não sabia a propósito do Joaquim Castro Caldas. Por onde andas, Joaquim? Por onde andas, Jaime? Estou a dez anos da idade crítica. Talvez não passe daí. A Gotucha foi compreensiva. Disse-lhe a coisa e fiz bem. Podia dar faísca. O futebol já chateia. O café vazio. Nada de novo nos jornais.
O MEU MUNDO
A Maria corta fiambre
a Teresa lê o jornal
os homens falam de tijolos
e eu olho para o sol
a Teresa é gorda
quase rebenta
os homens agora falam de escadas
os putos entram na confeitaria
Que puta de conversa desinteressante
têm os homens!
Quase me deixam mal-disposto
os putos pegam nos bolos
e sentam-se á mesa
os homens continuam a aborrecer-me
é o que dá essa conversa das empresas
sou visceralmente anti-capitalista
só de ouvir as palavras fico fodido
o meu mundo é este mas não é
o meu mundo é o da liberdade
sem empresas, sem mercado, sem dinheiro
o meu mundo é este e não é.
Alguns problemas mas a barca prossegue viagem. Como na "Viagem do Elefante" de Saramago. A net não funciona. Nem em casa nem no café. Amanhã vem a Gotucha. Não posso ser monótono na sexta. Já o disse. Há uma parte de mim que está a caminho do paraíso. Uma parte de mim que cria, que joga com as palavras, que está para lá das normas, das convenções, da rotina. Estou só mas estou bem. Já o disse. Venho á confeitaria e está sol. Por enquanto, nada me deita abaixo. Espero que na sexta não surjam problemas. O bigodes presta vassalagem à caixa registadora e pede um bolo.
Monday, April 6, 2009
ISTO NÃO PODE SER
Isto não pode ser mais a alienação
isto não pode ser mais a competição
macacos a trepar sobre macacos
em busca da banana
isto não pode ser mais a morte
o servilismo perante um deus
chame-se ele dinheiro, mercado, economia
isto não pode ser mais a ditadura das maiorias
da massa imbecil que não pensa
e rejeita o espírito livre
isto não pode ser mais a sociedade-espectáculo
que nos reduz à condição de espectadores
sem intervenção na vida
isto não pode ser mais a sociedade do rebanho
macacos à cata do lucro, á cata do ganho
ao serviço dos economistas e dos contabilistas
isto não pode ser mais a sociedade do banco e da bolsa
macacos-número, macacos-percentagem,
macacos-mercadoria
macacos a sacar, a aldrabar
a trepar sobre outros macacos
em busca da banana
isto não pode ser mais assim
a sub-vida
o sub-homem
o homem pequeno
a vitória da morte.
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