Wednesday, April 22, 2009

DO XAMÃ


Depois de rever o "Control" para Ian Curtis e o "Last Days" para Kurt Cobain sinto-me não sei bem como. É a melancolia insolúvel do Curtis, são as alucinações do Cobain. Que grande pedra a ver televisão no Sábado. Identifico-me. Há a vida do palco, a pressão das digressões, dos concertos. Disso só conheço uma pequena parte. Há o auto-aniquilamento do artista. A angústia que ninguém compreende. Eu sinto-me lá em Curtis e em Cobain. O bipolarismo. A sociedade de que estamos distantes porque vemos para lá, temos visões. É isso o sublime, o ouro que atingimos e aque os outros não acedem. É isso. Conseguimos chegar à Idade do Ouro enquanto os outros permanecem na sociedade do rebanho. Não somos melhores do que eles mas vamos onde eles não vão. Vamos à floresta. Não chegamos lá todos os dias mas há mesmo dias, noites em que vamos do céu ao inferno. É essa a sina do Artista, do Poeta. E isso nada tem a ver com a crise, com o dinheirinho e o trabalhinho do comum dos mortais. Estamos para lá. Nada a fazer, minha rica. Somos danados, malditos por isso mesmo. O homem comum poucas vezes nos entende. "Custa-me deixar-te mas tu nunca me seguirias", cantou o Morrison. Também é a coisa do xamã. Que fica em transe. Que fala com os deuses e com os espíritos. Seja lá o que sejam os deuses. São isso as alucinações. De Curtis, de Cobain, de Morrison. E também as minhas. Aquelas vozes que ouço a caminho da loucura. Aquelas vozes que me chamam, que me conduzem. Há quem diga que é uma doença. Mas neste momento, neste momento não. Sinto uma estranha e firme lucidez. Uma lucidez de senhor. De senhor sem escravos, à maneira dos situacionistas. É a tal coisa da luz, do sublime. Dulcineia, já sabes agora o meu nome? Existe um mundo. Um mundo que não é o além dos cristãos, que não é o paraíso dos cristãos nem de Alá, nem de Buda. Existe um mundo dentro de nós que está para lá das normas, das convenções, do mercantilismo, da mercearia. É aquilo a que Henry Miller chama Deus. É isto que eu ainda não consegui transmitir nas entrevistas que me vão fazendo. E é esse mundo, o espírito livre, o super-homem de Nietzsche, que se revolta contra os mercadores e os banqueiros. Porque nada tem a ver com eles. Porque é feito de outra massa, pertence a outra tribo. Daí que as palavras "empresário", "investimento", "bolsa", "mercado" me causem tanta repulsa. Jesus Cristo não usava dinheiro, Sócrates não usava dinheiro. Os negócios dos homens passam-nos ao lado. O homem, o homem livre não foi feito para trabalhar mas para criar. Já dizia Agostinho da Silva. O homem livre não faz contas à vidinha. Isto não é necessariamnte racional. Vem de dentro. Do espírito, do coração, do sangue, das entranhas.

3 comments:

Claudia Sousa Dias said...

"Custa-me deixar-te mas tu nunca me seguirias", cantou o Morrison.

Isso não existe, Pedrinho.

Se queres deixar alguém, deixas e pronto.

Seja quem for.

Ninguém fica com ninguém contra vontade.

Eu simplesmente, recuso-me a que assim seja.Que alguém esteja comigo contra vontade.

se a pessoa se sente etrangulada corta as amarras levanta voo e parte.

sem olhar para trás.

CSD

A. Pedro Ribeiro said...

bem, bem...não sei.

A. Pedro Ribeiro said...

O Jim não se estava a referir necessariamente às relações amorosas. Acho eu.